Transição de Carreira e o ato de "Espacejar" com o Paisagista André Luis Cenak
Autor: Giulia Wogel - Data: 25/03/2024
André Luis Cenak é dono da empresa Jardim Salvaterra Paisagismo, e faz projetos na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Recentemente levou o primeiro lugar do concurso nacional da Trapp “O jardim mais bonito do Brasil”, na categoria profissional. O jardim vencedor é o de sua própria casa, com 4.000 m², ele o cultivou do zero, há cerca de 20 anos atrás. Na época, André ainda era gerente de logística e tinha o paisagismo como um hobby.
Sua caminhada até alcançar o pódio foi intensa. Na primeira fase, 50 pessoas foram classificadas em cada categoria, e um tempo depois os três finalistas foram divulgados, André entre eles. Para a escolha do vencedor, o público deveria curtir os posts do concurso nas redes sociais, e o projeto com mais votos ganharia. Nesse momento, o paisagista focou na divulgação do seu trabalho e liderou os concorrentes durante os 4 dias de votação.
A virada de chave
André iniciou sua carreira profissional no paisagismo há cerca de 10 anos atrás. Até então, ele era gerente de logística em uma empresa local, mas o estresse que o cargo trazia era desmotivador. Enquanto isso, sua paixão por plantas vinha desde pequeno:
“Minha mãe gostava muito de planta, meus pais tinham um Pomar, e eu sempre vivi no meio do mato, com aquela daquela sensação de biofilia, de estar imerso nas árvores e nas plantas...”
Quando a construção de sua casa começou, sua prioridade era contratar um paisagista para fazer o jardim, porém ele se viu insatisfeito diante das opções. Assim, optou por tomar frente do projeto e iniciou sua pesquisa e estudo amador nos finais de semana. O jardim ia tomando forma e todos que o visitavam disparavam elogios para o seu esforço, sobre a beleza e aconchego que ele conseguiu trazer para o lugar. Certo dia, a busca por uma profissão mais tranquila falou mais alto, e seu tempo na logística chegou ao fim. A partir daí, ele procurou se especializar na área e adquiriu uma franquia de manutenção de jardim e piscina, onde permaneceu por 5 anos. Após esse tempo, surge sua marca própria, o Jardim Salvaterra, saindo um pouco da manutenção e focando mais na parte de projetos.
“Estamos todo dia aprendendo, todo dia estudando e acompanhando os maiores paisagistas do Brasil como referência. A gente vai seguindo e essa nova etapa está muito prazerosa.”
Como é Trabalhar com Paisagismo
De acordo com André, sua rotina hoje como paisagista é bem mais tranquila. Isso é possível pois ao lidar com áreas de lazer o foco está no bem-estar daquela casa juntamente com a beleza de um ambiente agradável e acolhedor, responsável por recarregar as energias de seus moradores. Ainda, os desafios diários da empresa também são facilmente resolvidos, já que seus 25 anos de experiência com o gerenciamento de grandes empresas permite uma fluidez na organização de pessoas, cronogramas de plantio, compras e transporte. A equipe costumava ser maior quando prestavam a manutenção de piscinas e jardins. Entretanto, o retorno financeiro desse serviço árduo não compensava o transtorno e, com a chegada da pandemia, a equipe diminuiu junto com a demanda, concentrando-se mais no segmento de projeto, implantação e revitalização.
“A gente quer fazer um trabalho com qualidade, com seriedade, mas sem estresse. Não tem que fazer rápido para acabar logo não, tem que ser bem-feito e isso requer um certo tempo... Trabalhar com jardim na chuva, por exemplo, não dá, então a gente sempre orienta o cliente que dependendo da meteorologia nós vamos ajustar o prazo de execução.”
Parcerias de Qualidade
A transição de carreira não é fácil, por isso é importante ter amor pelo que se faz e formar parcerias que impulsionem seu trabalho. Dessa forma, no processo de projeto André gosta de envolver o arquiteto e buscar a opinião do cliente, que é único ao compartilhar suas necessidades, gostos e desejos. Tudo é feito com cuidado para cada indivíduo e existe também uma análise da posição solar, das sombras e do solo para escolher as espécies vegetais que serão utilizadas. Com o passar do tempo o jardim vai continuar crescendo e mudando, ele vai exigir manutenção, água e nutrientes.
“O jardim nunca para, ele está vivo. Aí chegam os frutos, os pássaros e os insetos e tudo vira um micro ecossistema que a gente cria. Então a gente cria um vínculo com o cliente, sempre visitando o jardim para que ele também prospere por vários anos.”
Portanto, além do serviço de manutenção, o Jardim Salvaterra realiza consultorias a fim de orientar o jardineiro ou o próprio cliente a cuidar do espaço, de modo que o paisagista só faz a manutenção quando solicitado. A participação do cliente no projeto é essencial para que ele entenda a necessidade de cuidar e visualize as mudanças que ocorrerão com o passar do tempo
“É muito comum ver nos condomínios plantas imensas em jardins pequenos porque acham a planta bonita e esquecem de procurar saber se ela vai se desenvolver muito. Então, tem que fazer as escolhas certas para que aquele jardim fique bonito e proporcional. Os erros são mínimos quando a gente faz esse passo a passo para o cliente entender o que ele está comprando e plantando no seu quintal.”
Tal dinâmica fideliza o cliente, sendo uma maneira de aplicar um pós-venda e manter um contato constante que abrirá novas demandas no futuro. Nesse sentido, dizer que o jardim está pronto é um equívoco, pois ele está em constante mutação e requer de tempos em tempos um processo de revitalização. Uma vez que satisfeito, André sabe que o cliente possivelmente vai indicar seu trabalho para outras pessoas. A partir disso, sua única preocupação é conseguir atender bem a todos, evitando crescer demais e acumular um excesso de trabalho que atrapalhará o resultado no final.
Fora o “boca a boca”, o Instagram da empresa e parcerias com arquitetos também são usados para divulgar seus projetos e montar seu portfólio. O início é sempre desafiador e o aprendizado até ajuda, mas ganhar reconhecimento em uma nova profissão leva tempo e ter uma bagagem empresarial facilita muito para não cometer erros primários. Outra questão valorizada por André é o ótimo exercício físico que é fazer a manutenção do jardim, por isso ele estimula seus clientes a cuidarem do próprio jardim.
“Você vai cortar grama, vai carregar o saco de adubo, vai molhar, podar, abaixar, levantar e quando você vê está suado e cansado fisicamente, mas a cabeça está boa, o físico legal, um pulmão e coração bom por causa dessa atividade mais prazerosa do que ir para uma academia.”
O PhotoLANDSCAPE
O software de fotomontagem da AuE acompanha André especialmente durante o processo criativo, desde as composições de plantas até o que será utilizado naquele ambiente, a parte que ele relata ser a sua favorita do processo.
“O PhotoLANDSCAPE facilita demais a fazer várias simulações e mostrar para o cliente, porque ele muita das vezes não enxerga o que você está falando, e você faz essa fotomontagem com as plantas que você propõe e ele entende de imediato. É uma ferramenta muito boa, muito rápida e muito fácil de usar.”
A Arte de Espacejar
A criatividade de André ao montar um projeto parte de um hábito que ele chama de “espacejar”. Resumidamente, ele idealiza como o ambiente ficará quando pronto enquanto anda pela área, testando diferentes pontos de vista e analisando a questão do conforto térmico.
"Às vezes o vou para o cliente e fico olhando o espaço de um lado, olhando de dentro para fora da casa, olhando de cima, olhando de baixo... Todo esse processo de criar um jardim é muito intuitivo para mim, eu uso o PhotoLANDSCAPE para o cliente conseguir entender o que eu pensei, mas o início é caminhar, espacejar e fazer croqui. O processo criativo para mim é muito orgânico e experimental, é a minha veia artística mais do que a questão técnica.”
Dica para os Iniciantes
Por fim, para aqueles que estão começando no ramo, André sugere iniciar do zero, pelo que ninguém quer fazer, a fim de começar a entender o assunto. Cortar grama, por exemplo, é o mais fácil: todo mundo faz, mas nem todo mundo sabe cortar da altura certa, acabar com as pragas, adubar um gramado sem queimar, deixá-lo verdinho. Assim começa a aprendizagem: fazendo o gramado, uma poda, uma manutenção, substituição de planta... Acompanhar o trabalho de paisagistas renomados, procurar o mais sobre o assunto na internet, fazer cursos e conversar com jardineiros locais são algumas de suas dicas.
“Aprenda com pessoas que já estão trabalhando, faça amizade, peça dicas e seja humilde. Começar de baixo, fazer um trabalho bom e honesto, e ir crescendo aos poucos. É um processo de aprendizagem constante, tem que insistir que vai dar certo, é uma área boa e promissora que está só crescendo.”
Assista a entrevista completa:
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