Juliana Montenegro e Maria Cândida Carvalho falam sobre paisagismo na região nordeste
Autor: Anita Cid - Data: 05/09/2009
Juliana Montenegro e Maria Cândida Carvalho são formadas em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pós-graduadas em Paisagismo pela Universidade Castelo Branco - RJ. São proprietárias da Flora Nativa, empresa especializada em projetos de arquitetura paisagística.
AuE Soluções: Como o paisagismo contribui na qualidade de vida da população?
Juliana e Maria Cândida: O Planejamento da Paisagem é fundamental para garantir nossa saúde física e mental e o bem estar da população, proporcionando através do contato com a natureza, opções de relaxamento, de fuga do corre-corre do dia a dia, garantindo assim, a preservação do meio ambiente e, consequentemente, nossa qualidade de vida.
AuE Soluções: Como é o paisagismo na região nordeste do país? A profissão é valorizada e demandada?
Juliana e Maria Cândida: Cada dia mais as pessoas vêm se conscientizando da importância da arquitetura paisagística no planejamento das cidades e aqui isso não é diferente. A Flora Nativa vem plantando essa semente há oito anos em Natal e, agora, em Fortaleza, através da conscientização da população sobre a importância de um planejamento da paisagem bem elaborado. Essa conscientização vem acontecendo na Prefeitura, na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB), com a sistematização de projetos educativos, da preocupação com as áreas verdes e da criação do Termo de Referência que norteia a elaboração e análise do projeto de arquitetura paisagística. Na construção civil, percebe-se os empreendimentos são vendidos não apenas pela área do apartamento ou número de quartos, mas também pelo que ele vai oferecer em termos de lazer. Isso reflete a mudança no conceito de moradia.
AuE Soluções: Atualmente vocês são coordenadoras do Núcleo Regional da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) Rio Grande do Norte. Como este núcleo foi oficializado e o que ele agrega para os profissionais e clientes de paisagismo da região?
Juliana e Maria Cândida: O núcleo regional da ABAP foi oficializado recentemente durante as palestras de abertura do Seminário de Comemoração dos 100 anos de Burle Marx, que ocorreu na semana dos dias 24 a 28 de agosto, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Participamos da abertura do Seminário e aproveitamos a oportunidade para falar sobre temas diversos: Arquitetura Paisagística, Roberto Burle Marx, sua influência nos nossos projetos e sobre a ABAP. Neste momento, pudemos mostrar a importância da ABAP para os profissionais e para a população: promoção da profissão do arquiteto paisagista, de cursos, visitas técnicas, palestras, encontros e seminários de aperfeiçoamento profissional, além de exposições, publicações e outras atividades e esclarecimento da importância de uma visão mais consciente e sustentável nas questões de preservação do meio ambiente, respeitando e valorizando nossas paisagens naturais e urbanas.
A criação do Núcleo Natal/RN permitirá tornar viáveis esses objetivos na cidade, no Estado, na região, uma vez que é o segundo núcleo da região Nordeste. Além de podermos colaborar não só como profissionais, mas como entidade na tentativa de estabelecermos, junto aos Órgãos executores, critérios adequados para um correto planejamento da paisagem. Aproveitamos a oportunidade para convidar a todos para o Congresso Mundial de Arquitetura Paisagística - 46º IFLA WORLD CONGRESS - promovido pela ABAP e a IFLA, que desta vez acontecerá no Brasil, no Rio de Janeiro, entre os dias 21 e 23 de outubro de 2009, simultaneamente ao 2º Congresso Internacional da ABAP.
AuE Soluções: Encontramos no Nordeste brasileiro diversos tipos de vegetação como Mata Atlântica, Mata dos Cocais, Cerrado, Caatinga, Matas Ciliares e Vegetação Litorânea. Como utilizar estes diferentes tipos de vegetação em projetos paisagísticos?
Juliana e Maria Cândida: A diversidade é uma característica de nosso país.
Juliana e Maria Cândida: Trabalhamos respeitando essa diversidade em equilíbrio com o meio ambiente. Procuramos utilizar espécies nativas, mas trabalhamos quando possível, com espécies que se adéquem ao clima local. Para isso, contamos com uma equipe multidisciplinar que concebe e executa a paisagem. O ato de projetar espaços deve buscar sempre uma solução estético-funcional que valorize e respeite nossas paisagens.
AuE Soluções: A diversidade da flora nordestina propicia o uso de diferentes espécies botânicas em projetos paisagísticos? Quais são as principais plantas utilizadas por vocês em seus projetos?
Juliana e Maria Cândida: Com certeza. Ao contrário do que pode sugerir a clássica imagem do sertão calcinado, no Nordeste viceja nada menos de 40% da flora brasileira. Os clientes costumam solicitar jardins que sejam de fácil manutenção e que possuam espécies resistentes. As espécies tropicais, que se adaptam bem ao nosso clima, como as helicônias estão sempre presentes nos nossos projetos, oferecendo um caráter exótico e cores vibrantes, assim como os pândanos, fórmios, dracenas, bromeliáceas, marantas, entre muitas outras, utilizando sempre um tratamento simultâneo de cores, texturas, ritmos, e outros elementos de composição.
AuE Soluções: Encontramos no nordeste diferentes tipos de clima como clima litorâneo, semi-árido e tropical. O que levar em consideração ao realizar um projeto paisagístico em cada um destes tipos de clima?
Juliana e Maria Cândida: Devemos levar em consideração os fatores que influenciam os climas brasileiros: as condições de temperatura, altitude, pressão e proximidade com o oceano, resultando em paisagens vegetais bastante variadas. Essa característica é o que permite que o nosso país tenha o ecossistema mais variado e complexo no mundo. Aqui no Nordeste, percebemos no clima tropical a presença de espécies arbustivas de casca grossa e gramíneas. Já nas áreas adjacentes aos rios, há a presença constante de matas ciliares. O chamado clima tropical atlântico predomina em praticamente toda a faixa litorânea brasileira, a vegetação desta área é composta pela chamada Mata Atlântica, constituindo uma das áreas vegetais que mais sofreram com a devastação. Já o clima semi-árido estende-se pelos territórios correspondentes ao sertão nordestino, possui como vegetação correspondente a caatinga, encerrando vegetais de feições retorcidas e espinhosas, com grande constância de cactáceas. Portanto, o importante é entendermos como esse sistema funciona, quais seus condicionantes a fim de obtermos uma intervenção coerente e mais próxima da realidade, sem agredirmos a paisagem.
AuE Soluções: Como vocês criam projetos personalizados que refletem o gosto de seus clientes?
Juliana e Maria Cândida: Através da utilização de materiais ecologicamente corretos, do uso adequado das espécies vegetais, e do cuidado com a compreensão por parte dos usuários, do espaço concebido, gerando resultados sustentáveis. Além disso, os espaços são pensados de forma a trabalhar os cinco sentidos: paladar, olfato, visão, audição e tato, através da criação de locais como: hortas, pomares, espaços gourmet, caramanchões com trepadeiras que exalem um perfume agradável, espaços contemplativos e de estar como mirantes e gazebos, fontes, espelhos de água, cascatas, áreas de lazer em geral, playgrounds e áreas destinadas à prática de esportes. A escolha da vegetação deve ser feita com base na análise das cores, cheiro, formas, texturas e como elas se relacionam com os elementos construídos. O espaço deve ser projetado para ser utilizado durante o dia e a noite, portanto um correto estudo luminotécnico, também se faz necessário.
AuE Soluções: Como vocês utilizam o software AutoLANDSCAPE para executar seus trabalhos?
Juliana e Maria Cândida: Utilizamos o AutoLANDSCAPE porque primamos pela qualidade gráfica dos nossos projetos e somos exigentes quanto ao detalhamento dos mesmos e aos prazos de entrega, permitindo um desenho limpo e rápido. Com esse software podemos ainda elaborar os pré-orçamentos, tão importantes na apresentação e aprovação dos projetos e um manual de cuidados que traz as características das espécies utilizadas.
AuE Soluções: Dentre os projetos que vocês realizaram qual deles vocês destacariam? Conte-nos um pouco sobre ele.
Juliana e Maria Cândida: Temos por todos os nossos projetos um carinho especial e os tratamos com o mesmo cuidado no que diz respeito à intervenção na paisagem, independente da escala e do ambiente em que ele se insere. Dessa forma, é difícil eleger apenas um. Na intenção de mostrar que o planejamento da paisagem não se restringe apenas às grandes áreas naturais e/ou urbanas, escolhemos o Residencial Belle Vue por se tratar de um empreendimento que, apesar da pequena área e de ter sido concebido sobre laje, trouxe o verde através dos diversos estratos vegetais utilizados em conformidade com os patamares e jardineiras em vários níveis que foram idealizados de forma a tornar o espaço arborizado e acessível, contribuindo para a qualidade de vida dos seus usuários. Possui um traçado orgânico com espaços destinados ao lazer contemplativo e recreativo, tais como espelho de água, mirantes, estares, caramanchões, piscinas infantil e adulto com cascata, deck molhado, espaços gourmet, playground, espaço kids e quadra poliesportiva.
Veja também a planta baixa deste projeto realizada com o software AutoLANDSCAPE
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