Claudio Rohrsetzer: paisagismo na Califórnia
Autor: Regina Motta - Data: 26/02/2014
Claudio Rohrsetzer é paisagista na Califórnia, My Urban Gardener, desde 1991, onde desenvolve um belo trabalho envolvendo várias atividades como na área de paisagismo, permacultura, hortas urbanas e sustentabilidade. Sua formação inclui, entre outros, cursos de paisagismo no Merrit Colege e Sonoma State University.
Vamos deixar que ele mesmo nos conte sobre o seu trabalho na Califórnia e suas observações sobre o que é feito lá na área de paisagismo.
Aue Paisagismo: Gostaríamos de conhecê-lo melhor, você é brasileiro? Já viveu no Brasil? Como foi a sua escolha pela profissão de paisagista?
Pois é, sou brasileiro nascido em Porto Alegre. Minha formação acadêmica no Brasil foi em Direito, mas sempre gostei de trabalhar com plantas. Em 1989 larguei tudo no Brasil e decidi morar nos USA. Em 1991 já estava com meu negocio de Paisagismo montado e assistindo aulas de Paisagismo na faculdade para me especializar.
Aue Paisagismo: Como é o paisagismo na Califórnia? Existe exigência de formação para quem exerce a profissão? Quais as dificuldades encontradas? Há valorização de áreas e edificações que tenham um projeto de paisagismo implantado?
A profissão de Paisagista aqui nos USA é regulamentada em todos os níveis. No nível mais técnico, como instalação e manutenção você precisa se licenciar como Contractor. Já no nível de arquiteto, você precisa cursar uma faculdade de 4 ou 5 anos. Tanto o Contractor como o Arquiteto precisam comprovar um certo numero de anos de experiência para fazer o teste e obter a licença, que é regulamentada em nível estadual.
A formação acadêmica é feita pelos Comunity Colleges com cursos técnicos de 2 anos e pelas universidades no caso dos arquitetos. O arquiteto paisagista aqui nos USA é uma profissão completamente independente do arquiteto que trabalha com edificações.
A profissão é super valorizada em todos os níveis e existe uma deficiência crônica de mão de obra.
Quanto a edificações com projeto de paisagismo implantado, o mesmo é obrigatório em novas construções, inclusive com a necessidade de aprovação pela cidade do tipo de paisagismo a ser instalado; o poder público tem participação direta em todas as fases do projeto de paisagismo.
Aue Paisagismo: Você tem um Centro de Aprendizagem, quais as técnicas que são ensinadas?
Utilizo muito os princípios da Permacultura e de Sustentabilidade bem como algumas técnicas tradicionais aplicadas pela Universidade da California, onde me graduei como Master Gardener em 2008.
Aue Paisagismo: Na questão de escolha das espécies botânicas, há prioridade para espécies nativas?
Plantas nativas atraem uma variedade imensa de pássaros, borboletas e insetos. Estas plantas, assim que se estabelecem no jardim, precisarão de muito pouca água e praticamente nada de fertilizante, o que traz um grande beneficio ambiental. Nos últimos 5 anos, o uso de plantas nativas cresceu muito, assim como a redução da área de gramas.
Na California, praticamente temos somente 3 ou 4 meses por ano de chuvas, o que torna fundamental a escolha de plantas que se beneficiam com este clima seco. Nos meus projetos sempre dou prioridade para o uso de plantas nativas do local e existe uma grande aceitação por parte do cliente.
Aue Paisagismo: Sabemos que sua especialidade são as Hortas Urbanas, o que não é tão comum aqui, conte-nos sobre elas, o interesse das pessoas em ter uma horta.
Na verdade eu combino as hortas com plantas ornamentais, criando pequenas comunidades de plantas que se completam. Quanto mais flores numa horta, mais polinização e um grande aumento de produtividade. Com este sistema de "Plant Guilds", o cliente alem da parte estética possui algo comestível para tirar do jardim. Isto é possível hoje em dia graças ao sistema de gotejamento automático, onde é possível programar exatamente o que cada planta vai receber de água diretamente na raiz.
Aue Paisagismo: Existe uma tendência mais forte e específica nos projetos de paisagismo daí?
A tendência aqui é por jardins de pouca manutenção, que utilize pouca água e fertilizantes e que proporcione um retorno estético que, com certeza, irá trazer uma valorização da propriedade do cliente.
Aue Paisagismo: Sobre a permacultura aplicada ao paisagismo, uma atividade que você exerce, esperamos que nos brinde com um artigo específico para a Revista.
Sem duvida, estou preparando uma matéria sobre o uso da permacultura em jardins residenciais. Tenho certeza que o leitor da AUE Paisagismo vai gostar.
Aue Paisagismo: Você nos disse que acompanha o paisagismo no Brasil através de nossa Revista Auepaisagismo. Quais as diferenças que você percebe entre o paisagismo no Brasil e na Califórnia?
A revista de Paisagismo Digital é, sem comentários, minha leitura preferida para me manter atualizado do que está acontecendo no Brasil em termos de paisagismo.O paisagismo no Brasil está crescendo bastante e tenho certeza que irá crescer muito mais quando o governo regularizar a profissão, existe um potencial enorme, principalmente no setor residencial. Quando fui ao Brasil em julho de 2013, visitei varias floriculturas e notei que não há uma grande diversificação de plantas e materiais a serem usados na construção de jardins. Notei também uma grande deficiência em maquinário, tipo roçadeiras, máquinas de cortar grama e sopradores.
O pouco equipamento que encontrei a venda, achei caro e desatualizado. Já na parte de software, gostei muito do AutoLANDSCAPE, PhotoLANDSCAPE e HydroLANDSCAPE, os 3 têm condições de concorrerem com os melhores programas oferecidos aqui nos USA.
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