Manuel Olarte: Paisagismo e Bem-Estar interligados em apenas uma Arte.

Antes mesmo que ele ganhasse o terceiro lugar do IX Concurso Internacional do PhotoLANDSCAPE, nós entrevistamos Manuel ainda no mês de abril. Entretanto, sua entrevista foi tão interessante que resolvemos deixa-la para o mês das comemorações dos 25 anos da AuE. Afinal, a AuE não é feita apenas de histórias, como vimos com Cássia Dias, mas também de parcerias que estão por todo mundo! Viva à AuE!

Manuel Andrés Olarte começou sua carreira no paisagismo como técnico, após uma mudança de curso. Originalmente zootécnico, ele descobriu sua paixão por plantas ornamentais durante um módulo universitário. No último semestre da universidade, Manuel fez um estágio no Chile, onde teve seu primeiro contato com o paisagismo. Após se formar e retornar à Colômbia, ele iniciou sua trajetória com peixes ornamentais, mas logo antes da pandemia, dedicou-se totalmente ao paisagismo.

Ele fundou sua empresa de paisagismo, inicialmente focada na manutenção de jardins, e expandiu para projetos de paisagismo tropical, piscinas naturais, telhados verdes e jardins verticais. Olarte destaca que manter uma empresa é desafiador, especialmente em Medellín, Colômbia, onde a profissão de arquiteto paisagista não é bem reconhecida. Ele enfatiza a importância de diferenciar o trabalho de um paisagista do de um jardineiro, destacando o valor do design e da execução profissional dos jardins.

Com o tempo, Olarte consolidou sua empresa, focando em grandes projetos para casas de campo. Ele acredita que a contratação de um paisagista é essencial para um planejamento holístico, que considera a teoria das cores, a textura, o ritmo, o equilíbrio e a compatibilidade das plantas. Manuel também possui um currículo robusto, com conhecimentos em geomorfologia, ciência do solo e fertilidade do solo, adquiridos durante sua formação universitária.

"Como lhe disse, no Chile, fiz um curso de sete meses, um curso de diploma em paisagismo numa escola chamada Estudio Paisaje. Depois, fiz um curso de diploma para uma academia chamada Estudio Perdón, que se chama El Diseño de Paisaje. Desculpe, porque me tinha esquecido do design paisagístico e do design de ecossistemas. Para uma israelita chamada Marcela, também houve um curso de diploma que foi teórico e prático. Tivemos muitos módulos sobre jardins verticais, plantação, gestão de jardins e, acima de tudo, a parte do design. Terminei recentemente um curso de diploma na escola de Silvina Capon, na Argentina. Também o fiz online. Agora, estou a estudar para um mestrado em design de paisagem urbana na Universidade de Barcelona. Estou no primeiro semestre do mestrado online. Posso estudar em todo o mundo sem sair de Medellín. "

A relação de Manuel com seus clientes e os desafios que seu negócio enfrenta

Manuel destaca que educar os clientes sobre o valor do trabalho do paisagista é um desafio constante. Ele acredita que um dos maiores desafios é a conscientização sobre o uso sustentável da água. Relatou estar migrando para uma abordagem de paisagismo mais sustentável, focando não apenas na estética, mas também na conservação das espécies, da água e do solo - algo muito parecido com a jardinagem biodinâmica que conhecemos na revista de abril.

Em Medellín, onde o clima está cada vez mais quente e as chuvas são sazonais, Olarte também enfrenta desafios adicionais. Ele enfatiza a importância de planejar bem as espécies de plantas para que sejam tolerantes à seca e aos regimes hídricos locais. A mudança climática tem causado secas severas, afetando os jardins da cidade. Por isso, ele está adaptando seus projetos para serem mais sustentáveis, utilizando plantas que necessitam de menos água e implementando sistemas de irrigação eficientes.

"Em Medellín, o clima é cada vez mais quente, mas aqui estamos mais ou menos a 1640 metros acima do nível do mar. É um clima ligeiramente quente. Temos duas estações de chuvas fortes em março e agosto. Aqui em Medellín, chove bastante, mas devido a fenômenos de alterações climáticas, por exemplo, este ano houve muita seca e os jardins sofreram bastante na minha cidade. Por isso, se não planejarmos muito bem as espécies que são tolerantes a esta seca e aos regimes hídricos existentes, enfrentamos desafios. A ideia é que estamos a migrar para um paisagismo mais de acordo com a estação do ano que temos e com o tipo de solo. A forma como fazemos esta plantação também tem a ver com o que podemos esperar dos jardins aqui. Em muitas áreas, usamos plantas com uma necessidade de água mais herófilas. Apesar das condições climáticas adversas, noutras zonas da cidade vemos plantas mortas e completamente queimadas no verão. Os clientes estão dispostos a pagar por sistemas de rega que conseguimos instalar em todos os projetos. Na maior parte deles, o meu público-alvo são pessoas que têm uma segunda casa ou que têm uma casa na periferia da cidade. Áreas suficientes para desenvolver paisagismo a uma escala média. Jardins com mais de 300 ou 500 metros quadrados só de jardim plantado requerem sempre um sistema de irrigação. Tentamos otimizar com os gotejadores e com os sistemas de rega que utilizamos para dar aos jardins a menor quantidade de água que seja suficiente para as plantas crescerem, mas sem desperdiçar o recurso água. Estou a fazer uma mudança para desenhar jardins que não tenham tanta relva. A área verde é importante como espaço verde, mas estou a mudar para jardins que também tenham areia para minimizar os problemas de água nesses jardins e ser capaz de cuidar da água."

Rotina de Trabalho e Processo Criativo

Manuel é o responsável pelo design dos projetos de paisagismo e trabalha com uma equipe de quatro jardineiros para a manutenção e execução das obras. Ele é quem fecha os contratos com os clientes e desenvolve os projetos. Para sistemas de irrigação, Guillermo elabora o anteprojeto e conta com um engenheiro agrônomo especializado para revisar os cálculos. Sua paixão por plantas é evidente, e ele se dedica a escolher as espécies adequadas para cada projeto, considerando fatores como sombra, semi-sombra e exposição total.

O processo criativo de Olarte começa com uma visita ao local após fechar o contrato com o cliente. Durante essa visita, ele avalia as espécies existentes e realiza um questionário para entender as expectativas do cliente em relação ao jardim. Com base nas respostas, Manuel cria um pré-desenho à mão, conectando as diferentes áreas do jardim conforme os requisitos do cliente. Esse pré-desenho é então discutido com o cliente para ajustes e aprovação.

Após a aprovação, o paisagista seleciona as espécies vegetais, levando em conta as preferências pessoais do cliente e a sustentabilidade. Ele prefere usar ervas herbáceas e ornamentais que requerem menos água e atraem abelhas, pássaros e outros insetos. Se o cliente deseja um paisagismo tropical, Manuel opta por plantas como filodendros, monsteras, calateas e palmeiras.

O desenho final inclui a localização dos canteiros e uma lista de recomendações para cuidados e manutenção, além das fichas técnicas das plantas. Olarte destaca que muitas das plantas usadas na Colômbia são semelhantes às do Brasil, facilitando a obtenção de espécies adequadas. Ele também menciona que o mercado de plantas ornamentais está bem estabelecido na Colômbia, com viveiros locais que produzem as plantas necessárias para seus projetos.

"Não me parece que estejamos nem um pouco atrasados em termos de conceber melhores lugares para as pessoas. Cidades como Singapura têm mais metros verdes por habitante do que outras cidades da América do Sul. Não sei quanto ao Brasil, mas aqui nas principais cidades não há espaços verdes suficientes. Quer dizer, não se pode desfrutar de tantos espaços verdes como na periferia da cidade. Estou a falar de Medellín, que é uma cidade relativamente verde, mas há outras cidades na Colômbia que precisariam de conceber espaços a uma escala média e grande. Há certas tecnologias relacionadas ao solo, à utilização e reciclagem dos mesmos nutrientes que podem sair de um caixote de compostagem, por exemplo. O composto poderia ser utilizado para jardins sem poluir tanto, danificar o solo ou libertar altas concentrações de CO2 para a atmosfera. Portanto, há muitas técnicas que ainda podem ser aplicadas ao solo. Quanto às pragas e inseticidas que usamos, há uma área que podemos desenvolver mais. Os inseticidas piretróides normais que têm sido usados são bastante tóxicos e a maior parte deles não é muito seletiva. Nos últimos anos, em países como Espanha e na Europa, têm usado controladores biológicos, como fungos entomopatogênicos e joaninhas, que são controladores de insetos. Isso ajuda a reduzir a necessidade de aplicar inseticidas, fungicidas ou bactericidas no jardim e a preocupação com a água."

Planos e Expectativas pelo Futuro

Manuel está atualmente focado em desenvolver uma linha chamada "Gardens of Wellbeing". Ele acredita que as paletas de cores são essenciais para acalmar as pessoas, utilizando tons brancos, pastéis, roxos, violetas e azuis. Além das cores, o design e a escolha das plantas são fundamentais. Ele imagina casas com espaços dedicados à meditação e hortas que apoiem o bem-estar emocional.

Ele destaca a importância de consumir vegetais ricos em minerais, como o magnésio, que ajudam a combater a depressão e a ansiedade. Manuel adota uma abordagem holística, considerando que a exposição ao sol, o trabalho na horta e a colheita dos vegetais contribuem para a produção de vitamina D e hormônios do bem-estar emocional.

Olarte também acredita que jardins bem concebidos, com áreas de leitura e meditação, podem ser aliados estratégicos na recuperação de pessoas com stress, ansiedade ou depressão. Ele enfatiza que, na cidade, estamos frequentemente separados da natureza, mas elementos como relva e ardósia podem ser terapêuticos. Ele reforça que, como parte da natureza, precisamos dessa troca com o planeta para nosso bem-estar.

A Relação de Olarte com a AuE.

Manuel destaca a importância dos softwares da AuE para otimizar os processos de criação de projetos de paisagismo. Ele menciona que, sem o apoio do programa, seria difícil cumprir prazos e participar de todas as reuniões necessárias.

"Quando se está começando, é preciso otimizar os processos de design. Se não tivéssemos um apoio como o programa que vocês gerenciam, seria muito difícil chegar a tempo a todas essas reuniões, fazer cotações e concluir os projetos no prazo. O programa, que se baseia no AutoCAD, ajuda-nos a minimizar o tempo de criação dos blocos, a inserir os blocos rapidamente e também a exportar todas as listas das espécies e dos materiais que serão utilizados no jardim. Se conseguirmos uma boa integração entre a lista de espécies de plantas, os insumos e a mão de obra, podemos fazer os projetos de forma mais rápida e confiável. Além disso, a fotomontagem é muito importante para mostrar ao cliente o aspeto do jardim antes de começarmos a trabalhar diretamente na planta. O cálculo da rega também é essencial para estimar a quantidade de água necessária e evitar perdas. Portanto, utilizo o programa diariamente e ele me poupa horas de trabalho com certeza."

Manuel utiliza o programa diariamente, o que lhe poupa horas de trabalho e garante a eficiência na execução dos projetos.

Dicas para Iniciantes

No mundo do paisagismo, a compreensão profunda das espécies vegetais é fundamental. Segundo Manuel, a base mais sólida para um design de jardim bem-sucedido está no conhecimento detalhado do material vegetal. O design pode ser aperfeiçoado ao longo dos anos com estudo e prática, mas é o entendimento das plantas que realmente exige esforço e dedicação.

"Para mim, a base mais sólida é no que se diz respeito ao material vegetal. Eu senti que o design pode ser aperfeiçoado através de anos e estudo. É certo que se pode aperfeiçoar a forma como se desenha os jardins, a forma como se dispõe os jardins, e é algo que a curva de aprendizagem e de trabalho é mais rápida. Mas, com as espécies vegetais, é onde se tem que realmente colocar todo o esforço. É preciso conhecer muito bem as espécies. É preciso conhecer muito bem onde se está a plantar. É preciso conhecer a diferença entre um solo argiloso, se é mais argiloso ou mais arenoso, todas essas características. Porque, quando se está a imitar o local de onde a planta vem e se faz um substrato ou um solo muito semelhante ao centro de origem da planta, a planta vai comportar-se bem, vai precisar de menos pragas, menos fertilizantes, menos cuidados e menos manuseamento. Portanto, se nos concentrarmos em criar uma base sólida, teremos menos pragas, menos fertilizantes, menos cuidados e menos manuseamento. Se nos concentrarmos em criar uma base sólida no conhecimento das plantas, o resto do desenho e a experiência no campo são coisas que podem vir com o passar do tempo e com o passar do trabalho. Mas, de repente, começar a desenhar e a plantar jardins sem o conhecimento das espécies de plantas seria um grande erro, porque se pode plantar coisas que depois morrem ao fim de alguns meses, e isso é um problema e uma dor de cabeça. Ser muito resistente como as plantas são e ter essa adaptação para se diferenciar é importante, porque acho difícil diferenciar-se do resto do jardim. Digo que, como paisagista para paisagista, quando nos diferenciamos e damos valor ao que fazemos, as pessoas sentem que somos diferentes porque nos especializamos neste tipo de plantas ou neste tipo de paisagismo, seja tropical, naturalista, inglês ou qualquer outro tipo que selecionem. As pessoas verão melhor o valor e contratar mais facilmente. Então, a ideia é que temos trabalho, mas que o fazemos da melhor maneira possível."

Confira a entrevista completa aqui: