MEMÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL: Vivenciado pelo Eng. Agr. Rodolfo Geiser atuando em paisagismo 4
Autor: Rodolfo Geiser - Data: 06/05/2019
PARTE QUATRO
Ainda a macropaisagem. Voltar ao assunto. Insistir no menos comentado dos campos do paisagismo e provavelmente mais importante para se pensar uma região, um município. Suíça e Alemanha, por exemplo, possuem leis e INCENTIVOS para agricultura pensando em turismo. Não é à toa que muitos dizem que "A Europa parece um jardim!". A paisagem organizada e visualmente bela tem valor financeiro para a "terceira" indústria, a do Turismo... Infelizmente aqui no Brasil tem prevalecido a especulação imobiliária sobre o correto uso do solo, o planejamento urbano e ao correto manejo dos recursos naturais renováveis.
EXPERIÊNCIAS NA MACROPAISAGEM. Tive a grande satisfação profissional de trabalhar em diversos projetos. Entre eles:
ZONEAMENTO DO SISTEMA CANTAREIRA. COTEP
Entre fevereiro e julho de 1970, num espaço de tempo de 6 meses, trabalhei como engenheiro agrônomo consultor para a empresa COTEP, nos "Estudos e Levantamentos do meio físico e subsídios para o Zoneamento do Sistema Cantareira da COMASP", conforme Atestado.
O objetivo de nosso trabalho foi estudar regras para o correto manejo dos recursos naturais renováveis, com especial foco na preservação da água. Á área total em questão era a bacia hidrográfica dos Rios Jaguari e Camanducaia dentro dos limites do ESP, uma vez que parte está em MG.
A área no ESP é de 2.307 km2 na qual estão 86 km2 de espelhos de água de represa. O conceito geral do trabalho baseou-se na ideia de que a superfície territorial atinente devia ser considerada tal como uma "indústria de produção de água"; ou seja, se o manejo dos recursos naturais for inapropriado haverá queda na produção de água. Muito simples: não havendo uma cobertura vegetal eficiente que impeça a erosão e que promova a absorção das águas das chuvas pelo solo, haverá queda na "produção" de água.
Daí a necessidade de zoneamento e normas e regras para o uso do solo. Infelizmente, tudo o que sei, é que tal Zoneamento jamais foi colocado em prática. Não sei onde estão estes estudos e projetos.
A COTEP era um consórcio entre três empresas: a OESA do Rio de Janeiro, a TECNOSAN de São Paulo e o escritório de arquitetura e planejamento de Wit Olaf Prochnik do Rio de Janeiro. Aos que pesquisarem o currículo dessas três empresas facilmente vão concluir que era uma equipe sólida e que pensava com profundidade. A contratante era a COMASP- Companhia de Abastecimento de Águas de São Paulo, que não existe mais.
Creio que seus arquivos, onde devem estar tais estudos, estejam na SABESP-SP.
Se esses estudos tivessem sido implantados na ocasião, que previam entre outras medidas o reflorestamento, certamente não estaríamos diante de situações críticas no que se refere ao baixo volume dos reservatórios de água.
Em Setembro de 1973. No INSTITUTO FLORESTAL DO ESP, tivemos o "Curso de Manejo da Paisagem e Mapeamento da Vegetação", ministrado pelo Professor Dr. Paul Seibert, da Universidade de Munique, Alemanha; o " Seminário sobre Planejamento da Paisagem e Mapeamento da Vegetação" e o Planejamento do Parque Estadual de Campos do Jordão, SP, como modelo de pensar. Esse curso abriu-me horizontes no pensar, refletir e aprender a observar.
Na década de 1980, fomos contratados pela Sobloco - Construtora, para dar consultoria de manejo da vegetação e da paisagem na RIVIERA DE SÃO LOURENÇO - SOBLOCO, onde, também realizamos alguns projetos de paisagismo.
Trata-se de empreendimento de urbanização, numa área total de cerca de 7 km2. Atuamos sobre 2.600.000 m2 de áreas de preservação, protegendo-as do impacto das obras de terraplanagem para construção das ruas.
Projetamos também viveiro, arborização de ruas e algumas praças e áreas verdes. Para que se tenha uma ideia do empreendimento, e a importância do verde da vegetação preservado e regenerado, observe-se as fotos abaixo do Google Earth.
Vista geral da área da Riviera de São Lourenço, em Bertioga, SP. Cerca de 7 km2 e uma praia com aproximadamente 4.500 ml. Projeto de urbanismo do escritório de Benno Perelmutter.
Detalhe da foto anterior.
Fotos "antes e depois" dos arquivos da SOBLOCO Construtora SA.
Fotos "antes e depois" dos arquivos da SOBLOCO Construtora SA.
METRÔ. Dezembro de 1974 à Outubro de 1978. "Consultoria para viabilidade, implantação de áreas verdes e preservação do paisagismo existente em toda Linha Leste/Oeste, entre a Estação da Sé e o Pátio de Itaquera, com área de 500.000m2".
Trabalhamos juntos, arquitetos de Departamento de Arquitetura do Metrô e, como consultores, arquiteto Décio Tozzi e Rodolfo Geiser. Isso, além de diversos projetos de micropaisagismo na linha norte-sul (azul) do Metrô, entre os quais coautoria no Largo São Bento e Praça Armênia e a Rodoviária Tietê.
SNM. EMPLASA. nov.1978 à dez.1980.
"Colaboração na regulamentação da lei nº 6.5535 de 15 de junho de 1978, que acrescenta um dispositivo sobre a vegetação das regiões metropolitanas no Código Florestal", a alínea "i". Surgiu a necessidade de regulamentar essa alínea pois ela considerava toda a vegetação das regiões metropolitanas como de preservação permanente; ou seja, até aquela pioneira de um simples lote urbano.
Trabalhamos ainda no Projeto 4247 - Uso do solo metropolitano e avanço na regulamentação do ordenamento e compatibilização dos Planos Municipais e seu sub projeto da lei do Cinturão Verde da Região Metropolitana.
Themag, 1986. Remanejamento, Preservação Ambiental e Zoneamento em áreas de mineração em interface com a cidade de Itabira, MG, numa área aproximada de 65.000.000 m2. CVRD - elaboração Plano Diretor de Meio Ambiente - Área de Itabira, MG.
Muito importante ainda, o projeto de Cinturão Verde entre Usina de Açúcar e uma cidade no interior do ESP.
Plano Geral de Cinturão Verde entre Usina de Álcool e Açúcar e cidade vizinha (à esquerda). Pensado a partir da escala de 1:20.000, envolvendo relevo e hidrografia.
À extrema direita, a usina de álcool e açúcar e à extrema esquerda, a cidade. A estradinha mais para vertical de reflorestamento tem 1.800 metros. Distância da cidade Ca., 4.000 metros. No verde mais escuro e intenso está a área reflorestada atuando como cinturão verde. A ideia básica é, para o caso, dar maior abrangência ao Código Florestal.
O que se observa no Brasil é que existe, regra geral, uma rejeição inicial dos proprietários de terras de não gostarem de regulamentação e restrições quanto ao uso de suas propriedades. Alegam que tais regulamentações ferem o conceito de "Direito de Propriedade". Inversamente, o que deve ser considerado é que, no resultado final da obra, ocorre ganho de capital, no sentido de valorização financeira da paisagem como um todo, como se constata pela posição de alguns países da Europa, como mencionado acima.
A mencionar ainda. 1967/1968. FAZENDAS AGROPECUÁRIAS NA AMAZÔNIA. Nesse período fui convidado pelo colega engenheiro agrônomo Sérgio Vergueiro a elaborar alguns projetos agropecuários na Amazônia, dentro da área da SUDAM- Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia.
Sérgio também formado na FGV queria minha colaboração maior na parte de ecologia ou, no manejo dos recursos naturais renováveis.
Projetamos a Fazenda Agrosan em MT e as fazendas Fernão Dias e Borba Gato no PA. Todas com centenas de hectares. Nossa contribuição maior para reverter a tendência na época de, conforme exigia a Lei, preservar 50% da área. De uma maneira sumária de pensar, acontecia que alguns dividiam a área no meio, derrubavam 50% e revendiam a parte preservada, e o novo proprietário igualmente derrubava 50% e preservava a metade, que, por sua vez, poderia novamente ser vendida.
Nossa solução foi simplesmente dividir a área global em módulos, cada um dos quais com 50% de abertura e 50% de preservação. No interior da parte aberta ainda considerou-se o Código Florestal, preservando nascentes e margens de rios. Tudo muito simples, mas de importância essencial. Sérgio continua até hoje na Amazônia e tem uma empresa onde cultiva a castanha do Pará associada com pupunha.
A linha amarela que corta horizontalmente a foto é a estrada Manaus-Itacoatiara. Na parte acima da estrada, áreas abertas espaçadas por faixas de mata preservada. No caso uma largura de 2.000 metros abertos por 500 metros preservados.
A distância certa para abrigo das abelhas polinizadoras das castanheiras. Na parte aberta, observa-se ainda a hidrografia com suas margens preservadas de mata nativa. Imediatamente abaixo vista do castanhal: um total de 300.000 castanheiras plantas à 10 x 10 m.
Na foto acima o fruto e a flor da castanheira e abaixo a abelha polinizadora.
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