O trabalho de Cláudia Ortiz com macro paisagismo
Autor: Jéssica de Souza - Data: 07/01/2022
Iniciamos o ano de 2022 com a engenheira florestal e paisagista Cláudia Ortiz. Ela vem apresentar seu projeto Praça da Saudade, premiado no 3º Concurso Internacional de Paisagismo com VisualPLAN, e sobre os benefícios do paisagismo em macro escala.
Aue Paisagismo: Fale sobre você, de onde surgiu o interesse por paisagismo e sua trajetória profissional.
Cláudia Ortiz: A botânica sempre foi uma paixão, por isso escolhi a engenharia florestal como formação profissional. Atuei nas áreas de reflorestamento tanto com espécies exóticas (produção de papel) como nativas (matas ciliares na bacia do Rio Paranapanema). A paisagem sempre foi uma referência na minha vida e eu sempre trabalhei em áreas em grandes escalas. Iniciei especificamente o paisagismo em um escritório cuja atuação era exatamente o trabalho voltado para projetos públicos e privados.
Aue Paisagismo: Soube que você trabalha com o macro paisagismo. O que é macro paisagismo?
Cláudia Ortiz: O macro paisagismo é o planejamento, projeto e implantação de paisagismo voltado para grandes áreas públicas ou privadas como condomínios, parques, praças e avenidas.
”Paisagismo na área urbana(...)São ilhas de bem estar e convivência social de diferentes faixas etárias, o que economicamente traz a valorização imobiliária e do comércio em seu entorno.” - Cláudia Ortiz
Aue Paisagismo: Que benefícios o paisagismo pode trazer para estas grandes áreas?
Cláudia Ortiz: O paisagismo na área urbana tem abrangência ambiental, social e econômica. Do ponto de vista ambiental há o aumento das áreas permeáveis nas cidades, que quando associado às árvores trazem melhoria do microclima local, diminuindo a poluição sonora e sendo fonte de alimento e espaço de nidação para as aves. São ilhas de bem estar e convivência social de diferentes faixas etárias, o que economicamente traz a valorização imobiliária e do comércio em seu entorno.
Aue Paisagismo: O macro paisagismo realizado em espaços públicos deve ter toda uma burocracia no sentido de plantas que não podem ser usadas, cuidados com construção, entre outros. O que é preciso para projetar nestes espaços?
Cláudia Ortiz: Para a vegetação alguns cuidados devem ser adotados, essencialmente evitar o uso de espécies tóxicas e com espinhos em locais de grande circulação. O mesmo vale para árvores e palmeiras, nas quais se devem ser implantadas espécies adequadas, que não se tornem no futuro fonte de conflito com a estrutura urbana.
Aue Paisagismo: Recentemente você finalizou um paisagismo para uma praça, como foi que surgiu o convite para realizar o projeto?
Cláudia Ortiz: Eu trabalho na Prefeitura Municipal de Extrema no sul de Minas Gerais desde 2019. Sou gestora do eixo de paisagismo na Secretaria de Turismo que tem o objetivo de realizar a manutenção do paisagismo em prédios públicos, vias, parques e praças. Utilizamos o paisagismo como uma ferramenta para preparação de Extrema como um destino turístico, por isso diferentes projetos estão em curso como este da Praça da Saudade. Este local estava bastante deteriorado e após a conclusão das obras de seu entorno, certamente a praça se transformará num importante espaço de convivência para a população e visitantes.
Aue Paisagismo: Fale um pouco sobre ele.
Cláudia Ortiz: A Praça da Saudade tornou-se mais um importante espaço na região central para a população. Para o Turismo será um local de realização da Feira do Produtor Rural e Produção Associada.
No local havia exemplares adultos de árvores das espécies Sibipiruna e Ipê rosa que passaram por tomografias e que após a verificação das condições mecânicas das mesmas, a grande maioria foi incorporada.
O projeto arquitetônico posteriormente foi concebido, assegurando raio mínimo de volume de solo para as árvores remanescentes através da adoção de canteiros elevados.
O paisagismo levou em consideração a luminosidade e uso futuro do espaço, por isso foram utilizados poucos elementos verticais (segurança pública), sendo destes poucos utilizados com grande apelo arquitetônico, como o Pandanus utilis, que foi transplantado de outro local da cidade para ser um dos destaques na nova Praça. Basicamente foram utilizadas espécies de forrações com diferentes cores, as matizes de verde foram predominantemente as variegatas, para trazerem mais luz sob a copa das árvores.
Praça da Saudade finalizada - Dez.2021, Extrema - MG.
Fonte: Cláudia Ortiz
Aue Paisagismo: De onde veio a inspiração para o paisagismo inserido no local?
Cláudia Ortiz: Cada profissional acaba desenvolvendo mecanismos para conceber seus projetos, mas como as praças são locais de grande visitação, sempre procuro mexer com a memória afetiva das pessoas, além de propiciar a experiência sensorial através do emprego de espécies com perfumes, cores, texturas ou arquiteturas diferentes.
Aue Paisagismo: Quais foram os principais focos de melhoria local?
Cláudia Ortiz: Sem dúvida os principais focos de melhoria do local foram o aproveitamento das árvores remanescentes e a manutenção de todos os seus serviços ambientais. Uma prioridade para os projetos é a adoção da irrigação, pois além da qualidade dos jardins, o sistema permite o uso racional do recurso hídrico.
Aue Paisagismo: Quais foram as etapas do projeto?
Cláudia Ortiz: Projeto de paisagismo:
- Diagnóstico da vulnerabilidade de queda das árvores locais através de tomografia;
- Estudo do entorno, usos do espaço pelo turismo e consultas à população local;
- Projeto básico e apresentação para um comitê interno;
- Projeto executivo e compartilhamento com a população local;
- Manejo arbóreo e transplantes;
- Implantação plantas e irrigação automatizada.
Projeto Praça da Saudade - VisualPLAN.
Fonte: Cláudia Ortiz
Aue Paisagismo: E qual o maior desafio que teve no processo?
Cláudia Ortiz: O maior desafio foi à preparação geral e o processo de transplante do exemplar do Pandanus. Outra questão importante nos espaços de praças com canteiros bem definidos é substituir a grama convencional por outras forrações integralmente.
Aue Paisagismo: Agora quem fica responsável pela manutenção do local?
Cláudia Ortiz: A gestão e manutenção são da responsabilidade da Secretaria de Turismo, onde o eixo de paisagismo é responsável pela limpeza, organização, irrigação, segurança e manutenção do paisagismo implantado.
”O VisualPLAN foi uma ferramenta importante para o estudo da volumetria do entorno (...) A ferramenta também auxiliou nas apresentações internas à comunidade.” - Cláudia Ortiz.
Aue Paisagismo: Onde o software VisualPLAN te auxiliou no trabalho?
Cláudia Ortiz: O VisualPLAN foi uma ferramenta importante para o estudo da volumetria do entorno, orientando, por exemplo, o uso do Cipreste na Av. da Saudade (extensão da Praça). A ferramenta também auxiliou nas apresentações internas à comunidade, retratando as escalas, disposição dos mobiliários urbanos e revestimentos.
Aue Paisagismo: Para finalizar, quais são as perspectivas para o paisagismo em 2022?
Cláudia Ortiz: Temos projetos de 11 novas praças, sendo que algumas passarão por processo de revitalização; implantação de arborização e paisagismo em avenidas e atrativos turísticos.
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Saiba mais sobre o projeto no link Praça da Saudade.
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