Entre Flores e Formas: “O Legado de Burle Marx” no MAM

Autor: Giulia Wogel - Data: 28/02/2024

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro dá início as suas comemorações de 75 anos com a mostra “Lugar de estar: o legado de Burle Marx”, disponível até dia 26 de maio de 2024. A exposição conta com um acervo documental do paisagista, assim como trabalhos de 6 artistas contemporâneos que compartilham uma visão parecida com a dele a respeito das relações entre cidade e natureza. A escolha do multiartista como tema se deu não só pela sua trajetória histórica, mas também devido a sua participação na fundação do museu, pois ele é o responsável por projetar seu icônico jardim, relembrando as calçadas de Copacabana. O título “Lugar de estar” foi escolhido por ser a maneira que o paisagista utilizava para apontar as áreas de convivência em seus projetos.

Fonte: Jessica Perez no Pinterest

Entre algumas das obras presentes estão:

O Parque Moça Bonita, um projeto não executado dos anos 1980 para Bangu, na Zona Oeste. Com 150 000 metros quadrados, o local teria preservação da mata densa, um grande espelho d’água e cascatas para banho coletivo.

O projeto para as mudanças no Largo do Machado em 1950, valorizando a vegetação e criando canteiros de formas orgânicas associados a bancos sinuosos.

Um dos primeiros jardins urbanos com linhas modernistas no Brasil, para o Parque do Flamengo que servia como área de lazer e entretenimento.

Desenho de Burle Marx para o Parque do Flamengo

Fonte: O Globo

Além disso, a exposição traz trechos de entrevistas de Burle Marx nos anos 1930 e 1940, que já mostravam esse seu lado ativista. Na época, ele começou a levar para os jardins da cidade cactos e outras espécies do sertão, o que não foi aceito com facilidade pela população, que estava em busca de um estilo de paisagismo mais eurocêntrico. Ainda, ela também destaca como os projetos mudam ao serem apropriados pela população, por exemplo os vídeos concebidos para a mostra pelo artista e coreógrafo Mario Lopes, que apresentam performances de dança em espaços do Rio criados pelo paisagista, como o Largo da Carioca e o calçadão de Copacabana.

Vale ressaltar também que o acervo completo, cerca de 150 mil itens variando entre cartas, croquis e maquetes, serão transferidos até 2028 para a Casa Cavanelas, localizada em Pedro do Rio e assinada por Oscar Niemeyer, com projeto da área externa feita pelo próprio Burle Marx.

Jardim da Casa Cavanelas em Pedro do Rio, por Burle Marx

Fonte: Correio da Manhã

Parte do seu legado pode ser encontrado também em seu sítio, em Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio. O lar de Burle Marx em seus últimos 20 anos de vida é uma experiência botânica completa, que comporta um laboratório, viveiros e jardins, com cerca de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais. Doada em 1985 ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a propriedade de mais de 400 mil m² foi reconhecida em 2021 como Patrimônio Mundial da Unesco e é aberta para visitação.