PAISAGISMO SUSTENTÁVEL... um novo conceito é possível?
Autor: Eng. Agrônomo José César Utida da Fonseca. - Data: 14/12/2018
Os jardins surgiram com as cidades e as novas organizações sociais humanas, como os estados, as religiões e a divisão de trabalho, no início das civilizações tinham o claro objetivo de demonstrar o poder dos faraós, reis, imperadores, enfim, eram construídos para impressionar os súditos e os reinos vizinhos, não havia preocupações quanto ao impacto no ambiente e na qualidade de vida das pessoas, uma vez que em sua maioria o acesso era restrito, como se tem notícias dos "jardins suspensos da Babilônia", construídos por Nabucodonosor.
Esse conceito permaneceu por séculos, até mesmo após o surgimento dos estados modernos, reis e imperadores ainda faziam uso destes para seu lazer pessoal e para demonstrar o poder, os jardins de Versalhes é um bom exemplo disso.
Versailles Jardins do Petit Trianon
O surgimento da Burguesia, com acúmulo de capitais e riqueza por comerciantes e nobres, sem o poder do estado, mudou um pouco o conceito dos jardins, estes se popularizaram, sugiram alguns de usopúblico, obra de alguns beneméritos enriquecidos nos negócios, essa mudança foi pequena, uma vez que ainda o principal motivo de sua construção era demonstrar poder e status, agora de uma família.
A partir do surgimento de grandes cidades, das metrópoles, no século 20 e também de uma classe média urbana, surgiram os jardins residenciais, que tinham como objetivos, ainda de demonstrar status, porém visavam também o lazer.
No século 21, as cidades se tornaram megalópoles inóspitas, com trânsito caótico, que somado a violência urbana afastou a pessoasdos ambientes públicos, fazendo com que a partir daí os jardins passassem a ter, também, a função de melhoria na qualidade de vida, porém com a escassez de recursos naturais a sustentabilidade dos jardins se tornou um item importante, quer seja pelo custo de manutenção ou pela preocupação de seus proprietários com o meio ambiente, que afinal também confere status.
Atualmente existem técnicas e materiais disponíveis para a execuçãode projetos que atendam a estes novos requisitos, porém ainda não se veem muito projetos em execução, ao menos em pequenas escalas, provavelmente isso se deva a dificuldades na mudança cultural que tais projetos demandam, onde expectativas de transformações rápidas no "visual" devem ser racionalizadas, pois não se inaugura um jardim com plantas nativas imediatamente após a sua implantação, para a ceia de Natal, as árvores, os arbustos só demonstrarão todo o seu potencial a partir do terceiro ao quinto ano, não é fácil convencer um cliente, um comprador, muito menos um gestor publico com mandato de 4 anos, a esperar esse tempo.
Já vi casos em que clientes, movidos por boas intenções, implantam projetos "sustentáveis", porém se decepcionam com o tempo, pelas dificuldades de manutenção e pela demora dos resultados descritos no projeto e logo passam a descaracterizar o projeto introduzindo espécimes exóticos, com nenhuma característica sustentável.
Assim, penso que a sustentabilidade dos jardins só é possível acompanhada de uma mudança cultural, lenta, que não ocorre na mesma velocidade dos lançamentos de produtos, matérias e técnicas construtivas.
Um jardim comum precisa de tempo para florir... Um jardim sustentável precisa de melhores projetos e profissionais altamente capacitados na implantação e manutenção e, claro, mais tempo ainda para florir!!!
Eng. Agrônomo José César Utida da Fonseca.
Escola de paisagismo de Brasília
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