Ana Paula Tiscoski: A Arte de Cultivar Beleza e Harmonia no Paisagismo
Autor: Victor Campanate - Data: 05/06/2024
Construir uma carreira, seja no paisagismo ou em qualquer ramo, não é fácil. É preciso esforço, foco e, principalmente, vontade de aprender. Seja com estudos ou com profissionais já estabelecidos da área, conhecimento sempre é bem-vindo. Para isso, é preciso humildade e paciência para conhecer o mercado que pretende entrar. Ainda assim, caminho nenhum é fortificado sem a confiança em si e no trabalho que oferece. Afinal, se você não confiar no seu trabalho, quem irá?
Criciumense de nascença, Ana Paula Tiscoski é uma excelente profissional que tem confiança no trabalho que entrega, mas sempre mantém a mente aberta para novos aprendizados. Uma arquiteta paisagista de renome que atua na área há mais de 25 anos, suas falas são carregadas de paixão e orgulho pelo que faz. O amor pela natureza é de família, assim como o profissionalismo que a acompanha.
"O Paisagismo (...) dentro de mim se iniciou muito cedo. Meus pais sempre foram da área. Meu pai era comerciante de agropecuária. Trabalhava com insumos agrícolas, agropecuária, animais... E a minha mãe sempre teve floricultura, então sempre estive envolvido nesse universo desde novinha (...) Viajava com a minha mãe para fazer CEASA em São Paulo, escolher plantas... Foi assim desde novinha. Semana do do Dia das Mães, ia pra loja ajudar e já entendia um pouco de planta. Ela fazia um pouco de jardim também meio autodidata e tal. Sempre gostou disso, então eu cresci muito nesse universo do paisagismo, da natureza envolvida. Sempre com as plantas, não é mesmo? E fazer arquitetura me despertou para essa área, que é uma área em conjunto com a arquitetura. Eu uni os dois e desenvolvi a arquitetura paisagística."
O que é Paisagismo para Ana Paula Tiscoski?
"É desenvolver toda a área externa de um empreendimento, seja de uma residência, uma área institucional, comercial, industrial, toda a área externa. Então, muitas vezes, o arquiteto desenvolveu o arquitetônico e foi até uma etapa. A gente desenvolve essa etapa como se fosse um complementar mesmo mas, ao mesmo tempo, trabalhando junto com o arquitetônico. (...) O Paisagismo não é simplesmente quando a obra está terminando, está pintando, chega lá e posiciona as plantinhas aleatoriamente para ver como é que vai ser. Tem todo um planejamento, então a gente tá sempre batendo nessa tecla desde que eu me formei. Aqui na região, eu consegui, ao longo dos anos, me posicionar como profissional da área. Inclusive, até os arquitetos muitas vezes não entendem o que a gente faz. Que, na verdade, a gente trabalha em parceria, em conjunto com eles, para agregar na obra deles. A gente desenvolve essa parte de criação externa, detalha, acompanha, desenvolve, muitas vezes com o arquitetônico também... Enfim, acompanha até o final, detalha tudo, toda a infraestrutura, para depois chegar a cereja do bolo, que são realmente as plantas, a hora do plantil."
Além do básico, Tiscoski ressalta que os benefícios do paisagismo vão muito além dos estéticos. O contato com a natureza em um ambiente mais verde aproxima pessoas tanto de si mesmas quanto de coisas mais efêmeras, como uma melhora na rotina de uma família, uma cabeça limpa e relaxada e muito mais.
"Porque, queira ou não queira, a gente traz as pessoas mais próximas da natureza com nossos jardins. (...) Quantas e quantas famílias a gente não acaba transformando os hábitos? Porque muitas saem de um apartamento e vão para uma residência, por exemplo, num condomínio fechado, e nem sabem viver numa casa nem ter essa experiência de estar botando o pé na grama, de estar indo para o pátio e colhendo direto seu cházinho, seu temperinho na horta. Sabe, a criança tá ali acompanhando o desenvolvimento de um tomatinho cereja, subindo e trepando, vai ali apanhar um moranguinho... Até para um pátio de piscina, eu pego os mega vasos, boto pé de laranja nesse mega vaso... Já tá ali a criança, já está ali, curtindo, indo também no pátio, piscina de lazer, mas, ao mesmo tempo, pode estar curtindo a natureza e colhendo frutos, sabe?"
A importância de reconhecer o próprio trabalho e o dos outros no ramo do Paisagismo e Arquitetura.
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC, Ana Paula dedica sua carreira ao paisagismo. É onde ela exerce seu talento, criatividade e uma boa parte das suas áreas de interesse em algo que lhe dá retorno e satisfação.
"Eu adoro criar e achar soluções na minha criatividade. No momento em que a gente tá ali, desenvolvendo, é um dos dos ápices da criação. Realmente achar as soluções e depois ver a obra sendo executada, aquilo concretizado da forma que a gente planejou... melhor ainda quando a gente planeja e ele é executado fielmente. Quando tem o feedback do cliente "Olha, gostamos muito! A gente tá muito feliz, os funcionários dessa empresa estão muito mais realizados e gostam mais agora com essa área de paisagismo. É muito gratificante escutar esses depoimentos."
Ainda assim, a paisagista relata que precisou se impor para chegar onde queria chegar no mercado. Segundo ela, ter confiança e segurança em seu trabalho é essencial.
"É difícil se colocar no mercado. Se posicionar e mostrar o seu valor. Essa questão do empreendedorismo, eu já fiz parte também. Quando me formei, sempre fui engajada nesse sentido de trazer mais conhecimentos para os arquitetos, então participava de IAB, da Diretoria de IAB... sempre organizando cursos para também fortalecer a classe, para todas as pessoas também estarem mais conscientes do seu valor, saber comercializar seu serviço. Toda essa questão, né? Então hoje eu acredito que me coloquei bem no mercado. Eu e o cliente que me contrata, depois ele olha para atrás e vê que sempre vale a pena. Porque eu entrego muito! Eu ainda acho que entrego muito do que eu cobro, mas claro, a gente tem que se valorizar! Mas tudo dentro de uma normalidade, de um padrão adequado, nada de extraordinário, mas, ao mesmo tempo, tu tem que saber o teu valor, né?"
Além de reconhecer seu próprio valor, é necessário entender como o mercado e seus companheiros de profissão funcionam.
"Da varanda para dentro eu não faço mais nada. Eu não vou competir com os meus parceiros. E mesmo porque a minha área já é tão extensa e tão ampla, envolve tanta pesquisa, que não tenho mais tempo e equipe treinada pra gente estar desenvolvendo o projeto arquitetônico ou de interiores. A parceria com os outros profissionais é bom você ter também. É o arquiteto que sempre te indica. E você também pode fazer o contrário, e aí você cresce junto. (...) O sol brilha para todos."
A elaboração de orçamentos
Elaborar um orçamento é uma atividade que exige conversa e jogo de cintura. É preciso entender o que o cliente quer com clareza, o que, por vezes, se mostra como um grande desafio.
"Quanto você acha que vou gastar nesse projeto?" é uma das perguntas que o paisagista mais escuta. A resposta de Ana Paula, como todas as outras, é recheada de uma tranquilidade e leveza que apenas uma profissional com o seu escopo pode dar.
"Depende. Sempre depende porque o projeto vai de 8 a 80, então o ideal é o cliente falar as suas expectativas. Quando mostro meu portfolio, a gente conversa. Eu gosto de conversar muito antes pra gente entender e acabar tendo essa sinergia. Quando o cliente te contrata já tem uma empatia na relação, mas eu gosto muito de conversar no sentido de saber realmente as expectativas do cliente. Importante saber o que ele gosta, o que ele não gosta... "
Durante cada primeiro encontro, Tiscoski realiza um briefing - documento usado para guiar um projeto - com várias perguntas a fim de entender o perfil de seu cliente. Ainda assim, o desafio de orçamentar não termina por aí.
"Essa questão do financeiro é sempre um desafio porque as pessoas não falam. Ficam sempre numa retaguarda, só de espectador (...) e quanto mais clara a pessoa for, mais eu vou entendê-la para ser assertiva no projeto. Poucas pessoas entendem isso, mas a gente procura ser o mais transparente possível para o cliente. Vai dele acreditar ou não."
A história de Ana Paula com a AuE.
Ana Paula está conosco desde que começou a trabalhar na área, há 25 anos atrás. Sendo uma das usuárias mais antigas do AutoLANDSCAPE, a paisagista em tempo integral comenta que, mesmo trabalhando em outros lugares antes de abrir sua empresa, sempre carregou nossos serviços com ela.
"Sempre me facilitou e ajudou muito no desenvolvimento, na organização, na quantificação... Porque antes eu desenhava tudo por áreas, então me facilitou muito e acelerou o processo de desenvolvimento dos projetos. A gente sempre trabalhou com uma mescla de trabalho com AutoLANDSCAPE, aí a gente modela as imagens para apresentar o 3D junto com a parte técnica. Também vou adicionando e é de uma forma bem simples até para ir adaptando também. Como que eu gosto da planta na hora de lançar a vegetação, então eu mexo ali e dou umas adaptadas de acordo com o que eu costumo usar. Me facilita muito. Faz anos que eu uso e gosto bastante. Sou uma cliente fiel faz tempo."
Dicas para iniciantes
Como é tradição pela AuE, a nossa entrevistada de junho deixou um recado para quem está começando na área.
"Primeiro, tu tem que buscar muito conhecimento. Estudar bastante! Eu tive um início em que eu era muito era muito familiarizada com a vegetação, com a natureza, então tu tens que ter esse olhar primeiro. Ter esse olhar, essa vontade de aprender dentro da botânica, buscar fazer curso... Também buscar ler bastante porque tu tem que estar fortalecido nesse sentido. Tem que dominar esse entendimento técnico das plantas, um vasto conhecimento que demanda de bastante tempo, então tem que ter humildade para estudar e não pensar que: "Ah, eu me formei. Eu sei tudo!" Não! Tem que estar sempre estudando."
Ela também deu um toque sobre ética e maneiras de guiar sua carreira de paisagista em ascensão!
"Trabalhando numa linha de qualidade e sendo verdadeiro, tu nunca vai te arrepender disso. Já começando a não saber cobrar ou cobrando lá embaixo. Se não cobrar nada, tu vai sempre ser um barateiro no mercado. Nunca vai se desenvolver bem. Outra coisa é sempre ter essa questão da ética. Respeitar os outros profissionais, falar de igual para igual, com respeito, sabendo do valor de cada um e não passar dos limites. Saber até onde que tu vai, até onde que ele vai então... Sempre se respeitando porque a cooperação é o que funciona nessa vida e nas áreas profissionais, então quando as pessoas entendem isso, todos ganham, né?"
Assista a entrevista completa:
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