Entrevista com a Arquiteta Paisagista Daniela Vieira

Autor: Renato Costa - Data: 30/09/2006

Daniela Vieira é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), com pós-graduação em Planejamento Ambiental para o Ecoturismo (Universidade Federal de Lavras). Atualmente, trabalha no Instituto de Desenvolvimento, Pesquisa e Planejamento de Apucarana (IDEPPLAN), no Paraná, um instituto da Prefeitura Municipal de Apucarana. Nessa entrevista, ela nos conta um pouco sobre o trabalho do paisagista nos espaços públicos, sua origem e de que maneira esse trabalho interfere na vida da população.

Aue: Como é trabalhar com paisagismo em espaços públicos?
Daniela:
Mais que gratificante, é um desafio projetar pequenos e grandes espaços para um público tão diversificado, buscando através de uma visão ecossistêmica o planejamento desde pequenos jardins, praças, arborização de ruas aos parques, transformando esses espaços em ambientes equilibrados e atraentes.

Aue: Quais intervenções podem ser feitas para melhorar o ambiente?
Daniela:
Cada ambiente deve ser concebido de forma particular. As condicionantes físicas, bióticas e sócio-econômicas, como a topografia, cobertura vegetal existente, micro-clima, permeabilidade do solo, são fatores essenciais no desenvolvimento do projeto, assim como a utilização e atividades existentes no local e no seu entorno, a apropriação do espaço e intervenções feitas pela própria população, a localização e o papel social do espaço dentro do tecido urbano, os anseios tanto da população e como do poder público, são aspectos que delineiam e orientam a concepção projetual. O projeto deve enfim, ser resultante do processo criativo que considera e valoriza as características e os fatores inter-relacionados ao ambiente em questão, concebendo espaços urbanos que contribuam para uma melhor qualidade de vida e equilíbrio ambiental.

Aue: A intervenção do paisagismo em espaços públicos já é histórica ou vem acontecendo recentemente?
Daniela:
Segundo Sílvio Soares Macedo, o Passeio Público do Rio de Janeiro, concebido pelo Mestre Valentim e inaugurado em 1783, foi o primeiro espaço público brasileiro, voltado ao lazer da população. No séc. XIX tornou-se consolidado o ato de projetar o espaço público, e mesmo apresentando forte influência européia, o uso da vegetação tropical faz surgir um paisagismo com características próprias. Com a expansão da urbanização brasileira e o conseqüente aumento da demanda para o uso e construção de espaços públicos, o paisagismo brasileiro assume identidade própria no séc. XX. O planejamento da paisagem representa hoje, dentre outras funções, uma ferramenta para a transformação de paisagens degradadas, compensando impactos negativos gerados e revestindo os espaços de novos significados e novos usos.

Aue: Quais as dificuldades e facilidades que se têm em projetar e executar um projeto público?
Daniela:
Além das restrições financeiras, nos deparamos com algumas limitações. O espaço deve ser planejado de tal forma que seja acessível a todas as pessoas, e que elas se sintam seguras. O mobiliário deve ser projetado considerando o vandalismo a que os espaços públicos estão sujeitos. A vegetação deve exigir a menor manutenção possível. No entanto, a maior liberdade de criação e desenvolvimento do projeto pode ser citada com uma vantagem de se trabalhar no meio público, principalmente quando se trata de uma administração que valoriza o profissional. Outra facilidade é o trabalho em equipe multidisciplinar, com técnicos tanto da Prefeitura como do Instituto onde trabalho.

Aue: Como a tecnologia pode auxiliar no trabalho do paisagista?
Daniela:
Diante da quantidade e complexidade de trabalhos a serem desenvolvidos em curtos prazos é fundamental o uso de ferramentas que dêem agilidade ao processo de representação gráfica. Desta forma os softwares AutoLANDSCAPE e PhotoLANDSCAPE, suprem esta necessidade, tornando tanto a concepção como a apresentação dos projetos mais eficazes.

Aue: Entre os trabalhos em que participou, qual ou quais você dá destaque?
Daniela:
A atual gestão municipal de Apucarana - PR tem incentivado o turismo religioso, através do programa Caminho das Águas, Circuito da Fé; onde a valorização da natureza e de ícones religiosos torna-se referência e foco do planejamento do ambiente urbano e do turismo. O programa, em desenvolvimento, consiste em um sistema de áreas verdes temáticas interligadas por corredores ecológicos, no caso dos fundos de vale, e por arborização urbana e equipamentos urbanos com características próprias. O desenvolvimento e implantação do Plano de Arborização Urbana e projetos pontuais, como os parques da Bíblia, da Redenção, São Francisco de Assis, consolidam o programa turístico citado.

Aue: Como trabalhar com a população para que o trabalho em espaços públicos seja preservado? Como isso afeta a qualidade de vida da população?
Daniela:
A consideração dos anseios da população no planejamento do espaço, como o uso adequado de materiais e equipamentos, contribuem para a manutenção dos espaços públicos, mas principalmente, a conscientização da população. A participação efetiva no processo de planejamento, acompanhamento dos projetos e o envolvimento da população na manutenção dos espaços públicos, através do programa de Adoção de Áreas Verdes, por exemplo, aumentam a responsabilidade de cada um envolvido direta ou indiretamente no cuidado com o ambiente urbano.


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