Marieta Maciel fala sobre seu trabalho no Parque Municipal de BH
Autor: Anita Cid - Data: 07/04/2008
Marieta Cardoso Maciel possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (1971), especialização em Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (1972) e doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São Paulo (1999). Foi arquiteta urbanista da Prefeitura de Belo Horizonte (1974-1995), gerente do Parque Municipal Américo René Gianneti (2000-2002), vice-diretora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (2002-2006), conselheira da Câmara Especializada de Arquitetura do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (2000-2006). Atualmente é Professora efetiva do Departamento de Projetos da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (desde 1977), Membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente representando o Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento de Minas Gerais (desde 2000), representante da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas em Minas Gerais (desde 2004). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto de Arquitetura e Paisagismo Urbano, atuando principalmente nos seguintes temas: projeto de praças, parques, vias de circulação e paisagem urbana.
AuE Soluções: Qual a sua formação acadêmica?
Marieta: Sou engenheira-arquiteta formada em 1971 pela Escola de Arquitetura da UFMG, com especialização em urbanismo em 1971-1972 pela Escola de Arquitetura da UFMG. Mais tarde, fiz Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas - subárea projetos, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 1999.
AuE Soluções: Como surgiu seu interesse pelo paisagismo?
Marieta: Desde 1974 ingressei como arquiteta urbanista na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e o serviço técnico e profissional sempre foram os espaços livres públicos como as praças, parques, vias públicas entre muitos outros. Assim fui aprendendo a lidar com a tipologia espacial, com a cidade e com a técnica da paisagem urbana.
AuE Soluções: Como que é o trabalho que a senhora desenvolve na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)?
Marieta: Sou professora desde 1977 na Escola de Arquitetura da UFMG, no Departamento de Projetos. Ao longo destes anos tive a oportunidade de lecionar quase todas as disciplinas do departamento, aprendendo ensinando. Simultaneamente trabalhava na Prefeitura de Belo Horizonte e as experiências profissionais e docentes se complementavam e ainda se completam. Atualmente sou Professora Coordenadora da disciplina do 9º período do Curso de Graduação - Projeto Integrado de Arquitetura Urbanismo e Paisagismo II. A disciplina propõe uma síntese dos conteúdos programáticos do currículo do curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo entre elas, Paisagismo. Sou também professora do mestrado - "Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável" da Escola de Arquitetura da UFMG (EAUFMG) -, com outros professores das disciplinas: "Paisagismo e Meio Ambiente, teorias e intervenções" e "História da Paisagem". Participo, ainda, nas equipes de projetos de pesquisas e extensão que envolvam a temática paisagismo e meio ambiente.
AuE Soluções: No Brasil ainda não existe um curso voltado especificamente para paisagismo, como suprir esta carência dentro da faculdade de Arquitetura?
Marieta: O curso de graduação da EAUFMG tem duas disciplinas obrigatórias de paisagismo em seu currículo: Introdução ao Paisagismo e Paisagismo I. No meu entender o curso, que é generalista, proporciona conhecimentos básicos para a competência profissional, mas não o suficiente para o aprofundamento e a investigação. Os cursos de pós-graduação, a especialização, o mestrado e o doutorado é que pesquisam a ciência do paisagismo.
AuE Soluções: Como a tecnologia auxilia no ensino de paisagismo e arquitetura?
Marieta: Agilizando o processo de representação gráfica técnica e artística. A tecnologia auxilia não só o ensino como a prática profissional. Novos materiais são empregados, novos conhecimentos estão disponíveis e novas formas e funções aparecem na arquitetura e na vida. As universidades, laboratórios, pesquisas-ação são alguns usuários e alimentadores da tecnologia.
| Os parques urbanos são reservas e vestígios dos elementos naturais ainda sobreviventes nas cidades e devem ser criados, usados e mantidos. Infelizmente as cidades brasileiras ainda não sabem disso. | | |
AuE Soluções: A senhora é integrante da ABAP e foi fundadora do braço da instituição em Belo Horizonte. Qual a importância de uma associação como esta para os profissionais?
Marieta: Sou membro sócio da ABAP a muito tempo, assim como do Instituto de Arquitetos do Brasil de Minas Gerais (IAB/MG) e do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas de Minas Gerais (SINARQ/ MG), por acreditar no trabalho profissional com contribuições de todos para os conhecimentos e objetivos classistas. A transmissão de experiências da profissão em diversos lugares do país é imprescindível para a sua avaliação qualitativa e quantitativa. Com muita honra represento a ABAP em Minas. Mas, sinceramente, ainda não consegui realizar os objetivos almejados.
AuE Soluções: E quais são seus objetivos em relação a ABAP?
Marieta: O principal objetivo é divulgar o paisagismo, a entidade, agregar associados em Minas Gerais e proporcionar curso e palestras de profissionais nacionais e internacionais, como é feito em São Paulo e no Rio. A situação atual é propícia pois a ABAP Minas, o Sindicato de arquitetos entre outros, estão juntos com o Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento MG, quando poderemos em conjunto realizar os objetivos comuns.
AuE Soluções: Atualmente, vê-se por parte da mídia e do Governo uma grande preocupação em incentivar a preservação e recuperação do meio ambiente. E, a partir desta consciência, você acredita que os parques urbanos ganham mais destaque na cena urbana?
Marieta: Os parques públicos existem, como bem público, desde o Século XIX a época da consciência e do seu valor urbano. Acho que sou privilegiada, pois, vivenciei a criação da Secretária do Municipal de Meio Ambiente e o Conselho Municipal do Meio Ambiente em Belo Horizonte desde 1985. Mas o assunto não é novo, desde 1972, internacionalmente, vivenciamos os problemas e acertos. Hoje são reservas e vestígios dos elementos naturais ainda sobreviventes nas cidades e devem ser criados, usados e mantidos. Infelizmente as cidades brasileiras ainda não sabem disso.
AuE Soluções: A senhora foi diretora do Parque Municipal de BH, qual a importância deste parque para a cidade e região?
Marieta: Fui convidada pelo Secretário de Meio Ambiente para ser Gerente do Parque Municipal Américo René Giannetti, em 2000, já aposentada na Prefeitura de BH e especialista em Parques públicos. Permaneci até 2003 quando pedi minha exoneração para assumir a Vice-Diretoria da Escola de Arquitetura da UFMG.
Constatei a sua importância patrimonial, cultural e, em síntese, ambiental. O Parque desenhado no estilo "paisagista", pedaços em estilo "clássico francês", versões modernas e contemporâneas e uso público excessivo e impactante. O único parque que os cidadãos conhecem e o único que foi planejado junto com a cidade. Durante a minha gestão, eu e a equipe multidisciplinar (todos funcionários técnicos e permanentes da Prefeitura de Belo Horizonte) procuramos conhecer e elaborar um plano para usar, manter e conservar sempre o parque principal da cidade de Belo Horizonte - "Programa Parque 21". Até hoje as diretrizes estão sendo concretizadas.
AuE Soluções:No que consiste o "Programa Parque 21"
Marieta: Enquanto gerente do parque municipal Américo Renê Giannetti, (foram dois anos), coordenei a elaboração de um programa visando a sustentabilidade : dos recursos naturais, limpeza, infra-estrutura da sua economia e adequação urbana. Ou seja, adequar o parque ao uso público contemporâneo da sua gestão, com técnicos e funcionários adequados aos serviços do parque. para isso trabalhamos eu e mais 20 técnicos da prefeitura: engenheiros sanitaristas, florestais agrônomos, arquitetos, biólogos, historiadores, sociólogos etc) durante 6 meses para a sua elaboração. O Programa é como se fosse um plano diretor que deve ser seguido e reavaliado de tempos em tempos. Este nos permitiu conhecer o próprio parque, seus problemas, acertos e potencialidades . Os problemas foram hierarquizados e soluções foram propostas. É uma estratégia para revitalizar o parque que se encontrava em estado de decadência. As gestões posteriores estão seguindo-o e muitas ações que já foram feitas.
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