Cristiane Heringer fala sobre paisagismo na região Norte do Brasil
Autor: Anita Cid - Data: 05/01/2008
Cristiane Heringer Santana é graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Goiás (UCG) e pela Universidade da Amazônia (UMANA) e pós graduada em Engenharia da Segurança do Trabalho. Atualmente é arquiteta contratada da prefeitura de Imperatriz- MA.
AuE Soluções: Como você se tornou paisagista?
Cristiane: Cursei faculdade de Arquitetura em Belém, PA. Me formei em 1998 e comecei a trabalhar em seguida. Infelizmente a disciplina de paisagismo não era oferecida na faculdade o que me obrigou a procurar novos caminhos e pesquisar alternativas. Foi aí que descobri o AutoLANDSCAPE, que vem me auxiliando há sete anos.
AuE Soluções: Qual é o conceito dos seus jardins? Contemporâneo, clássico, tropical...
Cristiane: Gosto muito do contemporâneo, um espaço bem limpo, onde cada espécie pode ser valorizada com iluminação, pedras e elementos de decoração.
AuE Soluções: Como é o paisagismo na região Norte do país? A profissão é valorizada?
Cristiane: O paisagismo deveria ser mais valorizado dentro do ambiente acadêmico. As faculdades deixam muito a desejar ao tratar essa disciplina. Acho que quando o projeto de paisagismo nasce integrado ao projeto de arquitetura o resultado é surpreendente. Aqui na nossa região ainda enfrentamos muita dificuldade em implantar um projeto de paisagismo bem trabalhado, as pessoas confundem o paisagista, que concebe o espaço, com o jardineiro, que da manutenção nesse espaço.
AuE Soluções: Existem muitas espécies típicas da região? Cite, por favor, alguns exemplos?
Cristiane: A espécie mais típica e conhecida aqui do Maranhão é o Babaçu (Orbignya phalerata), no Pará temos o Açaí (Euterpe oleracea), mas infelizmente ainda vemos nossos babaçuais sendo destruídos, derrubados para dar espaço a pastos e agricultura. O Babaçu é uma palmeira linda, que pode ser utilizada em jardins, o único cuidado é na hora da implantação, pois ela produz o coco Babaçu, que quando maduro despenca dos cachos e pode provocar acidentes.
AuE Soluções: Você usa estas espécies para criar projetos diferenciados? Como utilizá-las?
Cristiane: Já tentei usar o Babaçu, ou pelo menos preservá-lo em terrenos onde ele se encontrava nativo; mas muitas pessoas são resistentes a isso, na verdade temos que gerar uma consciência de valorização daquilo que é regional, e acabar com a idéia de se importar tudo de outros lugares.
AuE Soluções: O clima na região Norte do Brasil e caracterizado por ser muito quente e ter períodos de chuvas bem marcados: seca de junho a novembro, e grande volume de precipitação, entre dezembro e maio. Como adaptar o projeto paisagístico a essas variáveis?
Cristiane: Utilizamos muitas espécies mais rusticas, que aguentem bem o sol forte, aqui apesar de termos chuvas num período bem definido do ano, a temperatura não varia muito, ou seja, o que prevalece é o calor, mesmo em dias chuvosos. As Agaves são ótima escolha para o clima do Maranhão.
AuE Soluções: Você acredita que com o constante debate da mídia sobre temas como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio, profissões ligados à natureza, como é o caso do paisagismo, ganham mais destaque, especialmente em localidades quentes como o Norte do país?
Cristiane: Acredito que a informação é a melhor maneira para que as pessoas comecem a tomar novas posições, a mudar forma de pensar e agir.
| "Se o paisagismo fosse elaborado no início muitas espécies já poderiam ser plantadas e estariam crescendo durante a obra" | | |
AuE Soluções: Atualmente, nota-se no paisagismo uma forte tendência por resultados rápidos. Desta forma, decresce o número de árvores nos projetos paisagísticos, o que é preocupante. Você percebe esta tendência na região Norte também? O que fazer para mudá-la?
Cristiane: Essa tendência realmente é forte; as pessoas querem um jardim pronto, justamente porque deixam essa etapa da obra para o final, não a encaram como um projeto que deve ser pensado juntamente com a arquitetura. Se o paisagismo fosse elaborado no início muitas espécies já poderiam ser plantadas e estariam crescendo durante a obra. O município deveria atuar mais para incentivar as pessoas a cultivar árvores, através de campanhas educativas, de distribuição de mudas, de manutenção de viveiros, de arborização de vias e canteiros públicos, de incentivos fiscais à aqueles bairros ou ruas que investissem em arborização e também de forma punitiva à aqueles que cortarem as árvores existentes.
Veja um projeto realizado pela arquiteta Cristiane Heringer