Doenças em árvores ornamentais: em Portugal, especialista explica a raíz do problema

Autor: Camila Fonseca - Data: 01/12/2011

plantar árvores e espécies de seu gosto pode ser uma atividade prazerosa. Mas saber como fazê-lo, além do cuidado com a mesma, é primordial para sua vida útil e saudável. O Professor Auxiliar da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Doutor em Ciências Florestais, com especialidade em Patologia Florestal, Luis Miguel F. P. Martins, explicou alguns aspectos importantes para manter o cuidado de plantas e árvores ornamentais, objeto de seu estudo.


AuE Soluções: Qual é sua especialidade, explique quais são as principais doenças que afetam as plantas - sejam elas nativas ou não.

Luis Martins: Além das actividades lectivas, tenho desenvolvido diversos trabalhos de investigação relacionados com a Protecção Florestal, como estudos relativos à monitorização do declínio do castanheiro e forma a minimizar esse mesmo declínio (Castanea sativa). Na extensão, parte do meu contributo tem sido no diagnóstico de diversos problemas e processos de recuperação, em povoamentos florestais ou em árvores ornamentais, tanto para entidades públicas como privadas.

AuE Soluções: Como a planta deve ser cuidada para evitar essas patologias? Tudo tem a ver com ambientação, armazenamento, rega?

Luis Martins: Falando das árvores ornamentais, a maioria dos problemas que surgem tem que ver com:

1.Questões de projecto; isto é, escolha incorrecta da árvore para determinado local;
2.Erros técnicos na instalação da árvore;
3.Condução desadequada;

Dos três pontos em cima destacaria o terceiro, sobretudo devido às podas incorrectas. Frequentemente as árvores como tílias, plátanos ou carvalhos, atingem dimensões incomportáveis para determinado local (devido à escolha errada - ponto 1), e envereda-se por podas perfeitamente radicais que não evitam o crescimento em altura e aumentam substancialmente a insegurança da árvore.
A seguir são apresentadas algumas imagens de árvores ornamentais. Os problemas referidos são muito comuns no espaço urbano de Portugal.


Erro de projecto devido ao reduzido espaço destinado à árvore e excessiva impermeabilização do local. Esses erros levaram à mortalidade de muitos carvalhos e grande dificuldade de recuperar o local.


Erro de condução. A Cavidade numa tília provocada por uma poda excessiva. O cancro e cavidade tiveram origem na remoção do eixo central da árvore

AuE Soluções: Quais são os sintomas que elas apresentam, e como identificá-los?

Luis Martins: Os sintomas são os mais diversos, dependendo das causas. Quando falamos em árvores ornamentais, a nossa principal preocupação é a segurança de pessoas e bens. Há, pois, sintomas que devem ser tidos em maior atenção, sobretudo aqueles que se relacionam com a segurança estrutural da árvore. Podemos considerar tanto as fragilidades relacionadas com as raízes, como com o tronco ou ramos estruturais.


"Requalificação" de um jardim com gasto de verbas públicas, cuja poda incorrecta acabou por aumentar o declínio dos plátanos e diminuição da sua longevidade.


AuE Soluções: É verdade que os fungos são os que mais afetam as espécies da flora?
Luis Martins: Os fungos têm características que lhes permitem ser pioneiros na colonização de substratos difíceis de ser aproveitados por outros seres vivos. A presença de fungos como origem de patologias nas árvores é a excepção e não a regra. Assim, os fungos são, na maioria das vezes, apenas agentes oportunistas de uma determinada condição de fragilidade da árvore. Geralmente não são a causa, mas a consequência de diversas. Claro que os fungos contribuem para acelerar o declínio e são, por isso, confundidos como a consequência ou como a causa de um dado efeito (sintoma).
Dentro da grande panóplia de fungos que podem enveredar pela via parasítica há alguns que são mais agressivos para a árvore - como Phytophthora cinnamomi , por exemplo. Quando as populações destes agentes patogénicos atingem níveis elevados, aí o fungo já pode ter uma acção importante mesmo em infecções nas árvores em condições adequadas.


Poda excessiva que derivou de um erro de planeamento. As árvores acabaram por ser retiradas pois não resistiram a esta intervenção.



AuE Soluções: Quais são as medidas profiláticas a serem tomadas?
Luis Martins: Quando falamos em árvores ornamentais, o importante é sobretudo prevenir. Isso passa pelo projecto que preveja condições e espaço adequado à árvore, a escolha correcta da planta e a sua condução; tendo em conta a dinâmica destes seres vivos notáveis.
Quando surgem problemas e em termos globais, não é possível responder ,pois há condições de agressividade muito diversa. Antes de mais, entenda-se que a árvore tem mecanismos de defesa muito eficazes. É por isso necessário perceber se esses mecanismos estão a intervir de forma adequada. Depois, é relevante compreender o dinamismo destes seres vivos (árvore e agentes patogénicos) e avaliar sobre a segurança da árvore.


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1 - Autor: JOSÉ LUÍS - Data: 30/10/2014 14:49:58

Dr. Luis Miguel, boa tarde. Sou do Brasil. Tomo a liberdade de encaminhar-lhe esta mensagem por desconhecer algum engenheiro florestal aqui na região de Vacaria/RS. Tenho exemplares de Acer plantados no quintal de casa (diversas espécies), com a média de nove anos de idade e 3 a 4 metros de altura. Este ano, na primavera (brotação), estou tendo um problema com o Acer Palmatum Dissectum Seiryu, que brotou espetacularmente, mas logo as folhas ficam marrons, amolecidas e caem. Tomou conta de todos os galhos da árvore. Suspeito que poderia ser os cães da casa que deixaram algumas raízes expostas ao cavarem a terra em volta (acho pouco provável), ou algum fungo que esteja vindo pela seiva, já que não notei a presença de parasitas na parte externa e folhas da planta. Ou folhas queimadas pelo sol forte (nunca aconteceu). Há quinze dias pulverizei nutrientes com sulfato de cobre e coloquei uma boa quantidade de terra preta nas raízes expostas, além de adubo NPK e uréia. Não estou obtendo resposta. Se não for importuná-lo com a consulta, o que poderá ter acontecido? Vou perder a árvore que plantei em muda? Grato.


AuE Responde: Esta entrevista foi feita em 2011, vamos tentar contactar o Dr. Luis Miguel para ajudá-lo



2 - Autor: Pedro Mergulhão - Data: 02/01/2012 12:01:59

Ótima matéria, vemos que o problema da falta de planejamento e seriedade no que diz respeito à arborização urbana não é só privilégio do Brasil, mas também de Portugal.



3 - Autor: Bruno Meirelles - Data: 01/01/2012 18:53:16

Muito bom! Não há receitas para nada, há que analisar cada situação por si só.



4 - Autor: Gildete - paisagista - Data: 26/12/2011 22:58:58

Falou, falou e não disse nada. A partir da reportagem alguém conseguiria plantar a árvore certa no lugar certo e cuidar a contento?????


AuE Responde: Cara Gildete,

Para saber mais detalhes ou se aprofundar no assunto, pode entrar em contato com o professor entrevistado. Se tiver interesse, envie-nos um e-mail que disponibilizamos seu contato.



5 - Autor: iara de Vasconcelos - Data: 19/12/2011 19:17:38

Muito boa a matéria, é importante toda e qualquer informação nesta àrea.



6 - Autor: Luiz de Filippis - Data: 19/12/2011 10:41:11

O erro do Planejamento mal feito persiste em todo o mundo, carecendo de profissionais aptos para um Planejamento de Arborização adequado. O Manejo é cruel e necessário visto que trabalham corrigindo erros do passado, minimizando riscos, conflitos e agindo sobre um elemento vivo e dinâmico. Soluções existem a médio e longo prazo coisa que político nenhum interressa pois só pensam em sua gestão. Plantar certo é a solução.



7 - Autor: Hélio Maurício Bittencourt - Data: 18/12/2011 12:57:26

Excelente matéria que mostra a necessidade do conhecimento da fisiologia das árvores para evitarmos mutilações. Esperamos mais matérias sobre situações fitossanitárias.



8 - Autor: Estancia Canteiro Verde Ltda - Data: 17/12/2011 16:20:27

ÓTIMA, MATÉRIA.




Entrevista
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Luis Martins é Doutor em Patologia Florestal e explica como cuidar de doenças e árvores ornamentais.

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