Cláudia Zanini fala sobre a valorização do paisagismo e revitalização do Museu Mariano Procópio
Autor: Anita Cid - Data: 04/09/2008
Cláudia Zanini é graduada em Técnico em Paisagismo pelo INAP, no ano de 2002 e é sócia proprietária da Jardins com Arte desde 2000. Já fez centenas de projetos planejados e executados neste período. Executo projetos no Rio de Janeiro: Marinha do Brasil (Comando Geral, Praça Cívica e Capela - Ilha das Cobras no Centro), Flamengo (jardim de inverno), Alto Leblon e Ipanema (coberturas); Votorantim Metais em Juiz de Fora, Usina de Sobragi em Belmiro Braga e Museu Mariano Procópio.
AuE Soluções: Como você se tornou paisagista?
Cláudia: Meu gosto por plantas vem desde pequena, mas nunca me ocorreu utilizá-lo profissionalmente. Tanto que minha formação superior é em Economia, Direito e Estatística. Logo que resolvemos abrir a Jardins com Arte, em 2000, fui à Holambra me especializar. Lá fiz um curso intensivo com um paisagista holandês, Gustaff Winters, que me embriagou com seus conhecimentos, me fazendo acreditar que esta seria a profissão da minha vida. Assim, fui buscar uma graduação em Belo Horizonte onde, por 2 anos e meio, cursei o técnico em paisagismo.
De lá prá cá tenho participado de várias edições do Congresso Brasileiro de Paisagismo - onde tive o primeiro contato com o programa AutoLANDSCAPE. Tenho também procurado me atualizar visitando as edições da Casa Cor de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
AuE Soluções: Na sua opinião, qual a importância do paisagismo na vida cotidiana?Como ele contribui na qualidade de vida da população?
Cláudia: A cada dia o paisagismo consciente contribui, e muito, para um aumento na qualidade de vida. A partir do momento em que proporciona um bem estar nas pessoas, seja pela simples contemplação de um belo jardim, passando pelo conforto das sombras corretamente instaladas e chegando nas agradáveis sensações que ele pode trazer com seus aromas e sons. Seja em uma área privada de residências e empresas, seja em um espaço público, como praças e avenidas, onde todos têm direito de desfrutar.
AuE Soluções: Você acredita que atualmente está havendo uma maior conscientização da importância do paisagismo por parte da mídia e das organizações públicas?
Cláudia: Com certeza. Com esta recente valorização do paisagismo, tivemos novas solicitações de projetos em áreas e empresas públicas, bem como espaço em jornais, revistas e tv. Como exemplo, temos a nossa participação nesta grande reforma do Museu Mariano Procópio, onde durante a elaboração do projeto e, principalmente, quando estávamos implantando o mesmo,houve uma grande procura da imprensa local por fotos e entrevistas, o que nos mostrou a sua importância para a população.
AuE Soluções: Conte-nos um pouco da sua rotina profissional. Como fazer para que o cliente fique satisfeito?
Cláudia: A partir de indicação, somos chamados a fazer uma visita técnica onde podemos avaliar qual o anseio de nosso cliente. Assim, depois de um bate papo informal, fazemos nossa proposta, seja um projeto com todos os acessórios, ou até uma rápida consultoria. Na elaboração do projeto levamos em conta o que nos foi solicitado acrescentando uma boa dose de encantamento, que é a razão do nosso trabalho.
AuE Soluções: Como você utiliza os softwares AutoLANDSCAPE e PhotoLANDSCAPE no seu dia- a-dia profissional?
Cláudia: Os softwares facilitaram não só a apresentação, uma vez que fazíamos todas manualmente, colorindo e desenhando, como também no cálculo de material.
AuE Soluções:Você está desenvolvendo algum projeto atualmente? Conte-nos um pouco sobre ele.
Cláudia: Desde fevereiro deste ano venho desenvolvendo um projeto em uma empresa que trabalha com um ambiente altamente hostil, uma vez que transforma metais pesados. Temos um grande desafio que é não só manter os espaços bonitos e bem elaborados, como também manter vivas as espécies, que devem ser resistentes.
AuE Soluções: Dentre os projetos que você já realizou, qual deles você destacaria?
Cláudia: Sem dúvida o parque do Museu Mariano Procópio, uma vez que nos proporcionou a chance de estudar os jardins históricos e também por ser um local que nos relembra a infância, onde desfrutávamos deste belo espaço. Juntamente com a Arquiteta Carolina Schmitz, fiz um resgate dos jardins históricos. Foram meses de estudo onde pudemos contar com o apoio do diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Carlos Fernando Delphim para definição de quais espécies poderíamos acrescentar ao projeto. Hoje, passar por lá e ver a população passeando pelos jardins simétricos e fazendo caminhada ao redor do lago, com seus filhos, amigos ou até sozinhos, nos traz a verdadeira recompensa pelo trabalho.
AuE Soluções: Quais foram as principais dificuldades que você encontrou no projeto de revitalização do museu Mariano Procópio?
Cláudia: Primeiramente foi fazer o levantamento das espécies de grande porte, como árvores e palmeiras existentes, para que pudéssemos locar os jardins simétricos sem que fosse necessário corte das mesmas. Depois, foi resgatar as espécies já contempladas no projeto original. Para isto pudemos contar com o apoio total da bióloga do Museu Mariano Procópio, Graça Duarte, juntamente com o Diretor do IPHAN, Carlos Fernando Delfin. Participamos também de um workshop na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, para conhecermos o trabalho de resgate de jardins históricos que eles já haviam feito.
O Museu Mariano Procópio, localizado em Juiz de Fora, é o primeiro museu surgido em Minas Gerais. Fundado em 1915 por Alfredo Ferreira Lage, abriga um dos principais acervos do país, com aproximadamente 45 mil peças.
Seu conjunto arquitetônico compreende dois edifícios: a Villa Ferreira Lage, construída entre 1856 e 1861, e um prédio anexo inaugurado em 1922. Além do conjunto histórico, conta com um acervo natural de grande importância ecológica, valorizando em seus jardins a exótica flora brasileira.
As peças presentes no Museu Mariano Procópio refletem em quase toda sua totalidade as influências culturais do século XIX e princípio do século XX, seguindo principalmente o gosto de Ferreira Lage. Trata-se de um dos principais acervos da período imperial brasileiro - em sua maior parte originário do Palácio São Cristóvão, antiga residência de D.Pedro II no Rio de Janeiro.
AuE Soluções: Quais foram os cuidados necessários com a flora e a fauna original?
Cláudia: Para a fauna, os profissionais do MAPRO já tinham um projeto definido. Quanto à flora, muitas espécies nós reaproveitamos nos jardins, só que com uma nova aplicação.
AuE Soluções: Quais foram as principais espécies utilizadas neste projeto?
Cláudia: Antúrios, agapantus, buxinhos e murtas dividiram espaço com rosas, manacás, íris, camarão e jasmins do imperador. Várias espécies de marantas também foram utilizadas, bem como costelas de adão e filodendros. Tudo disposto de forma que fossem valorizadas não só suas cores e texturas, como também o aroma exalado por muitas delas.
AuE Soluções: Quais foram os artifícios utilizados para fazer com que o museu se tornasse um espaço de lazer?
Cláudia: Os espaços para caminhada e recreação foram aumentados, assim como os quiosques por eles planejados e os parques infantis.
Museu Mariano Procópio antes do projeto
Fotomontagem ilustrando como ficará o projeto
Veja o projeto do Museu Mariano Procópio em CAD.
Veja as fotomontagens do projeto
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