Alelopatia: Estudo da relação das plantas entre si
Autor: Regina Motta - Data: 04/12/2013
O termo Alelopatia foi criado em 1937, pelo pesquisador alemão Hans Molisch, com a reunião das palavras gregas alléton (mútuo) e pathos (prejuízo), referindo-se à capacidade que as plantas têm de interferir na germinação de sementes e no desenvolvimento de outras, por meio de substâncias que estas liberam na atmosfera ou, quase sempre, no solo.
Existem vários conceitos sobre Alelopatia. O termo pode ser empregado para caracterizar as interações bioquímicas entre todos os tipos de plantas, inclusive entre microrganismos. Alguns autores definem a alelopatia em relação a seus efeitos sobre outras plantas, enfatizando a inibição de desenvolvimento provocada por substâncias produzidas por plantas próximas. Nesta etapa, o agente inibidor afetaria a germinação, o crescimento ou o estabelecimento da espécie no ecossistema.
As substâncias alelopáticas são produtos intermediários ou finais do metabolismo secundário. Constitui-se também uma forma de comunicação, pois permite às plantas distinção entre os organismos que lhes são prejudiciais, os benéficos ou, até mesmo, indiferentes.
Estas substâncias podem ser exsudadas por várias partes do vegetal, como caules e, na sua maioria, folhas e raízes. No solo, podem combinar-se de várias maneiras e, embora não se conheça todas as suas funções e substâncias, as que se conhecem podem interferir fortemente no metabolismo de outros organismos.
Há mais de 10 mil produtos químicos conhecidos como alelopáticos, pertencentes a vários grupos de substâncias. A interferência alelopática dificilmente é provocada por um único fator isolado, mas à união e ação sinergética conjunta de várias destas substâncias somadas às condições ambientais.
Estudos têm sido realizados com o intuito de se conhecer melhor as espécies de plantas com atividades alelopáticas e as substâncias com efeitos inibitórios, suas fontes e seu comportamento no ambiente com o objectivo de discutir uma possível aplicação destes compostos como bioherbicidas.
Mimosa caesalpiniifolia Benth.
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Em pesquisa realizada por Fatima C. Márquez Piña-Rodrigues e Barto Monteiro Lopes, o potencial alelopático de Mimosa caesalpiniifolia sobre sementes de Handroanthus albus verificou-se que:
Houve efeito tóxico das diferentes concentrações de extratos de sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth.) sobre a germinação das sementes de ipê amarelo (Handroanthus albus (Cham.) Mattos, sendo um indicativo do potencial alelopático de Mimosa caesalpiniifolia.
Handroanthus albus (Cham.) Mattos
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Conclusão:
Os extratos de folha verde promoveram o retardamento e inibição da germinação das sementes de ipê em função da concentração. O extrato de folhas secas de sabiá mostrou-se inativo.
Aplicando-se as noções de Alelopatia, temos a possibilidade de encontrar as plantas companheiras:
São plantas pertencentes a espécies ou famílias, que se ajudam e complementam mutuamente, não apenas na ocupação do espaço e utilização de água, luz e nutrientes, mas também por meio de interações bioquímicas chamadas de Efeitos Alelopáticos. Estes podem ser tanto de natureza estimuladora quanto inibidora, não somente entre plantas, mas também em relação a insetos e outros animais.
Seguem alguns exemplos :
As plantas da família das solanáceas (tomate, batata, pimentão, entre outras) e as da família das asteráceas, como alfaces e chicórias combinam bem entre si. Estas famílias, por sua vez, também combinam com umbelíferas (Apiaceae) como cenoura, salsa, aipo, erva-doce, batata-salsa e com Liliáceas como o alho e a cebola.
As cuburbitáceas (abóbora, pepino, melão, melancia, chuchu) associam-se bem com as solanáceas, com plantas leguminosas (feijão, ervilha) e gramíneas (milho, trigo), conforme seu hábito de crescimento e forma de cultivo; alternado-se fileiras - duplas tutoradas, por exemplo, de tomate, feijão-vagem e pepino, ou na tradicional associação de milho, feijão e abóbora.
A regra geral para uma boa associação ou rotação de culturas é a de escolher sempre uma sequência de plantas de famílias diferentes.
Alelopatia Aplicada
Em relação aos insetos prejudiciais, algumas plantas têm ação repelente ou atrativa. Ambos efeitos podem ser utilizados nos exemplos a seguir:
Plantas Antagônicas
Algumas espécies possuem substâncias que afastam ou inibem a ação de insetos, como ocorre, por exemplo, com o piretro, presente no cravo-de-defunto e nos crisântemos. Como qualquer estratégia de manejo agroecológico, o uso de tais plantas não deve ser feito isoladamente e, sim, dentro de uma visão abrangente de promoção do equilibro ecológico em toda a propriedade agrícola. Quanto mais equilibrados estiverem o solo, as plantas e os animais, menor será a necessidade de se apelar para tais estratégias, aproximando a produção orgânica da situação ideal que é a de pouco intervir porque agroecossistema já se tornou capaz de se auto-regular.
Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e ou Cravorana (Tagetes sp.) silvestre
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a) Cravo-de-defunto (Tagetes minuta) e ou Cravorana (Tagetes sp.) silvestre
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As plantas inteiras, principalmente no florescimento, são boas repelentes de insetos e nematóides (no solo). Usadas em bordadura das culturas ou em pulverizações na forma de extratos alcoólicos, atuam tanto por ação direta contra as pragas, quanto por "disfarce" das culturas pelo seu forte odor.
Fórmula Geral: 200 gramas de planta verde, macerados por 12 (doze) horas em álcool (aproximadamente 1 litro) e diluídos em 18 a 19 litros de água (20 litros para pulverização).
Cinamomo (Melia azedarach L., família Meliaceae)
plantas-medicinais.
b)Cinamomo (Melia azedarach L., família Meliaceae)
O chá das folhas e o extraído acetônico-alcoólico dos frutos (ambos na dosagem média de 200 gramas para um volume final de 20 litros para pulverização) são inseticidas. Os frutos devem ser moídos e seu pó pode ser usado na conservação de grãos armazenados.
Observação: É uma árvore ornamental comum no sul do Brasil, de origem asiática.
c)Saboneteira ( Sapindus saponaria L.)
Árvore nativa da América Tropical, usada como ornamental , possui nos frutos um efeito inseticida. Para se ter uma idéia de seu poder de ação, vale mencionar que seis frutos bastam para preservar 60 quilos de grãos armazenados.
Os estratos podem ser feitos dos frutos amassados diretamente em água (uso imediato) ou conservados por extração acetônica e/ou alcoólica. Em ambos os casos, 200 gramas são suficientes para o volume de 20 litros de um pulverizador costal.
Quássia ou Pau-amargo (Quassia amara, família Simarubaceae
http://malaria.ws/166/
d) Quássia ou Pau-amargo (Quassia amara, família Simarubaceae)
Arbusto alto, nativo da América Central, com ação inseticida especialmente contra moscas e mosquitos, pelo alto teor de substâncias amargas na casca e madeira. Estas partes podem ser usadas em pó ou extrato acetônico-alcoólico, assim como os ramos e folhas, variando apenas a concentração: 200 gramas de cascas ou madeira moída.
Mucuna-preta (Mucuna sp. ou Stizolobium oterrium)
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e)Mucuna-preta (Mucuna sp. ou Stizolobium oterrium)
Plantada associada ao milho, evita mais de 90% da instalação dos gorgulhos nas espigas.
Atrativos ou "Plantas-Armadilhas"
Muitas plantas possuem substâncias atrativas específicas para alguns insetos, que podem ser utilizadas como plantas-armadilha para várias pragas. A simples concentração dessas pragas já as torna mais vulneráveis a parasitas e predadores, assim como mais sujeitas a doenças, permitindo também a utilização de métodos agroecológicos de manejo de pragas e doenças.
Seguem alguns exemplos de plantas atrativas de comprovada utilidade na horticultura.
Purungo ou Cabaça (Lagenaria vulgaris)
http://belezadacaatinga.blogspot.co.uk/2011/12/cabaca-lagenaria-vulgaris.html
Purungo ou Cabaça (Lagenaria vulgaris)
Plantado em bordadura (em forma de cercas-vivas) ou com seus frutos cortados e espalhados na lavoura é o melhor atrativo para o besourinho ou vaquinha verde-amarela (Diabrotica speciosa).
Planta da família das cucurbitáceas, atrativa para as vaquinhas. Sua limitação consiste no fato de que as raízes que são a parte mais útil da planta, são de cultivo mais difícil que o do Purungo.
Fontes:
http://www.uv.mx/personal/tcarmona/files/2010/08/Marquez-et-al-2001.pdf
http://planetaorganico.com.br/site/index.php/plantas/?s=alelopatia