Agustin Ishigaki e o mercado competitivo de Paisagismo no Paraguai
Autor: Josué Magrani - Data: 22/12/2022
No último mês de dezembro a equipe da AuE Paisagismo teve o prazer de conversar com Agustin Ishigaki, um engenheiro agrônomo e paisagista que reside e trabalha em Juan Eulogio Estigarribia, Paraguai. Durante os 40 minutos de conversa muitos temas foram abordados, abrangendo desde sua entrada no mercado de trabalho, passando pela situação do paisagismo em sua região, dificuldades da área, inspirações para criação de projetos e muito mais! Veja Abaixo:
Formação e início de carreira
Apesar de morar no Paraguai, Ishigaki fez sua formação na Argentina e voltou para seu país para trabalhar na empresa de sua família que posteriormente veio a fechar, levando o agrônomo a ter que buscar novos serviços e, consequentemente, adentrar no paisagismo. Suas bases iniciais foram sua formação acadêmica e um curso de espaços verdes e design de jardins que ele usou para projetar um pequeno jardim para um amigo e logo de início encontrou desafio no conhecimento das plantas e no aprendizado sobre seus comportamentos e adaptabilidade do espaço.
Sua intenção sempre foi a de ter um corpo multidisciplinar de profissionais capacitados na área trabalhando junto com ele para oferecer serviços em áreas como arquitetura, design de interiores e paisagismo, dessa forma seria possível entregar para o cliente um projeto completo, evitando assim problemas com o cliente que pode achar ter recebido menos do que esperava:
“O arquiteto vem e projeta, um construtor faz a casa, porém depois descobrem que: Ah mas meus móveis estão faltando, Ah, mas eu não tenho meu jardim.”
Porém trabalhar com outros profissionais se mostrou difícil no começo, o que fez Agustin iniciar sua carreira sozinho, vindo a realizar este sonho de projetar com outros profissionais somente pouco tempo antes de 2020, quando a pandemia estourou.
“A gente realmente começou a trabalhar como era o sonho inicial, ou seja, o fato de poder oferecer ao cliente o espaço do que seria sua casa, sua habitação, sua residência ao que é o jardim e tudo que envolve e complementa a construção.”
Por não lidar tão bem com redes sociais, quase toda a divulgação responsável pela captação de novos projetos veio diretamente através do “boca a boca”, algo impulsionado ainda pelo bom relacionamento que sua empresa sempre tenta buscar com seus clientes. Com a chegada de novos e maiores projetos, ter um conhecimento mais aprofundado se mostra necessário, sabendo disso Agustin continuou estudando e está terminando um mestrado em Paisagismo do Ambiente Urbano.
O mercado competitivo, as dificuldades e motivações
Mais de uma vez Ishigaki nos atenta sobre o mercado do Paisagismo cada vez mais em crescimento no Paraguai mas também em todo mundo. Durante seu mestrado ele pôde ver um progresso nas estatísticas da necessidade de paisagistas trabalhando em setores públicos e privados. De acordo com ele, há uma busca para melhorar a aparência dos espaços no país que dá uma boa perspectiva para o futuro do paisagismo. Apesar da popularização, o paisagismo continua sendo um luxo que nem todos querem fazer ou mesmo podem arcar ainda, de acordo com Ishigaki, uma dificuldade que se mostra na contramão deste crescimento são as pessoas que por tradição não veem a importância de um paisagista, acreditando que se trata apenas do trabalho de plantio e desconsiderando todo o projeto pré concebido, mas esta situação se apresenta principalmente em gerações antigas e a tendência é ir diminuindo com o tempo:
“Sempre há excessões, mas a maioria tem dificuldade em pensar que você tem que pagar para um profissional para que possa fazer aquele desenho. Quer dizer, é o mesmo que dizer “bom, mas plantando uma árvore eu também planto, e as flores eu também faço isso” (...) mas quando se vê a árvore como um profissional, sempre se encontram diferenças muito importantes em aspectos funcionais e estéticos”
Uma de suas maiores motivações na área é, trabalhando em uma região tropical, saber as respostas obtidas de cada planta em relação ao seu volume, crescimento de folhas e número de flores ao longo do ano. São questões como essa que se apresentam em diversos tipos de trabalho e que muitas vezes são desafios a serem superados.
Pós pandemia X Paisagismo
Tem sido comum nas últimas entrevistas questionarmos aos nossos convidados como este período entre 2020 e 2022 afetou o trabalho que exercem, e parece unanimidade entre eles que, com o lockdown, as pessoas começaram a buscar no paisagismo uma forma de embelezar e trazer mais vida para o ambiente residencial ao qual ficaram confinados, seja no momento em que não podiam sair de casa, seja no momento em que a vida estava voltando ao normal mas as viagens para outros estados e países ainda estavam suspensas. Para Ishigaki não foi diferente:
“Praticamente um mês parado, mas depois, cada vez mais e mais clientes vieram não somente querendo um jardim, mas muitas vezes só me pedem o projeto, em outros casos serviços relacionados à manutenção, serviços relacionados à construção.
(...)É parte do que eu estava falando para você, provavelmente muitas das pessoas que estavam viajando ou que ficaram um tempo paradas em casa disseram: acho que está na hora de arrumar nosso pátio ou nosso jardim. (...) Não podiam sair do país então falaram: Bom, a gente faz “turismo” interno e também em casa.”
Para o futuro, Agustin acredita que o paisagismo ainda tem um grande potencial de crescimento, englobando neste meio áreas como arquitetura e agronomia, e isto se dá pela questão climática que estamos vivendo. Com o aumento da temperatura global e a resistência da natureza abalada cresce também a necessidade de que os governos e populações comecem a trabalhar em projetos que visam cuidar do planeta. Várias cidades ao redor do mundo estão atrás de poder aumentar suas áreas infraestruturas sustentáveis, o que proporcionalmente aumenta a quantidade de trabalho e dedicação por parte dos profissionais responsáveis por esta área.
“Nesse aspecto acredito que sempre há muito ensinamento e fala-se de poder aumentar novamente a biodiversidade que se perdeu (...) vê-se quanta massa de floresta se perdeu, pelo menos aqui no Paraguai
A Autoralidade no Paisagismo
Para Agustin não há muito interesse em repetir elementos e materiais em todo trabalho, um dos motivos que o leva a pensar desta forma é que, para profissionais que se dedicam ao design e construção de jardins, é necessário integrar todos os elementos que irão compor o espaço, como cada local possui um tamanho e configuração diferente é necessário que se faça um paisagismo que seja comportado pela área. Usando o Paraguai como modelo, ele diz que não há muitos viveiros preparados para grandes trabalhos, não podendo receber plantas muito grandes ou mesmo uma grande quantidade delas. Dito isso, é comum encontrar em seus jardins plantas que possuem pouca necessidade de manutenção, geralmente a pedido de clientes que não podem manter uma rotina de cuidados extensivos com o jardim.
O paisagista ainda possui três preferências ao trabalhar em jardins, a primeira sendo a utilização de espécies nativas do local, tanto pela preservação da flora natural, quanto pela adaptabilidade da planta ao local que permitirá uma manutenção menos frequente. A segunda é optar por fazer jardins assimétricos, mantendo as formas irregulares para dar uma sensação de maior proximidade com a natureza. Para isso ele busca inspiração em jardins orientais e também nos ingleses que vão na contramão da simetria européia. Por último, Agustin gosta muito de integrar pedras nos trabalhos, o interessante disso é que, para ele, esta característica pode estar ligada ao seu sobrenome:
“ Meu sobrenome é japonês, meu pai é japonês, Ishi significa Pedra e Gaki é parede (Ishigaki = Muro de Pedra). Então eu acho que de certa forma eu tento incorporar aquelas rochas na paisagem e de alguma forma dando a entender um pouco as minhas origens.”
Depoimento
Inicialmente Agustin utilizava principalmente desenhos a mão e um software dos Estados Unidos que o permitia desenvolver desenhos rapidamente, isso era possível pois na época os projetos eram bem simples, porém ferramentas mais pesadas como o AutoCAD começaram a se mostrar necessárias conforme os mesmos foram se tornando mais complexos. Outro software que se fez presente a partir deste momento foi o AutoLANDSCAPE:
“Eu Estava buscando aumentar o rigor técnico dos meus trabalhos na busca por uma planta baixa com a possibilidade de ter uma lista de plantas que realmente estão presentes na região. (...) E que neste caso aqui (Paraguai) é muito perto do local onde o software AutoLANDSCAPE é produzido.
Temos disponíveis muitas plantas que usamos nos projetos, portanto é um software que estou usando hoje para poder dar um acabamento melhor no que tem a ver a parte técnica.”
Uma mensagem aos leitores
No final de cada entrevista é comum perguntarmos ao nosso convidado se há ainda alguma dica para pessoas que estão iniciando sua jornada no paisagismo, e Agustin decidiu parafrasear o que ouviu de um professor na época em que ele dava aula em uma Universidade e que o marcou significativamente:
“Aquilo que guardamos para nós mesmos acaba nos fazendo voltar atrás e aquilo que compartilhamos acaba nos ajudando a crescer”
Esta frase certamente não é exclusiva para os profissionais de paisagismo, mas para qualquer área a ser seguida, é como Agustin nos conta ao fim da entrevista: não há segredo ou receita que possa ser guardado, mesmo que esta seja a dica de alguns profissionais, ele acredita que o melhor que podemos fazer é compartilhar nosso conhecimento com os outros, principalmente no caso do paisagismo que se trata de uma área conectada com a natureza e poder ver o desenvolvimento das plantas é como ver o crescimento dos filhos e poder presenciar aquilo que no princípio era uma ideia se tornar algo prático que a curto, médio ou longo prazo poderá dar a satisfação de ter realizado um sonho, principalmente por estarem trabalhando com matéria viva.
Assista a Entrevista na íntegra:
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