A paisagista Lilian Ciconhini fala sobre paisagismo em Angola

Autor: Anita Cid - Data: 28/10/2010

Paisagista Lilian Ciconhini

Lilian Cristina Ciconhini é graduada Arquitetura e Urbanismo com ênfase em Projetos e Construções Comerciais. Atuante na área de Elaboração de Projetos e Gerenciamento de Obras de pequeno a grande porte. Reside em Angola desde 2002.

AuE Soluções: Atualmente você reside em Angola. Quais as principais diferenças entre paisagismo no Brasil e em Angola?

Lilian: Estou em Angola desde 2002 e atualmente vivo em Luanda, capital do país. Praticamente não existem muitas diferenças entre Brasil e Angola no que se refere ao paisagismo, o clima dos dois países são muito parecidos, então facilita a adaptação das plantas na região. Poderia dizer que a diferença entre fazer paisagismo aqui (Luanda-Angola) e no Brasil seria a dificuldade que encontro na aquisição das plantas, pois tudo que preciso nem sempre encontro a disposição. Para a execução de um jardim muitas vezes tenho que fazer importação, o que dificulta um pouco, pois as vezes tenho que contar com atrasos e perda de material no trajeto Brasil - Luanda. Neste momento Angola vem investindo e incentivando na produção de espécies, já existem aqui alguns hortos muito bem estruturados, mas o custo-benefício ainda não é favorável, ou seja, fazer um jardim aqui não sai barato.

AuE Soluções: Como é o clima na região que você atua?
Quais são os cuidados que devem ser tomados levando em consideração as alterações climáticas?


Lilian: O clima é quente e úmido, muito parecido com algumas regiões do Brasil. Aqui praticamente não tem alterações climáticas, Angola tem apenas duas estações no ano, verão e cacimbo (nome dado em Angola à estação "seca" (sem chuvas) que decorre de maio a agosto). Portanto uma boa dose de nutrientes, adubo e irrigação já é o suficiente para o desenvolvimento das plantas.

Como é a biodiversidade em Angola? Você prima por espécies nativas em seus projetos de paisagismo?

Lilian: Segundo o alerta dado pelo Ministério do Ambiente, a biodiversidade em Angola se encontra quase no risco de desaparecer, isso devido a poluição dos mares e caças furtivas. Acredito que a recuperação dos espaços urbanos através do paisagismo nos permita colaborar com o desenvolvimento de várias espécies de plantas nativas, além colaborar com a sobrevivência de insetos e animais. Estas plantas irão servir de alimento para a fauna local, de forma que também ajudarão na manutenção da mesma, diminuindo talvez seu desaparecimento.
Sempre que tenho oportunidade e o projeto permite, faço questão de usar plantas nativas, pois além delas ajudarem na sustentabilidade do jardim e precisarem de menos nutrientes ou irrigação, elas já estão adequadas às características específicas do clima. Elas também trazem outros benefícios como referência cultural e ajudam na perpetuação das espécies que em ambientes naturais já têm seu próprio ciclo. Acredito que se nós, de alguma forma pudermos contribuir com a preservação do meio ambiente já é um passo positivo que damos no sentido de melhorar nosso planeta.

AuE Soluçõs: Como sua "bagagem cultural" brasileira influencia seus projetos de paisagismo?

Lilian: Angola é um país que foi colonizado pelos portugueses e, portanto, tem muita influência deste outro país no que se refere a tendências, costumes e cultura; é impossível se adaptar a outro lugar sem viver seu dia-a-dia, principalmente sua cultura. Apesar desta influência portuguesa, Angola segue muito o estilo brasileiro, muito em função do mesmo clima tropical além de uma forte influência das novelas brasileiras. Existe uma afinidade muito grande com o que é usado no Brasil. A minha bagagem cultural só acrescentou com aquilo que os angolanos já adotaram como um estilo de vida. Influências não são regras, mas hábitos que você acaba adotando para sua vida. No meu caso, certamente essas influências acabam tendo a nossa cara, já que a bagagem cultural também entra em ação. Foi muito recompensador para mim, implantar idéias, sugerir inovações vindas de outras experiências e de outros costumes. Eu sempre procurei aplicar o paisagismo para melhorar tanto a estética, quanto a funcionalidade, segurança, conforto e privacidade dos ambientes.

AuE Soluções: Como o paisagismo pode ser um importante fator de recuperação e preservação ambiental?

Lilian: A falta de planejamento nas grandes cidades leva a uma mudança brusca no ciclo natural da fauna e flora e dos recursos naturais, gerando uma série de problemas ambientais. A falta de áreas verdes é um exemplo disso, portanto criando cada vez mais áreas verdes, espaços urbanos, planejando a cidade de forma correta e ordenada, o paisagismo pode sem dúvida promover a renovação e recuperação de áreas degradadas e se tornar desta forma uma importante aliada à proteção e preservação do meio ambiente.

AuE Soluções: Como o paisagismo pode contribuir para a qualidade de vida das pessoas? Isso acontece em Angola?

Lilian: Sim, e cada vez mais é evidente que isso acontece em Angola. Luanda, por exemplo, é uma cidade a beira mar, tem muitas praias, por si própria já tem um cartão postal por natureza, mas com a guerra ela perdeu praticamente quase todos os espaços de áreas verdes naturais. Neste momento, o país passa por uma reconstrução pós guerra, procurando de alguma forma recuperar e recriar esses espaços que se perderam. A construção civil se encontra em pleno vapor e a construção de novos espaços urbanos e a recuperação de outros vêm tendo papel importante para a melhoria da qualidade de vida dos angolanos, transformando a paisagem desses em locais nos quais as pessoas vão correr, pedalar ou simplesmente caminhar em meio a um ar mais puro e sombras agradáveis, esquecendo da correria da cidade e claro proporcionando a estas pessoas uma maior e melhor qualidade de vida. Não só o paisagismo esta sendo estruturado, mas sim o plano diretor da cidade, o urbanismo de uma forma geral.

Eu acredito que o paisagismo é responsável pela melhoria da qualidade de vida das pessoas, não importando o lugar ou a dimensão que ele possa ter. Estar próximo ao verde traz uma sensação imediata de paz e aconchego, e sem dúvida isso contribui muito ao crescimento do país. A paz deve ter prioridade aqui e se o verde pode proporcionar isso já é indiscutivelmente um dos maiores benefícios que o paisagismo pode trazer a essas pessoas.

AuE Soluções: Como o PhotoLANDSCAPE lhe auxilia no seu dia-a-dia profissional? Quais as principais vantagens do software?

Lilian: Muitas vezes o cliente necessita mais do que uma simples planta baixa para poder entender e visualizar o resultado final do que possivelmente venha ser o seu jardim. Desta forma, apresentar imagens fica mais fácil para o cliente perceber o projeto e fica muito mais satisfeito com o resultado final. Através do programa eu consigo dar uma noção mais realista do espaço e uma das grandes vantagens é que além de ser muito fácil de manusear, o PhotoLANDSCAPE é também muito rápido. A qualidade do resultado final é impressionante.

AuE Soluções: Dentre os projetos que você realizou, qual deles você destacaria?

Lilian: São dois os projetos que destaco: o primeiro é uma área muito íngreme e totalmente degradada, se trata de uma residência em uma encosta na praia de Sangano. Um trabalho bastante complexo. O solo e a água tiveram que ser tratados para a retirada do sal e no terreno teve que ser feito cortes de forma a trabalhar com taludes. O resultado final ficou muito interessante devido aos materiais utilizados. Nos taludes foram colocados pilares de eucalipto tratado para conter as terras e com isso deu um movimento interessante no jardim. Ficou muito harmonioso o resultado final.

Projeto de paisagismo em uma residência na praia de Sangano



O segundo paisagismo é de uma casa em um condomínio fechado onde o terreno era de esquina propiciando um melhor resultado no jardim. Procurei seguir linhas retas e modernas para compor com a arquitetura da casa, afinal o paisagismo tem que ter certa simetria e conjugar com o partido arquitetônico da residência. Tem que ter o mesmo estilo. O cliente ficou muito satisfeito com o resultado final e isso é o mais importante pra mim, executar um trabalho no qual ambas as partes saiam realizadas.



Veja o projeto feito com PhotoLANDSCAPE e outras fotos.


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eBook: Planta baixa técnica x Planta humanizada em paisagismo

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1 - Autor: Renato Breuel Gonçalves - Data: 23/09/2016 15:57:06


Boa Tarde Lilian

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Agradecemos sua atenção e nos colocamos a disposição

Atenciosamente,



2 - Autor: mauricio dias ramos - Data: 12/02/2014 18:01:42

Adorei seu trabalho em Angola, fiz alguns trabalhos também lá em 2010 no bairro do Talatona em vários condomínios se puder me contatar agradeço de coração.Estou a sua disposição em relação a novos projetos.



3 - Autor: lilian - Data: 16/08/2012 14:42:06

ola siumara meu email é ciconini@hotmail.com me mande uma menssagem, grata



4 - Autor: siumara - Data: 06/07/2012 07:35:48

Oi Liliam, gostei do seu trabalho e gostaria ter seu email de contato, porque eu estou contruindo uma reidencia, apesar de ser muito pequeno o espaço, gostaria de ter um cantinho verde bem planeado.



5 - Autor: lilian ciconhini - Data: 09/07/2011 12:04:25

quero agradecer a todos que fizeram comentarios sobre a minha entrevista, obriada pelos elogios e apoio, agradeco a todos pelo interesse.



6 - Autor: Flávio - Data: 21/03/2011 08:19:07

Ola. Parabéns! Fico muito feliz de ver minha conterrânea fazendo historia por esse mundo a fora. Mas vindo de ti, só poderia dar nisto, sucesso. Abraços, Flávio



7 - Autor: mauricio dias ramos - Data: 09/03/2011 20:48:50

Oi Lillia cheguei de Luanda a duas semanas e percebi que vc esqueceu de falar sobre o solo de Luanda que é bem ácido e com poucos nutrientes, as plantas sempre terão flores vermelhas ou amarelas, devido a temperatura local, mas adorei seu trabalho, também sou paisagista e ambientalista e sofri em ver o descaso com o lixo, abração e parabéns.



8 - Autor: Luid - Data: 15/02/2011 22:23:31

Achei ótima a matéria e gostei mais ainda das boas respostas da paisagista Lilian ciconhinini o que mostra sua grande bagagem cultural, entendimento do assunto e principalmente preocupação com a biodiversidade africana. O que mostra que ela é diferente das outras arquitetas, sua preocupação com o ambiente, seu bom gosto e sua experiência no Brasil se refletem no seu ótimo trabalho. Além disso Lilian mostra claramente sua garra e o bom sucesso no país africano, produto do seu bom trabalho, muito bem sucedida na áfrica espero que outros brasileiros que tenham coragem e vontade de alcançarem o pico do sucesso se espalhem pelo mundo e mostrem sua qualidade técnica, e se feito bem terá um ótimo resultado.



9 - Autor: Simone - Data: 07/02/2011 16:52:00

Adorei o artigo! sou engenheira florestal, e comecei a trabalhar com paisagismo, mas infelizmente tive que parar! Agora tenho a oportunidade de um emprego em Angola. Comecei a pesquisar sobre o país e por curiosidade procurei sobre paisagismo... legal saber que há brasileiros trabalhando com isso. E principalmente compartilhando informaçoes que a principio sao bem dificeis de se achar! boa sorte p/ vc ai. E quem sabe logo estarei em Angola tb!!! só nao sei a regiao ainda.



10 - Autor: José Deodato Peixinho Filho - Data: 27/11/2010 20:09:16

Lilia, procure uma basileira que tambem esta em Agola, Carla é o nome (carlinhabb@hotmail.com.br)



11 - Autor: Noemia - Data: 18/11/2010 17:26:30

Muito bom e proveitoso seu artigo,mas me chamou atenção por dois motivos primeiro porque estou muito interessada em paisagismo e segundo porque morei no Zambia por 3 anos voltei de lá 4 meses, sinto uma enorme saudade. Adorei o tempo em que morei lá. Parabéns voce esta fazendo um excelente trabalho. Um abraço.



12 - Autor: maria martha corrêa de Cerqueira - Data: 17/11/2010 17:31:11

Nossa achei o artigo muito bom, não sei muito sobre a Angola mas deve estar sendo investido muito nas condições de urbaniosmo e paisagismo, adorei saber que tem muitos brasileiros trabalhando lá, abraços Martha



13 - Autor: joao José Ceregeiro - Data: 17/11/2010 10:14:35

Parece-me um bom artigo, Angola é um país cheio de possibilidades existe um enorme trabalho realizado do ponto de vista técnico que se encontra disperso e não reeditado sobre a flora, geologia, hidrografia, entre outros, e em riscos de se perder. Seria de todo o interesse haver entre Portugal e Angola uma pesquisa sistemática desse material e a sua aplicação prática




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