Entrevista com o arquiteto Hermanes Abreu
Autor: Adriana Corrêa - Data: 11/02/2006
Arquiteto, músico e amante da natureza, Hermanes José Barbosa Abreu, trabalha há 20 anos com arquitetura e paisagismo. Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atua sobretudo nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde cria projetos multifuncionais de arquitetura, paisagismo e decoração. Com o auxílio de uma equipe de profissionais, Hermanes trabalha cada obra "como se fosse uma escultura", utilizando-se de formas, cores e texturas para obter o efeito desejado. Em entrevista para a Revista Digital AuE Soluções, Abreu fala de seus projetos e da importância da educação ambiental para a sociedade.
AuE: Conte-nos um pouco da sua trajetória. Como a arquitetura e o paisagismo entraram na sua vida?
Hermanes: Sempre tive uma inclinação para as artes e acho que foi isso que me levou a estudar arquitetura. Em 1986 me formei pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, logo em seguida, montei um escritório na cidade. Após quatro anos, fui estudar música em Boston, nos Estados Unidos, onde me formei como compositor. De volta ao Brasil em 1995, retomei o trabalho como arquiteto urbanista e abri outro escritório - dessa vez, em Juiz de Fora. Nesse novo recomeço, incorporei o paisagismo aos meus projetos, mais tarde, a decoração também foi agregada. Atualmente, trabalho com uma equipe e realizamos o projeto completo: a arquitetura, o paisagismo e a decoração.
AuE: Na sua opinião, o que é mais importante em um projeto?
Hermanes: A forma, o trabalho artístico. Isso inclui o tipo de edificação, como ela será projetada, o paisagismo do entorno e o resultado desse conjunto com a decoração, de modo a atender às aspirações do cliente dentro dos recursos disponíveis.
AuE: Costuma seguir tendências no paisagismo? Como imprimi o seu estilo pessoal na obra?
Hermanes: Como todo profissional, tive algumas influências ao longo da carreira. Mas é a fusão do conhecimento acadêmico com a prática profissional que leva ao surgimento de um estilo próprio. Isso acontece de forma natural, fruto do aperfeiçoamento de uma técnica única, um modo de ver e construir com arte e precisão. Nesse sentido, minhas principais referências em arquitetura são o espanhol Antoni Gaudí e o mineiro Éolo Maia.
AuE: Considera a tecnologia importante para a sua vida profissional?
Hermanes: Sim, isso é um fato. Uso sempre o AutoLANDSCAPE em meus projetos, me auxilia muito. Principalmente no cálculo de mudas para o plantio e na escolha de espécies botânicas adequadas ao projeto. Outro ponto importante é a padronização que buscamos no nosso trabalho, por isso utilizamos vários recursos tecnológicos que nos garantem um padrão de qualidade. Aguardamos no momento uma auditoria para a certificação do selo ISO 9001.
AuE: De que maneira o paisagismo pode contribuir para a qualidade de vida das pessoas?
Hermanes: Dando mais conforto aos cidadãos. A arquitetura aliada ao paisagismo pode proporcionar variadas sensações de bem estar aos seus habitantes. É possível, por exemplo, tornar um ambiente fresco, aconchegante, irreverente, sóbrio e outras infinitas possibilidades ao gosto do cliente. Sem falar na surpresa que uma obra inovadora pode causar em pessoas que nunca viram nada parecido antes. Basta trabalhar forma, espaço e proporção com um pouco de criatividade. Em alguns casos, a obra é tão original que perde a referência temporal e se torna patrimônio da sociedade, pelo seu valor artístico, histórico e arquitetônico.
AuE: Qual o principal desafio da profissão?
Hermanes: Projetar é um desafio. Conceber uma idéia que satisfaça o cliente e seja viável técnica e financeiramente não é uma tarefa fácil. Conseguir prever e evitar boa parte dos problemas que poderão surgir na implantação da obra, ainda na fase de planejamento, também requer muita concentração e dedicação ao trabalho. É preciso muito conhecimento técnico e criatividade para projetar com segurança dentro de prazos e recursos, muitas vezes, mínimos. Mas o grande desafio, ao meu ver, é a educação ambiental.
Algumas prefeituras, como é o caso de Juiz de Fora, substituem as árvores que precisam de tratamento por canteiros com flores e usam vegetação imprópria. O procedimento é inadequado. Os canteiros de flores enfeitam, mas não cumprem a função de uma árvore. Se essa situação não se reverter, pode ocorrer, a longo prazo, alterações de clima e uma série de incidentes decorrentes deste fato. O ideal seria que o poder público municipal incentivasse a preservação da natureza com conhecimento de causa e não o contrário, como vem fazendo.
Um bom exemplo é a zona sul do Rio de Janeiro e a cidade de Cataguases, que resolveram investir em qualidade de vida por meio da arborização do meio-ambiente. Uma solução prática seria a isenção de IPTU por um período determinado para quem plantar árvores na fachada da sua residência. Esse benefício poderia se estender também para as empresas, com regras claras e bem definidas. É uma boa forma de começar a estimular a consciência ambiental na cidade.
AuE: Quais são suas obras mais recentes?
Hermanes: Atualmente estou trabalhando em um projeto para o edifício residencial "Vila de Ravena", localizado no bairro Santa Helena, em Juiz de Fora, próximo a Igreja Melquita. Em Niterói, sede da nossa filial, trabalhamos em um conjunto habitacional de baixa renda.
AuE: Algum projeto te marcou de forma especial ao longo da sua carreira?
Hermanes: O córrego Yung, em Juiz de Fora, foi um trabalho de cunho social do qual eu gostei muito de participar. O projeto foi apresentado na Bienal de São Paulo em 2004. A proposta foi arborizar as margens do córrego, dar mais conforto nos pontos de ônibus e criar ciclovias, contribuindo para um ambiente mais agradável e seguro para a comunidade.
Conheça um dos projetos do Arquiteto Hermanes de Abreu:
Revitalização córrego do yung
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