André Watanabe fala sobre paisagismo oriental
Autor: Anita Cid - Data: 03/09/2008
André Aoki Watanabe, filho de Sacae Watanabe e Darci Satsuki Aoki Watanabe, nasceu em 24 de maio de 1979, em Botucatu, Estado de São Paulo. É Engenheiro Agronômo (Unesp-Botucatu) e atualmente cursa Arquitetura e Urbanismo no Campus da Unip de Bauru, com formatura até o final de 2008. É especialista em Plantas Ornamentais e Paisagismo na Universidade Federal de Lavras, com enfoque em jardim japonês e mestre em Botânica pela Unesp, com concentração na área de fisiologia vegetal.
No ano de 2008, prestou prova de certificação da International Society of Arboriculture , sendo que é um dos únicos arboristas certificados por esta instituição no Brasil. É sócio proprietário da Agroarte, empresa voltada à ecologia, meio ambiente, educação ambiental, planejamento, execução e manutenção de projetos de paisagismo.
AuE Soluções: Como você se tornou paisagista?
Watanabe: Posso dizer que paisagismo já esta no sangue da minha família há muito tempo. Meu avô paterno, que não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, deixou inúmeras variedades de orquídeas e bonsais além de muitas outras espécies. Já meu pai, atua como paisagista há mais de 40 anos e eu, como não poderia ser diferente, tomei gosto logo cedo pela profissão, quando ia passar as férias em meus viveiros de mudas desde criança.
AuE Soluções: Sua família é de descendência japonesa. Conte-nos um pouco da sua história familiar.
Watanabe: Meus avós vieram do Japão em 1933 e logo adquiriram um imóvel rural no município de Penapolis. Era só mata e eles tiveram que desmatar para cultivar a terra. Junto com a lavoura, meu avô cultivava plantas ornamentais e, o que era hobby para ele, virou profissão para meu pai que fez agronomia e pós-graduação voltada para floricultura, paisagismo e ecologia. Ele também estagiou e trabalhou com o Roberto Burle Marx, maior paisagista brasileiro, e em 1977 abriu a Agroarte Paisagismo que atua em todo o território nacional. Como fui criado muito próximo do trabalho do meu pai, acabei entendendo e me apaixonando cada vez mais pelo meio ambiente e seus efeitos que é o paisagismo ideal.
| "O jardim japonês é a representação da natureza em escala menor. Neste objetiva-se um equilíbrio total de todos os elementos para transmitir sensação de quietude e repouso. Todo o supérfluo deve ser cortado e o projeto só estará pronto quando nada mais possa ser removido dele." | | |
AuE Soluções: Você e sua família visitam o Japão para se reciclarem profissionalmente?
Watanabe: Toda minha família já esteve no Japão, apesar de ter como foco principal conhecer a cultura de nossos antepassados, estamos sempre observando as formas e conceitos aplicados nos jardins de lá. Atualmente muitas informações necessárias para a elaboração de um bom paisagismo, seja ela uma novidade ou um antigo conceito, está disponível na internet, não somente dos jardins orientais.
AuE Soluções: Como esta descendência influi no seu trabalho de paisagista?
Watanabe: Acho que a maior influência dos jardins orientais é a utilização de plantas perenes em nossos projetos, o que baixa bastante o custo de manutenção e deixa o jardim permanentemente bonito. A utilização de espécies anuais, além de ter um custo elevado de manutenção exige trocas constantes de espécies, o que em um jardim doméstico, raramente acontece. Com isso, o cliente tem o jardim bonito por três ou quatro meses e faz a troca uma ou duas vezes e depois desanima e cimenta toda a área verde da casa.
AuE Soluções: Quais são as principais características de um jardim oriental?
Watanabe: O jardim japonês é a representação da natureza em escala menor, não que seja uma imitação da natureza e sim uma representação e simbolização da natureza pelo uso de pedras, água, lanternas, pontes, lagos, cada elemento com uma simbologia diferente, conforme a experiência, sentimento e padrões do projetista. Os fatores a serem considerados quando se esta projetando um jardim japonês são localização, tamanho, forma, função, estilo de composição, uso do espaço e materiais, cada um deles faz parte da linguagem do paisagismo e nenhum pode ser estudado separadamente. No jardim japonês objetiva-se um equilíbrio total de todos os elementos para transmitir sensação de quietude e repouso, diz-se ainda que todo o supérfluo deve ser cortado e o projeto só estará pronto quando nada mais possa ser removido dele. Não pode apresentar um ponto de vista apenas, mas muitos pontos, cada um com uma interpretação diferente. O jardim ideal se assemelha a um álbum de fotos onde cada página virada apresenta uma surpresa.
AuE Soluções: Quais são as principais espécies que você utiliza em seus jardins? Estas são fácies de serem adquiridas?
Watanabe: Escolho as plantas a serem utilizadas respeitando as características fisiológicas de cada espécie e mantendo a harmonia do conjunto, não temos espécies preferidas para nossos projetos e sim, procuramos a espécie ideal para cada caso, logo, nem sempre temos todas as espécies em nossos viveiros e precisamos recorrer a outros viveiristas.
| "a forma correta de se iniciar um projeto de paisagismo é através de uma entrevista com os proprietários da casa para saber o perfil deles como o gosto, os desejos e as necessidades de cada um, para assim, entregar a eles o jardim de seus sonhos." | | |
AuE Soluções: Jardins orientais exigem algum cuidado especial? Quais?
Watanabe: Como qualquer jardim, o jardim oriental requer de cuidados básicos como a limpeza das folhas e galhos secos, regas, podas, adubações, controle de pragas e doenças, etc. O grande diferencial está na forma como ele é percebido, por exemplo, aqui comumente vejo pessoas reclamando das flores do ipê que "sujam" a calçada. Já no jardim oriental ele estaria enfeitando a calçada que também faz parte da paisagem.
AuE Soluções: Como você cria jardins personalizados que refletem o gosto de seus clientes?
Watanabe: Todo paisagista deve pensar na forma como o jardim será utilizado, quem irá utilizá-lo, se o proprietário gosta de cuidar das plantas, se tem tempo disponível, se tem filhos pequenos, etc. Logo, a forma correta de se iniciar um projeto de paisagismo é através de uma entrevista com os proprietários da casa para saber o perfil deles como o gosto, os desejos e as necessidades de cada um, para assim, entregar a eles o jardim de seus sonhos.
AuE Soluções: Na sua opinião, os jardins orientais tem boa aceitação aqui no Brasil?
Watanabe: Jardins orientais têm uma base filosófica muito grande por trás de cada elemento, escolhido a dedo para compor a paisagem do local. Logo, é um jardim bastante contemplativo, onde você olha, observa, compreende o intuito do criador em cada elemento. Vou citar um exemplo, através de uma pequena história que coloquei em minha monografia de pós-graduação.
É cedo. O homem acorda e veste um terno azul. Ele está sentando agora quietamente enquanto toma um gole em uma xícara de chá, olhares fixos na paisagem. Uma cadeia de montanhas sobe no oeste; está perto o suficiente pra ele poder ouvir a cachoeira que a encosta esconde. Um córrego de água apressa à planície e alimenta um lago que se alarga aos seus pés. Do lado oposto às montanhas o homem localiza uma densa floresta, ele quase pode ouvir os ventos que há anos sopram aquela mata. Ali ele se nutriu de boas energias, ao observar aquela cena, com as folhas da vegetação delicadamente balançando sob influência da leve brisa. Mas agora não há mais tempo. O homem apanha a pasta, fala para a esposa que voltará mais tarde, e, uma vez fora do portão, entra decididamente na linha das pessoas que já se apressam à estação de trem.
A paisagem que o homem estava olhando não era uma paisagem real, mas um jardim japonês de alguns metros quadrado. Ele se construiu para isto.
A "montanha" era uma pedra grande que ele trouxe de caminhão. A "cachoeira" e o "fluxo" eram pedras menores e seixos organizados em rachas e fileiras. O "mar" era de pedregulho branco, e as árvores "varridas pelo vento" eram algumas plantas escolhidas a dedo, não só cada espécie, mas o formato, o tamanho, a idade de cada indivíduo. Ele segue este ritual todas as manhãs, vivendo o pequeno jardim como uma grande paisagem viva, vasta e serena.
Veja as fotos do projeto da praça "Brasil Japão", que faz parte do projeto "A Praça é Nossa", no qual a Agroarte em parceria com outras empresas privadas revitalizavam as praças e canteiros da cidade de Botucatu.
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