Plantas Medicinais de Minas Gerais: Riscos e Boas Práticas na Bacia do Rio Pandeiros
Autor: Matheus Augusto P. Leôncio - Data: 03/06/2024
São chamadas de Plantas medicinais aqueles vegetais utilizados na preparação de remédios. Ao longo dos anos milhares de espécies vêm sendo usadas na preparação de remédios caseiros e esse uso vem do conhecimento tradicional e popular de cada país. O conhecimento popular, ou senso comum, difere do conhecimento científico pela sua abordagem e método de obtenção. Enquanto o primeiro se baseia em experiências pessoais e observações do dia a dia, o segundo utiliza um método sistemático de investigação mais rigoroso dos dados.
Após a Segunda Guerra Mundial, com a descoberta dos antibióticos e o crescimento contínuo de medicamentos à base de drogas sintéticas, as drogas naturais foram em grande parte negligenciadas e até mesmo vistas com ceticismo até a década de 1970. No entanto, a partir da década de 1980, essas plantas começaram a ser valorizadas novamente como uma fonte de propriedades curativas de baixo custo.
No Brasil, o conhecimento tradicional vem de uma ancestralidade representada por plantas que são comuns na cultura Ameríndia. A utilização dessas plantas foi desenvolvida por povos indígenas a partir da nossa biodiversidade há mais de 12 mil anos.
Os fitoterápicos embora sejam preparados com plantas, são produtos que passaram por estudos em laboratório, atestando sua eficiência e segurança. Os medicamentos fitoterápicos são produtos industrializados e são adquiridos em farmácias. Ambos os remédios, caseiros ou industrializados agem no nosso corpo devido a presença de substâncias químicas ativas que durante a preparação são extraídos do vegetal.
Foto 1- Mudas com potencial medicinal distribuídas em evento no campus da UFMG em Montes Claros
Sérgio Santos / UFMG
A região Norte de Minas Gerais é marcada por uma notável diversidade biológica, inserida na transição entre os domínios do Cerrado e da Caatinga. Suas principais fisionomias, o Cerrado Sentido Restrito e a Floresta Estacional Decidual, conhecidas como "Matas Secas", são de grande importância botânica, com características florísticas e fisionômicas distintas. O clima na região é semiárido, com duas estações bem definidas: uma chuvosa, de outubro a março, e outra seca. Devido à sua riqueza em espécies características dos biomas Cerrado e Caatinga, a região desperta grande interesse para a bioprospecção e conservação.
Recentemente, o potencial farmacológico e terapêutico de algumas plantas existentes ao longo do Rio Pandeiros no Norte de Minas vem sendo alvo de projetos de pesquisa e extensão pelo Instituto de Ciências Agrárias (ICA) e pela Universidade Estadual de Montes Claros ( Unimontes).
A publicação Plantas medicinais - Bacia do Rio Pandeiros foi o resultado de parte dessas pesquisas. Na publicação são reunidas informações sobre três plantas que foram alvo de estudo pelos projetos. Na cartilha encontra-se, em linguagem acessível, as características botânicas das espécies, alguns preparos medicinais, seus usos farmacológicos e outras informações.
Espécies contempladas pelo estudo:
Acosmium dasycarpum ou Unha d’anta: Árvore natural de regiões com biomas de Cerrado, principalmente em Cerradões, pertencente à família das Fabáceas, sub-família Faboideae. Variando de 4 a 6 metros, a espécie é utilizada na medicina popular como tratamento para pressão alta, contra o câncer, sífilis, reumatismo e no tratamento de doenças da pele, graças a propriedades presentes em sua casca. Foi observado também ação diurética em suas folhas.
Foto 2- Exemplar da espécie
Davilla elliptica ou Sambaibinha : Arbusto natural do Cerrado Brasileiro, ocorrendo no Campo Cerrado, Cerradão e Campo Cerrado sobre encosta. A espécie pertence à família Dilleniaceae, variando de 0,6 até 3 metros de altura. Na medicina popular é utilizada no tratamento de hematomas, hemorroidas, tônicos, laxantivos, diarreia, úlceras gástricas e inchações.
Foto 3- Exemplar da espécie
Lafoensia pacari ou Dedaleira: Árvore encontrada no Cerrado e em Florestas de altitude, pertencente à família Lythraceae. Atinge alturas de 5 a 25 metros. A Dedaleira é utilizada na medicina popular como cicatrizante (casca), diaforética (folhas) e no tratamento da pneumonia (frutos).
Foto 4- Exemplar da espécie
O coordenador da iniciativa é o professor Sérgio Santos e de acordo com ele o intuito do trabalho é o incentivo à conservação da flora local, buscando conhecer essas plantas popularmente utilizadas e avaliar seu potencial terapêutico. Foram coletados os princípios ativos extraídos dessas plantas e esses passaram por análises laboratoriais.
As pesquisas abrangem plantas nativas da Bacia Hidrográfica do Rio Pandeiros, englobando os municípios de Januária, Cônego Marinho e Bonito de Minas, assim como do Cerrado norte-mineiro. Santos observa que, embora haja estudos sobre o uso popular dessas plantas em outras regiões, não foram encontrados trabalhos sobre seu metabolismo e capacidade de cicatrização nas áreas investigadas.
O professor destaca que o grupo planeja promover o cultivo de mudas dessas espécies em parceria com cooperativas locais para comercialização. O objetivo é oferecer uma fonte de renda sustentável para a população ribeirinha, sem causar impactos negativos ao meio ambiente, evitando desmatamentos e danos à natureza. "A medida que estudamos e demonstramos a importância dessas plantas, incentivamos a sua conservação. Além disso, promovemos o uso de terapias alternativas, como fitoterápicos, que são o foco de nossa pesquisa, homeopatias e outras práticas já reconhecidas pelo SUS no tratamento de pacientes", explica o professor, ressaltando que isso pode contribuir para reduzir os custos com saúde pública.
A utilização dessas plantas medicinais são uma fonte essencial de tratamento acessível para muitas comunidades, especialmente em regiões onde os recursos médicos são limitados. Em áreas remotas ou economicamente desfavorecidas, onde hospitais e clínicas são escassos ou inacessíveis, as plantas medicinais oferecem uma alternativa valiosa para o cuidado de saúde. Essas plantas são muitas vezes cultivadas localmente ou podem ser encontradas na natureza, tornando-as uma opção acessível e de baixo custo para tratamentos diversos.
As plantas medicinais oferecem uma riqueza de recursos terapêuticos em suas diferentes partes, desde as raízes até as folhas, flores e sementes. Cada parte da planta possui propriedades específicas que podem ser aproveitadas para diversos fins medicinais.
Recomendações para o uso de plantas medicinais:
Para manter o valor curativo das plantas medicinais, é recomendável colhê-las quando não estão molhadas de orvalho e secá-las à sombra. Os raios solares intensos podem fazer com que algumas substâncias curativas evaporem das plantas após serem arrancadas. Após a secagem, é importante separar as partes estragadas e conservar apenas as partes úteis das plantas. As partes, como galhas, flores, talos e raízes picadas, devem ser guardadas em caixas de papelão ou frascos escuros, em um local fresco e seco. Ao lavar e picar as raízes, certifique-se de descartar aquelas que apresentarem cheiro de mofo, pois podem não ser adequadas para fins curativos.
Para evitar confusão, é recomendável etiquetar cuidadosamente cada caixa ou frasco com o nome da erva contida. Isso ajuda a garantir que cada pessoa ou família tenha sua própria farmácia em casa. Na preparação de chás, evite utilizar vasilhas de metal, especialmente de alumínio. Opte por vasilhas de barro, louça, inox ou esmaltadas. Quando necessário, os chás podem ser adoçados com mel de abelha, que possui propriedades medicinais. Os chás preparados devem ser consumidos diariamente, de preferência no momento de tomar, pois podem fermentar se deixados de um dia para o outro.
Existem plantas medicinais cadastradas no Banco de dados da AuE Software. No campo " Caracterização " é onde é descrito quais são os usos daquela espécie, o intuito é o melhor aproveitamento daquela planta fazendo com que o cliente tenha ciência de todas as vantagens que ele terá caso escolha aquela espécie para seu projeto.
É crucial conhecer a dose correta, os horários de utilização e por quanto tempo a planta pode ser usada. O uso prolongado e indiscriminado da mesma planta medicinal pode levar a efeitos adversos no organismo, destacando a importância de orientação adequada ao utilizar esses recursos naturais para a saúde.
No entanto, é essencial estar ciente dos potenciais riscos associados ao seu uso. O uso inadequado, como a dose incorreta, horários de administração inadequados ou uso prolongado sem supervisão adequada, pode resultar em efeitos adversos no organismo. Portanto, é fundamental compreender e respeitar as orientações para o uso seguro das plantas medicinais, garantindo assim os benefícios terapêuticos sem colocar a saúde em risco.
O projeto de estudo das plantas medicinais ao longo da Bacia do Rio Pandeiros no Norte de Minas Gerais ressalta a importância desses recursos naturais para a saúde e a comunidade. Além de conservar o conhecimento tradicional, busca avaliar cientificamente o potencial terapêutico das plantas. A iniciativa não se limita à pesquisa, mas também promove o cultivo dessas plantas em parceria com as comunidades locais, visando o desenvolvimento sustentável. Ao enfatizar a importância do uso responsável das plantas medicinais, o projeto promove uma abordagem integrativa para a saúde, valorizando tanto o conhecimento ancestral quanto as evidências científicas.
Referências:
PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS
Cartilha produzida no ICA descreve potencial terapêutico de plantas do Norte de Minas
Potencial da biodiversidade vegetal da Região Norte doEstado de Minas Gerais
Espécies Arbóreas Brasileiras
Plantas Medicinais: Uso e Manipulação
ORIENTAÇÕES SOBRE O USO DE FITOTERÁPICOS E PLANTAS MEDICINAIS
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