Uma arquitetura amiga das aves: Entrevista com o arquiteto Guilherme Motta

Autor: Regina Motta - Data: 05/11/2013



Colisões de aves no Brasil

Um fato que muitas vezes passa despercebido e pouco chama a atenção é a morte de aves por colisão com os vidros que dominam a maior parte dos edifícios modernos.
A bióloga Marinês Eiterer, publicou um artigo no avesdeviçosa.blogspot.com.br bastante elucidativo sobre o assunto. Vamos aqui mostrar alguns dados publicados e a opinião do Arquiteto Guilherme Motta de Oliveira sobre as nossas construções. A autora nos relata que as aves não vêem vidros e, segundo dados da American Bird Conservancy, cerca de 300 milhões de aves morrem a cada ano vítimas de colisões com vidros de janelas, tanto de casas quanto de prédios.

Aqui no Brasil não existem estudos sobre este fato. Em 2006, no entanto, verificou-se que apenas no Edifício da Procuradoria Geral da República, em Brasília, projetado por Oscar Niemayer, ocorriam 3 colisões a cada dois dias e 1 morte a cada 3 ou 4 dias. O prédio tem 11 anos, admite-se então que neste período foram cerca de 1100 aves mortas, além das podem ter morrido mais distantes.



Como seria uma arquitetura amiga das aves?

Uma arquitetura amiga das aves é incentivada em algumas países para reduzir o problema. A solução é simples:reduzir a área reflexiva ou transparente do vidro ou não usar vidro. A medidas para isso podem ser caseiros, sofisticados, baratos ou caros, podem ser adotadas ainda no projeto de construção ou aplicadas mesmo em construções antigas. Um exemplo é o Kunthaus Bregenz na Áustria, onde o arquiteto suiço Peter Zumthor usou vidro, mas preferiu vidros translúcidos, que deixam entrar luz dentro do prédio sem o perigo do reflexo ou da transparência.



Fachada do Kunthaus Bregenz, na Áustria. Foto Wikipédia.Detalhe do paineis de vidros translúcidos na faixada do Kunthaus Bregenz na Áustria. Foto: Wikipédia.

Veja a entrevista:



Em outubro de 2013 a ONG Aves de Viçosa conversou com o arquiteto Guilherme Motta de Oliveira sobre o uso de vidros na arquitetura e para saber se os arquitetos, aqui na região, estão preocupados com o impacto do uso do vidro na arquitetura sobre a avifauna local. Guilherme Motta de Oliveira é arquiteto formado pela Universidade Federal de Juiz de fora e diretor da empresa AuE Soluções, empresa que desenvolve softwares para paisagismo e irrigação e vem ajudando a promover o setor desde 1997.

Aves de Viçosa: Prédios de vidro são uma marca registrada da arquitetura moderna. Por que usar vidro?

Guilherme: Antigamente as paredes tinham função estrutural, ou seja, ajudavam a sustentar a edificação. Com o concreto armado as construções não dependem mais das paredes, esta possibilidade trouxe o vidro como uma marca da modernidade e do avanço tecnológico. Antigamente não era possível construir um prédio com uma fachada de vidro.
Um fachada de vidro tem leveza e marca um prédio com um status próprio, normalmente é usada para caracterizar o prédio de uso comercial. A questão mais comum com um "prédio de vidro" está ligada ao conforto térmico, o ambiente fica mais quente nos dias quentes e mais frio nos dias frios. Então o uso indiscriminado de fachadas de vidro leva a necessidade de um sistema de ar-condicionado e aquecimento central que desperdiça muita energia para ser habitável o que atualmente não é recomendado. Estamos na era das construções ditas ecológicas onde a eficiência energética caracteriza a nova modernidade.
Atualmente as edificações mais "modernas" buscam um selo de sustentabilidade como o Green Building Council (http://www.gbcbrasil.org.br) e a conservação de energia é um dos quesitos principais.

Aves de Viçosa: O proprietário que quer usar vidro na fachada precisa usar vidro transparente ou reflexivo?

Guilherme: Não existe regra no uso do vidro em fachadas, o vidro transparente tende a ser menos indicado, pois quem utiliza o espaço dentro da edificação quer privacidade. A não ser que o objetivo seja justamente a transparência, por exemplo, para uma loja de departamentos pode ser importante que as pessoas na rua vejam os produtos expostos no interior da loja. Ou em um restaurante, pode ser que a proposta seja justamente mostrar quem está no ambiente.

Além disto, as edificações devem mostrar sua finalidade este é o conceito de "arquitetura falante", ou seja, basta olhar um prédio saber se é de apartamentos, de escritórios, um banco, uma igreja, etc. Assim o vidro é uma marca de determinadas finalidades de edificação.
Por outro lado, qualquer edificação é um consenso entre o arquiteto e o proprietário do imóvel. No caso de prédios, o empreendedor determina muitas características da edificação e a função do arquiteto é harmonizar os interesses do empresário, com as normas construtivas vigentes, o conforto das pessoas ao usar o espaço e a forma estética. Normalmente não são soluções simples.

Aves de Viçosa: Vidros são invisíveis para as aves. Prédios de vidro são uma armadilha mortal para elas. Os impactos negativos sobre a avifauna é uma preocupação dos arquitetos brasileiros?

Guilherme: Os EUA possuem muito mais torres de vidro que o Brasil, por vários motivos, até por uma questão de clima, no Brasil conseguimos construir um prédio que pode ser utilizado sem ar condicionado em muitas cidades, nos EUA, é muito mais difícil ou mesmo impossível, soluções de aquecimento e refrigeração muitas vezes são obrigatórias.

No Brasil os prédios de vidro não são tão comuns, mas existe o modismo e a mania de copiar as soluções estrangeiras.

Normalmente o excesso de vidro não é indicado para nosso clima, mas o interesse de transmitir status tende a determinar a escolha deste material.
A região da Zona da Mata Mineira por outro lado é carente de profissionais qualificados. Ainda é muito comum que engenheiros civis e até mesmo técnicos em edificações realizem projeto de arquitetura o que deveria ser atividade exclusiva de arquitetos. Não é possível dizer que o uso indiscriminado do vidro seja responsabilidade dos arquitetos, mas com certeza o foco dos profissionais é no conforto humano, nos usuários das edificações. Impactos sobre a avifauna é uma preocupação distante e ainda de poucos profissionais.


http://avesdevicosa.blogspot.com.br/


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1 - Autor: Poló Bracher - Data: 30/11/2013 20:21:45

No Caraça, na cubo de vidro da biblioteca/museu, penduraram vários pedacinhos de espelho, presos em fios, junto às janelas de forma a evitar as colisões dos pássaros.




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