Saiba como projetos de paisagismo beneficiam regiões em que a seca é recorrente
Autor: Camila Fonseca - Data: 05/10/2011
Saber a importância de um projeto paisagístico e, principalmente, de irrigação para otimizar áreas que sofrem com a seca, é primordial para o profissional que atua no segmento. O Paisagista Gilmar Pio Fernandes, que trabalha em Brasília - região tão afetada pela falta de umidade - esclarece as premissas básicas das maiores necessidades dessa região e o que fazer para mudar esta realidade.
AuE Soluções: O que você considera essencial na elaboração de um projeto paisagístico?
Gilmar Fernandes: Um bom projeto paisagístico começa pelo levantamento de informações, tanto em relação aos usuários quanto em relação ao local onde será implantado o projeto. A identificação dos desejos, anseios e necessidades dos usuários é de fundamental importância, assim como, as características do local: topografia, clima, vegetação, dentre outros. Como conseqüência da análise dessas informações é possível apresentar uma proposta para apreciação do usuário que identifique problemas e apresente soluções atendendo às suas expectativas e, ao mesmo tempo, ambientalmente sustentável por incorporar as características naturais favoráveis e trabalhar as desfavoráveis levantadas no terreno.
AuE Soluções: Com o período de seca em Brasília, é preciso alterar sua forma de trabalho ou tomar algum cuidado especial ao desenvolver sua idéia?
Gilmar Fernandes: Brasília tem duas estações muito distintas: a estação chuvosa que vai de outubro a abril e a estação seca de maio a setembro. Na seca, a umidade relativa do ar, cai de um valor acima de 70% para 20%, podendo chegar a 13% no final deste período, como aconteceu neste ano onde a umidade caiu a 10% nos dias mais secos. Conhecer bem as características ambientais do local de implantação do projeto paisagístico é muito importante para o seu sucesso pois, a escolha das espécies deve recair sobre aquelas que possam ser adaptadas ao clima ou as que sejam resistentes. Plantas que demandem pouca água e que estejam acostumadas ao ciclo de seca e chuva, como as espécies do bioma do cerrado, constituem-se como boa opção, além de ser ecologicamente correta.
AuE Soluções: Qual a importância de um projeto de irrigação, principalmente nas regiões onde enfrentam forte seca no período de inverno?
Gilmar Fernandes: Nesse período de seca o desenvolvimento de muitas plantas fica prejudicado podendo até morrer, caso não haja um fornecimento adequado de água. A manutenção dos jardins com a irrigação bem planejada, portanto, é fundamental para contornar essa situação com o fornecimento de água em quantidades suficientes e locais exatos atendendo as necessidades específicas das espécies escolhidas. É bom lembrar que, tanto a falta quanto o excesso de água, é prejudicial às plantas, assim, é importante observar que a distribuição de uma mesma espécie, no jardim, poderá estar agrupada ou isolada e à sombra ou exposta ao sol, pois a necessidade de água irá mudar de acordo com essa composição. O projeto de irrigação possibilita a manutenção adequada de jardins aliada à utilização racional de água propiciando economia e evitando desperdício.
AuE Soluções: Existe alguma peculiaridade do D.F. no quesito paisagismo? Se sim, qual?
Gilmar Fernandes: A arborização inicial do Distrito Federal (DF) foi feita com base na experiência de projetos e espécies utilizadas em outras regiões. Muitas espécies utilizadas, à época, não se adaptaram bem às condições climáticas da nova capital. Pela experiência anterior e de posse de novos conhecimentos adquiridos, a NOVACAP, área responsável pelos jardins de Brasília, introduziu novas espécies, principalmente do bioma do cerrado. Hoje, é possível ver que essa experiência deu certo e que certas espécies "exóticas" deram lugar as espécies nativas da região como as copaíbas, angicos, pequis e os ipês que com suas lindas floradas colorem o céu da capital contrastando com a grama seca e queimada.
O paisagismo local também vem evoluindo no sentido de valorizar as espécies nativas do Centro-Oeste. Hoje é possível encontrar espécies mais adaptadas à região, assim como, várias espécies do cerrado que são reproduzidas e disponibilizadas nos viveiros locais. Para exemplificar essa perspectiva, cito o projeto paisagístico feito, em 2010, para a criação do cinturão verde do Bosque dos Constituintes, por meio de parceria entre a Câmara dos Deputados e a Escola de Paisagismo de Brasília (EPB). Fiz parte do grupo envolvido no projeto que foi composto por professores e estudantes da EPB. A exigência era que fossem utilizadas somente espécies nativas do bioma cerrado que tivessem ocorrência no DF e que não fossem exigentes em água. (Veja projeto abaixo)
AuE Soluções: Você se inspira nos elementos locais ou tenta abranger ao máximo seu trabalho?
Gilmar Fernandes: Ter a possibilidade de abranger ao máximo o meu trabalho é muito importante, mas a inspiração de elementos locais é muito grande. Fui criado na região dos cerrados, nasci em Minas Gerais e vim para Brasília em 1964. Na minha infância, passava as férias escolares na fazenda do meu avô em Cristalina-GO. Andava pelas matas, pescava, andava à cavalo e nadava no rio em contato intenso com a natureza. Assim, o cerrado, a mata ciliar, as veredas, os brejos e os cantos típicos dos pássaros da região, que permearam a minha infância, são fontes de inspiração para o meu trabalho.
AuE Soluções: Como é a sua relação com a região?
Gilmar Fernandes: Para continuar mantendo contato mais próximo com a natureza, assim que surgiu a oportunidade comprei uma chácara perto de Planaltina-DF. Atualmente, tenho um criadouro de aves silvestres autorizado pelo IBAMA, recuperei e ampliei a mata ciliar e a área de cerrado da propriedade, bem como, plantei vários tipos de plantas para atração da avifauna local. O resultado foi alcançado e várias espécies visitam a propriedade em busca de alimentação, refúgio e reprodução. A expansão da fronteira agropecuária para a região do Centro-Oeste a custa da derrubada do cerrado foi visível, bem como, a destruição de grande parte do cerrado mineiro pelas carvoarias para alimentar as siderúrgicas e para a expansão da agropecuária.
Minha família possui uma fazenda em Paracatu-MG e nas redondezas da propriedade vi córregos e veredas secarem na região, coisa que não acontecia antes, pois a terra era preparada para plantio até a beira dos córregos. As áreas brejadas de algumas veredas eram drenadas, basta lembrar do programa do governo que incentivava o plantio em áreas alagadas chamado Pró-várzea e que, hoje, constitui-se em crime ambiental. Talvez, por tudo isso, comecei cedo a dar a minha cota de contribuição para a natureza utilizando seus recursos mais racionalmente, principalmente, a água.
Lago artificial construído na chácara
AuE Soluções: Como é tratada a água no DF?
Gilmar Fernandes: No Distrito Federal não há grandes rios e a demanda por água é cada vez maior, o que gera conflitos para a sua utilização. Tenho acompanhado a discussão por ser um dos representantes dos produtores da região da Taquara, área rural do DF, onde situa-se a minha chácara. O córrego Taquara situado na região de Planaltina - DF é afluente do Ribeirão Pipiripau cuja Bacia hidrográfica localiza-se no Distrito Federal e no Estado de Goiás. Foi nessa região que começou, de forma maciça, o processo de outorga de água no Distrito Federal pelas entidades gestoras Agência Nacional de Água (ANA) e ADASA - órgão local englobando três núcleos rurais: Taquara, Pipiripau e Santos Dumont. A outorga expedida tinha prazo de validade de 5 anos e estamos agora em processo de renovação. A região da bacia do Pipiripau foi escolhida para a implantação do programa "Produtor de Água" no DF que pretende oferecer recursos para proteger e aumentar a oferta hídrica na bacia prevendo, ainda, a remuneração dos participantes por meio de Pagamento por Serviços Ambientais. A primeira experiência na região do DF começará pelo Ribeirão Taquara.
AuE Soluções: Como você vê o HydroLANDSCAPE, no que diz respeito à sua capacidade de auxílio no projeto de irrigação, nesse mercado?
Gilmar Fernandes: O HydroLANDSCAPE é uma ferramenta que agiliza a elaboração de projetos de irrigação tornando essa tarefa fácil porque possui a mesma interface dos produtos da AUE Soluções, como o PhotoLANDSCAPE e o AutoLANDSCAPE possibilitando a padronização dos projetos a serem apresentados aos clientes.
AuE Soluções: O que você faz para lidar com a ausência de umidade do ar quando elas começam a afetar as plantas e podem acabar por comprometer seu projeto?
Gilmar Fernandes: Esse problema é resolvido com um bom projeto de irrigação como já desenvolvido em questão anterior.
AuE Soluções: A região, em si, investe em irrigação como alternativa de melhorar a qualidade dos espaços verdes?
Gilmar Fernandes: A irrigação na área pública é feita apenas em alguns canteiros centrais de Brasília por caminhões-pipas. Na área privada há mais investimentos na irrigação dos espaços verdes. Existe uma tendência atual em relação à utilização de plantas mais adaptadas ao clima, assim como, a diminuição de grandes áreas verdes plantadas com gramas visando a redução do uso da água. Existem em outros países, principalmente nos Estados Unidos, técnicas conhecidas como xeriscape ou xeriscaping e xerigation. O conjunto de técnicas que utiliza plantas nativas e resistentes à seca que tem por objetivo reduzir ou mesmo eliminar a necessidade de fornecimento de água, por meio de irrigação denominam-se de xeriscaping ou xeriscape (do Grego "xeros"=seco). Xerigation é a irrigação que utiliza produtos específicos capazes de fornecer a quantidade exata de água sem desperdício, tais como: gotejador, borbulhador e microaspersor.
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