Em Portugal: Descubra se as influências climáticas alteram o projeto paisagístico
Autor: Camila Fonseca - Data: 04/07/2011
Neve, sol, chuva, geada e um bom paisagista não fazem mal a ninguém. Isto é o que "dizem" as plantas portuguesas, quando exibem suas mais exuberantes formas, cores e perfumes, devido ao cuidado profissional que recebem. Por Portugal possuir três grandes influências climáticas, como o mediterrâneo (predominante), atlântico e continental, que se distribuem de forma irregular no território, o país garante uma paisagem imensamente diversificada e com grande biodiversidade. Porém, pensar que o alcance a diferentes extensões do clima pode prejudicar as espécies que constituem o paisagismo local, é um equívoco.
O Paisagista Bruno Sousa, de Lisboa,revela a importância em estudar o território e as relações fitossociológicas e fitogeográficas para entender como se dá o paisagismo na região. Dessa maneira, se torna viável perceber como a paisagem se articula no ambiente e captar suas necessidades."É em fase de estudo preliminar, e muitas vezes em fase de estudo prévio, que o projectista deverá proceder a todo um conjunto de análises, que o levaram a uma proposta mais sustentada. A neve ou mesmo a geada, não são condicionantes de projectomas, sim, oportunidades. Poderemos criar projectos maravilhosos tendo em conta estas características", explica.
Vila Real - Portugal / Foto: Guilherme Motta
Para tanto, as plantas planejadas para fazerem parte de um determinado projeto, podem nele permanecer durante muito tempo. Segundo Bruno Sousa, a vegetação colocada enquadra-se na qualidade durável e, portanto, não é esperado que seja necessário mudar de plantas cada vez que altere as estações do ano. "Isso, por razões de sustentabilidade e economia de recursos, a não ser em casos muito específicos. O projectista deverá ter em consideração quais as condicionantes de projecto e transformá-las em oportunidades, e as espécies preconizadas em projecto deverão ser escolhidas tendo em conta o lugar em questão", considera. Hortas urbanas, jardins efémeros, jardins de plantas anuais e/ou vivazes são exemplos também destacados pelo paisagista como espaços que necessitam mudar a vegetação constantemente. E para que a beleza e saúde das espécies sejam mantidas, é necessário que elas sejam adaptáveis ao local.
Como Bruno Sousa esclarece, no paisagismo existe a quarta dimensão e também o "factor incerteza" que torna todo o projeto muito mais interessante. Acontece a troca de energia e informações entre as espécies que compõe o ecossistema de um projeto e, dependo da resiliência e resistência de cada espécie, há a possibilidade de que o espaço dure para sempre. Por isso, não há como generalizar quanto ao tempo de duração de um espaço verde.
"Este aspecto é muito importante em projectos de Arquitectura Paisagista. O projectista não poderá estar a espera que o seu projecto seja mantido para sempre, e nem poderá ser, pois torna-se insustentável. Teremos cada vez mais pensar em projectos adaptados ao espaço e menos em projectos de ´assinatura´. O projecto é mais do que uma imagem que aparece na capa de uma revista", defende.
Assim, mesmo com constantes mudanças ou até a manutenção dos espaços, as plantas necessitam ser devidamente escolhidas para que não seja preciso acomodá-las em estufas ou estruturas similares. "São ferramentas muito dispendiosas não só pela sua aquisição, mas também pela sua manutenção. Pontualmente há casos de pessoas que tem pequenas estufas não para guardar plantas, mas, sim, para produzir hortícolas para consumo próprio", afirma Bruno Sousa. Uma alternativa para cuidar das plantas mais sensíveis à geada, por exemplo, é utilizar plásticos para cobrir o solo, provocando o aquecimento deste, ou até mesmo cobrir a planta com determinado material. De acordo com o paisagista, técnicas artesanais e inúmeras outras são usadas para que se atinja o mesmo objetivo.
Estoril - Portugal / Foto: Guilherme Motta
Ele ainda revela que as melhores espécies para se utilizar num projecto são as espécies do próprio local, pois são essas que respondem melhor ao clima.
"Existe certa rejeição por parte das pessoas na utilização de espécie do ecossistema onde o projecto vai ser feito. Muitas vezes essa rejeição tem a ver com aspectos culturais muito enraizados, prevalecendo assim a utilização de vegetação exótica que, quando colocadas nestes ecossistemas, adquirem comportamentos infestantes e parasitas", pontua. Segundo Bruno Sousa, em Portugal é encontrado dois tipos de intervenção: em espaços públicos e em espaços privados. Nos locais públicos, o projetista fica incumbido de escolher as espécies para os seus planos. "Neste caso depende do conhecimento e da sensibilidade do projectista, para se elaborar um projecto sustentável de baixa manutenção onde a forma ´coze´ com a função harmoniosamente", sustenta. Quanto aos projetos privados, ele afirma que quase sempre existem diferenças entre o que o projetista idealiza, e a escolha do lugar e demais prioridades do proprietário. "Quase sempre a escolha de vegetação proposta pelo dono de obra recai por espécies que o mesmo viu em viagens. Então cabe ao projectista fazer um estudo rigoroso e criterioso, para que o projecto funcione correctamente, devendo expressar nos seus planos e projectos o conhecimento sobre a fitogeografia e fitossociologia da vegetação que utiliza.", relata Bruno Sousa.
Além de todos esses critérios e cuidados, outro fator que se leva em consideração frente ao clima e as espécies é a irrigação. O paisagista informa que se deve conhecer bem as plantas usadas nos projetos, pois suas necessidades hídricas variam de espécie para espécie. "É muita água para um espaço só. E atendendo que existe perdas de água da fonte até à sua utilização, estamos a desperdiçar um recurso valioso, muito mais valioso que qualquer barra de ouro", conclui. Pensando dessa maneira, cabe então ao profissional planejar espaços,a través de seus projetos, que fomentem cada vez mais a sustentabilidade.
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