Recanto da Baronesa - Loteamento Agroecológico
Auepaisagismo: Onde foi? Em que cidade? Qual o tamanho do terreno?
São José dos Campos – São Paulo
66 mil metros quadrados de áreas verdes e de lazer
Auepaisagismo: Qual o maior desafio deste trabalho?
O maior desafio desse trabalho trata-se de se conseguir manter a comunicação constante sobre as tomadas de decisão e escolhas relacionadas ao projeto e implantação junto aos clientes, de forma a quebrar paradigmas em relação à estética e ao “padrão” de qualidade, de forma a demonstrar (na teoria e na prática) que os jardins ecológicos são a expressão do bom senso aplicado.
Ainda mais atualmente, com diversas cidades sofrendo com os extremos: enchentes / crise hídrica. A maneira como olhamos e tratamos as áreas verdes são determinantes para sermos parte dos problemas ou das soluções, e os incorporadores possuem um grande poder de mudança em suas mãos, cabe a nós conseguirmos equalizar as estratégias para que sejam sustentáveis (econômica, ambiental, social e culturalmente).
Auepaisagismo: Como foi a relação com o cliente?
Buscamos trabalhar sempre com transparência e em forma de parceria, confiança e aprendizado mútuo.
Unificamos o trabalho de projeto com uma consultoria em alfabetização ecológica para a equipe interna da incorporadora, para corretores de imóveis e para os proprietários e futuros proprietários dos lotes.
Por meio do desenvolvimento do projeto e da implantação, os dois lados têm aprendido em como trilhar o caminho do meio, entre o mundo ideal e o mundo real.
Auepaisagismo: Quais eram as exigências do cliente?
Substituir o projeto original do loteamento, que possuía um partido de fazenda, para um novo conceito de jardins, em especial relacionado à produção local de alimentos.
Envolver as pessoas com os jardins e fornecer cestas de alimentos semanais aos moradores.
Auepaisagismo: Quais foi a sua ideia principal ao criar o projeto?
Traçamos a estratégia de planejar do todo para o detalhe e, posteriormente, possuir condições de projetar in loco, observando, sentindo as nuances, vistas, topografia, energias, influências e peculiaridades no ato da implantação.
Para garantir a execução nos dedicamos a criar uma equipe sensibilizada e capacitada em permacultura para a condução das etapas de implantação, em especial no que diz respeito ao tratamento agroecológico do solo.
Auepaisagismo: Já foi executado?
Está em andamento.
Auepaisagismo: Quem executou?
Nhanderu Permacultura.
Auepaisagismo: Qual a maior dificuldade na execução?
Sensibilizar os incorporadores em relação à importância do tratamento do solo com mulch (cobertura com matéria orgânica) e adubação verde com o máximo de antecedência, para que já pudéssemos iniciar a melhoria da sua estrutura física, química e biológica, além de se obter matrizes de sementes de espécies como girassol, crotalária, feijão de porco, feijão guandu dentre outras...
Fisicamente, o desafio é justamente recriar um ou dois horizontes de solo perdidos dada a movimentação de terraplenagem realizada.
Quais espécies você acha que foram as mais importantes neste projeto?
Muitas frutíferas nativas da Mata Atlântica e Cerrado foram incluídas, tais como: pitangueira preta, cabeludinha, araçás, grumixama, mas considero que as bananeiras são as protagonistas.
Até o momento foram plantadas cerca de 300 mudas de bananeiras, de diferentes variedades.
Nossa intenção é chamar atenção ao fato de que a banana é fruta mais consumida pelos brasileiros, e por que estamos deixando de ter cultivá-las em nossos quintais? Será que é pelas influências estéticas atuais? Acredito que seja algo nesse sentido, um pouco de inconsciente coletivo que direciona tendências. E é sabido que houve um momento em que se ter uma horta era quase um sintoma de menor status social (o que vem se revertendo cada dia mais).
Gosto de frisar a beleza das bananeiras, não só sua pela sua volumetria, silhueta e textura (sem falar dos frutos). Mas ela é linda até em seu nome científico: Musa paradisíaca.
Na sua opinião como o jardim influenciou (ou vai influenciar) o lugar?
Sem dúvida o fato de estarmos plantando uma infinidade de espécies alimentícias nas áreas verdes influencia quem trabalha no local ou visita. Ao menos provoca.
Especialmente no jardim do plantão de vendas, alguns relatos nos enchem de motivação: um corretor que inicia sua jornada no mundo da jardinagem, se responsabilizando pela rega, observando de perto e respeitando espécies espontâneas que não são chamadas de praga, invasoras ou daninhas...
Outro colaborador passa a diminuir o consumo de açúcar refinado, a consumir mais chás...
Moradores do entorno levam mudas de hortelã e trazem outras em troca.
Visitantes levam mudas, abóboras e sementes para casa, após uma volta no pequeno jardim produtivo e diverso.
A intenção do tratamento dos 66 mil metros quadrados é ser o exemplo.
Cada morador ganhará um curso denominado Quintais Agroflorestais e Jardins Internos, que será ministrado em grupos no setor produtivo do loteamento, numa infraestrutura planejada para cursos, oficinas e bricolagem.
Pretendemos ganhar aderência do máximo de proprietários pra replicarem o tratamento em seus quintais, especialmente pelo fato dos lotes serem amplos, a partir de 750m².
Ficha técnica
Incorporadora: Penido Construtora e Pavimentadora Ltda
Projeto de Paisagismo e Consultoria: Casulo Lares Vivos e Saudáveis
Projeto de arquitetura: Barros Amaral Arquitetura
Projetos 3D: Vinícius Faustino
Execução jardins: Nhanderu Permacultura