Ênio Machado explica como adapta seus projetos ao clima do estado do Acre
Autor: Anita Cid - Data: 04/05/2008
Ênio Alberto de Oliveira Machado é formado em Engenharia Agronômica (1987) e Tecnologia em Heveicultura (1984) pela Universidade Federal do Acre-UFAC. Paisagista auto-didata desde 1985, desempenhou o cargo de Coordenador e Secretário Executivo do Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre-ZEE/AC (1992-1995), onde coordenou a primeira negociação internacional para financiamento do ZEE/AC, com o Governo Alemão, através do Banco Kredistantalt Für Wideraufbeau -KFW; SubSecretário de Estado Planejamento(1993/1994) e SubSecretário de Estado de Trabalho e Assistência Social (1995/1996) do Governo do Estado do Acre. Coordenou o viveiro do Horto Florestal de Rio Branco, atuando como técnico paisagista de áreas verde e praças de Rio Branco. Atualmente, em seu Garden Center Cores da Natureza, elabora e executa projetos paisagísticos para empresas comerciais, instituições governamentais, particulares, prefeituras, instituições financeiras, dentre outras.
AuE Soluções: Qual é sua formação acadêmica?
Ênio Machado: Engenheiro Agrônomo e Tecnólogo em Heveicultura, formado pela Universidade Federal do Acre/UFAC
AuE Soluções: Como você se tornou paisagista?
Ênio Machado: Sempre tive muita paixão e interesse pela natureza e pela arte. Creio que foi um processo gradativo de conhecimento e descobrimento. Comecei com o hobby de cultivar plantas ornamentais: construí um pequeno viveiro em casa e nas horas de folga me dedicava às plantas e, gradualmente, o interesse foi crescendo. Comecei a fazer pequenos jardins em casa de amigos, também nos horários de folga. Com o passar do tempo, fui estudando por conta própria, adquirindo livros nacionais e importados, revistas (sobre jardins, decoração, construção), viajando, participando de congressos, exposições e feiras. Iniciei o curso de Pós-graduação em plantas ornamentais e paisagismo da UFLA, mas ainda não pude concluir. Aos poucos fui me aperfeiçoando e, a partir do ano 2000, comecei a atuar profissionalmente na área e continuo nesse processo de aprendizado em cada projeto que crio e executo.
AuE Soluções: Você segue algum conceito na construção de seus jardins?
Ênio Machado: Acredito muito no jardim atemporal. Desenvolvo projetos em diversos estilos, clássicos, modernos, tropicais, japonês....Depende muito do que o cliente deseja e das condições da área. Entretanto, jardins contemporâneos e neo-tropicais são meus favoritos. Busco sempre, estabelecer composições que se identifiquem com o proprietário/empresa. É aquela coisa de captar a essência do jardim. Os jardins que crio são fundamentalmente parecidos com o estilo de seus donos. Há casos ímpares, em que o cliente pede para ser surpreendido com algo totalmente diferente e inovador e ainda assim, freio a imaginação e adequo ao mais próximo de sua realidade. Cada jardim que faço, é único. Por menor que seja, além de plantar espécies ornamentais, junto, planto a semente de seus sonhos e ilusões.
AuE Soluções: Como é o paisagismo na região Norte do país? A profissão é valorizada?
Ênio Machado: No Estado do Acre, principalmente na capital - Rio Branco, o paisagismo profissional é restrito à classe média e classe alta. Nos últimos 5 anos, empresas privadas e instituições governamentais começaram a entender a importância de áreas verdes e jardins, o que tem aquecido o mercado. Infelizmente, ainda é uma profissão pouco valorizada e conhecida. A grande maioria, faz seus jardins com auxílio de jardineiros, sem projetos e/ou critérios técnicos, isso sempre, buscando menor custo. Acham que um jardim é simplesmente enterrar plantas de forma harmônica.
| Busco sempre, estabelecer composições que se identifiquem com o proprietário/empresa. É aquela coisa de captar a essência do jardim | | |
AuE Soluções: Existem muitas espécies típicas da região? Cite, por favor, alguns exemplos?
Ênio Machado: A biodiversidade das nossas florestas é algo impressionante. Entretanto, por falta de pesquisas não há produção em escala comercial e, sem que isso ocorra, visando o equilíbrio ambiental, desestimulo seus usos afim de que não sofram pressão ambiental. Por exemplo, antes da pavimentação da BR-364, no trecho Rio Branco/Sena Madureira, existiam milhares de helicônias nas margens dessa rodovia. Com a moda de usar helicônias em decorações de eventos e em jardins, praticamente sumiram das margens dessa rodovia, porque, pela ânsia do lucro fácil e rápido, simplesmente paravam caminhões e saiam lotados de touceiras de helicônias (diversas espécies), sem o mínimo cuidado em deixar na área parte dos rizomas para continuidade da espécie. Dentre as espécies nativas, temos belas bromélias, helicônias, filodendros, bambus, orquídeas e uma gama de folhagens belíssimas.
AuE Soluções: Você usa estas espécies para criar projetos diferenciados? Como utilizá-las?
Ênio Machado: Como disse anteriormente, evito a possibilidade de favorecer a pressão ambiental sobre essas espécies. Apenas utilizo aquela em que promovi sua reprodução em viveiro, como é o caso de algumas helicônias e filodendros e uma variedade de bambu que estou reproduzindo. Respeitados os critérios ambientais, essas plantas podem ser utilizadas em jardins modernos e tropicais, em maciços.
AuE Soluções: O clima na região Norte do Brasil é caracterizado por ser muito quente e ter períodos de chuvas bem marcados: seca de junho a novembro, e grande volume de precipitação, entre dezembro e maio. Como adaptar o projeto paisagístico a essas variáveis?
Ênio Machado: Realmente vivemos nos extremos.... mas é fácil ter êxito. Fundamental é o preparo de solo, que deve prever boa drenagem e uso de substrato leve, manta de bidim. Em algumas áreas de alto encharcamento, lançamos mão da técnica de elevação de canteiros. Para prevenir da alta insolação, trabalho com sombreamento, em alguns casos, e com forração de canteiros com pedriscos, seixos e pedras ornamentais e, quando possível, uso forrações verdes resistentes.
| Enquanto as condições mínimas de qualidade de vida não forem estabelecidas aos amazônidas, creio que o paisagismo ainda continuará por muito tempo restrito as classes mais abastadas, que ainda é minoria | | |
AuE Soluções: Você acredita que com o constante debate da mídia sobre temas como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio, profissões ligados à natureza, como é o caso do paisagismo, ganham mais destaque, especialmente em localidades quentes como o Norte do país?
Ênio Machado: Há uma dicotomia neste aspecto: Na região norte concentram-se os maiores mananciais de água doce e de floresta tropical - que é o caso do Bioma Amazônia. Por ser uma das últimas reservas do planeta onde a riqueza da biodiversidade é imensurável, convivem nesse berço esplendido, significativa parcela da população menos abastada e em condições de extrema carência em infra-estrutura econômica e social. Paga-se um preço alto para sobreviver na Amazônia e, enquanto as condições mínimas de qualidade de vida não forem estabelecidas aos amazônidas, creio que o paisagismo ainda continuará por muito tempo restrito as classes mais abastadas, que ainda é minoria. No caso do Acre, um Estado pequeno, mas em franco desenvolvimento, a preocupAÇÃO governamental em promover o desenvolvimento em bases ecológica-econômica-socialmente é visivelmente constatada em todos os seus programas, projetos e ações, de forma transversal e, isso abre um novo caminho a conscientização ambiental e conseqüente absorção de conceitos e técnicas paisagísticas sustentáveis nos demais segmentos da sociedade. Creio que é um caminho longo, mas plenamente percorrível. Basta imaginar e criar.
AuE Soluções: Atualmente, nota-se no paisagismo uma forte tendência por resultados rápidos. Desta forma, decresce o número de árvores nos projetos paisagísticos, o que é preocupante. Você percebe esta tendência na região Norte também? O que fazer para mudá-la?
Ênio Machado: Acho que a tendência por resultados rápidos não está interferindo no uso de árvores. Penso que nos jardins rápidos se usam mais palmeiras não só pelo crescimento ou porte, mas sim pelo efeito desejado. Veja bem, se eu tiver que promover um sombreamento de uma determinada área, obviamente não conseguirei o efeito desejado se simplesmente usar palmeiras..... É questão de bom senso.
Em Rio Branco, nos jardins públicos (pela disponibilidade de área) há uma utilização equilibrada de árvores nativas com palmeiras nativas e exóticas, além de arbustos de pequeno e grande porte. Já em áreas residenciais (cada vez mais minúsculas)por mais que se queira ou que se possa, fica inviável o plantio de árvores de médio e grande porte; Entretanto, uso muito resedá, coração de estudante, pata de vaca, fruteiras pequenas e médias, aceroleira, goiabeira, sapoti, romãnzeira, jabuticabeira, cupuaçu, pitanga, dentre outras. Quando é possível, plantamos essências florestais de médio e grande porte, cedro, mogno, mulateiro, etc, normalmente em chácaras e fazendas.
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