Suzana Maluhy e a Sumaúma Paisagismo Sustentável
Autor: Regina Motta - Data: 07/12/2015
Temos um grande prazer de compartilhar com nossos leitores a conversa que tivemos com a Paisagista Suzana Barbosa Duarte Maluhy, que nos contou sobre a sua empresa Sumaúma Paisagismo Sustentável.
AuE Paisagismo: Como foi a sua escolha desta profissão de paisagista? Quais as dificuldades que encontra e quais a maiores alegrias?
Essa profissão me rondou a vida inteira, mas demorei para ouvir o seu chamado.
Para começar, meu pai era um homem que possuía o "dedo verde": absolutamente tudo o que ele plantava, nascia e crescia bem. Ele era capaz de plantar no mesmo vaso, e isso não é modo de dizer, um cacto bem espinhento com uma avenca e ambos se desenvolverem saudavelmente. Quando já estudante de Biologia, procurava, mas claro que não encontrava, explicações razoáveis para o sucesso dessa e de outras associações igualmente bizarras.
Dentro desta área, percorri vários caminhos até chegar a uma sala de aula e me apaixonar à primeira vista pela missão de ensinar. Dediquei-me durante muitos anos a esse sacerdócio. E durante esse tempo, o paisagismo voltou a me rondar... Sempre participei de projetos de estudo de meio, quando viajávamos com os alunos. Revendo esses projetos, hoje, percebo que observação/descrição/registro fotográfico e a coleta de amostras da vegetação dos locais que visitávamos. À partir desse material, fazíamos uma comparação com o que existia na nossa cidade, tanto em relação à flora quanto em relação à fauna. Foi à partir daí que comecei a cogitar a mudança de profissão.
Assim, após o reencontro com uma amiga de faculdade, Teresa Carrera,, atuante de alguns anos na área, resolvemos nos unir e criar a Sumaúma Paisagismo Sustentável. Desde então, vim me aprimorando por meio de cursos e neste momento estou terminando uma pós-graduação na área, em Arquitetura da Paisagem.
| Os aspectos mais gratificantes da profissão estão relacionados à percepção do quanto a natureza é grata e de como podemos interferir para que essa gratidão se mostre por meio de um projeto e implantação bem sucedidos. | | |
Muitas pesquisas, estudos e garimpagem para encontrar espécies adaptadas às condições ambientais adequadas à nossa filosofia de trabalho, aliados aos resultados obtidos com essa metodologia, mostram que estamos no caminho certo.
Além disso, tem também a possibilidade de apresentarmos aos nossos clientes espécies nativas totalmente desconhecidas para eles e, após explicarmos as vantagens das mesmas, implantarmos no projeto e vermos a satisfação pelos resultados alcançados.
Em relação ao lado negativo, não podemos ignorar o momento político e econômico que estamos vivendo. No meio de uma crise como esta, o paisagismo passa, muitas vezes, a integrar a lista dos supérfluos. Aliado à crise hídrica que vem nos assombrando há mais de um ano e meio, os projetos muitas vezes não saem do papel. Acredito que eu e todos os profissionais que atuam na área do Paisagismo, esperam que isso tudo seja apenas uma fase ruim, na torcida para que passe logo!
AuE Paisagismo: Qual é o conceito que define o Paisagismo Sustentável?
O conceito de paisagismo sustentável se aplica a todo o projeto de paisagismo que visa, além da questão de mobilidade e estética, o impacto positivo no meio ambiente.
Ser sustentável é tomar atitudes que têm por objetivo a utilização do ambiente, de forma que ele se mantenha estável e que também satisfaça às necessidades das gerações futuras.
E isso pode ser feito de várias formas. A utilização de espécies nativas é uma delas. Pela sua grande adaptabilidade da vegetação de forma natural, você tem praticamente zero de perdas de espécimes, economiza regas devido a essa característica; além de benefícios à fauna nativa. Isso sem contar o resgate de espécies esquecidas ou desconhecidas, salvando-as do risco de extinção devido à destruição dos ecossistemas dos quais se originam.
Em um conceito mais macro, temos em mente que a vegetação, ajuda a moldar o clima. Assim, temos muito cuidado em utilizar plantas que favoreçam o sombreamento, a proteção da camada superficial do solo, para que se gere vapor para a atmosfera, umidificando-a; não caindo na tentação de projetar jardins típicos do semiárido, com uso de cactáceas e de suculentas. Se essa moda pega, teremos um agravamento das condições atuais.
Por fim, dentro deste conceito também está incluído o estudo e pesquisa por novas práticas sustentáveis.
A Sumaúma Paisagismo Sustentável não utiliza adubos nem defensivos químicos que contaminam o solo e o lençol freático, e que criam dependência na vegetação e podem ser tóxicos para a fauna. Optamos sempre pelo uso de produtos naturais, a maioria deles preparados por nós.
AuE Paisagismo: Quais os serviços que são prestados pela Sumaúma Paisagismo Sustentável?
O paisagismo engloba três importantes etapas. A primeira delas é o projeto, onde são realizados levantamentos e análises do local para a escolha das espécies, finalizando com um projeto executivo.
Com o projeto aprovado, partimos para a etapa de implantação, feita por jardineiros qualificados e com nosso acompanhamento pessoal. Por fim, temos a manutenção, onde serão tomadas todas as medidas e cuidados para que o projeto continue saudável, sustentável e que mantenha as características originais, como na proposta inicial.
Além do projeto de paisagismo, fazemos também o levantamento e a identificação botânica das espécies arbóreas de um local, com nome científico e popular. Nesse trabalho indicamos se as espécies são nativas ou exóticas, o estado fitossanitário e fazemos a mensuração do DAP (diâmetro à altura do peito) e altura. Por fim, realizamos um relatório completo com recolhimento de ART (anotação de responsabilidade técnica) elaborada por um profissional competente.
AuE Paisagismo: Como você faz a seleção das espécies botânicas? Você leva em consideração a frequência de manutenção no processo de escolha?
A seleção é feita levando-se em conta diversos aspectos: adaptação ao local, clima e se pertence ao ecossistema local. Não somos intransigentes em relação à exóticas, desde que não sejam invasoras, quando elas são as únicas soluções para uma determinada condição ou quando o cliente tem uma apreço muito grande por aquela espécie. Mas sempre damos preferência às espécies locais.
E é claro que levamos em conta a frequência na manutenção! Ainda mais nesses tempos complicados de escassez de água. Além disso, encorajamos nossos clientes a criar formas de armazenamento de água de chuva, como cisternas, vasos com reservatório etc.
AuE Paisagismo: Tem facilidade em conseguir as espécies desejadas para os projetos? Sabe que a Aue Soluções mantém um site o paisagismodigital.com que tem o objetivo de facilitar a vida do profissional e do cliente, disponibilizando fornecedores de produtos e serviços de paisagismo sem qualquer custo adicional para ambos, bastando um clique para encontrar o que precisa?
Não existe essa facilidade. Com o tempo acabamos conhecendo um ou outro produtor que cultiva algumas espécies nativas que costumamos utilizar nos nossos projetos. Existem espécies maravilhosas que vemos em livros e em jardins botânicos, mas muitas vezes não encontramos ninguém que as cultive. Isso frustra um pouco, mas não faz com que desistamos da nossa busca e da nossa filosofia de trabalho.
Em geral, os produtores têm receio de cultivar espécies que não sejam consagradas e conhecidas da maioria dos compradores e, portanto, com menor potencial de venda.
(Comentário em off: algumas vezes entrei em contato com alguns produtores anunciados no site e eles não tinham a espécie que anunciavam ter...)
AuE Paisagismo: Respondendo ao seu comentário em off, lamentamos profundamente que estas falhas aconteçam! Nós disponibilizamos o www.paisagismodigital.com gratuitamente para os fornecedores de produtos e serviços, sem qualquer custo adicional, mantemos o site com grande esforço, com o objetivo de facilitar o contato entre clientes e fornecedores. E é muito decepcionante saber que nosso trabalho é desvalorizado por aqueles que são os maiores beneficiados!
AuE Paisagismo: Você faz a implantação e manutenção de seus projetos? Existe alguma área em que tenha se especializado?
Sim, fazemos o projeto, implantamos e em alguns casos realizamos as manutenções. A manutenção feita por quem implanta é o ideal para que as características iniciais do projeto se mantenham e também para que neste acompanhamento sejam percebidas novas condições, gerando necessidade de alterações discutidas previamente com o cliente.
| Temos de ter sempre em mente que as plantas não são objetos de mobiliário e sim são seres vivos que às vezes não se comportam da maneira que esperávamos, necessitando de adaptações em alguns casos. | | |
Pelo fato de trabalharmos preferencialmente com espécies nativas, no mínimo 60%, sendo que o normal se situa por volta de 75%-80%, nossa especialização ocorreu naturalmente nessa área. Inclusive a monografia que estou desenvolvendo é sobre essa área, digamos, mais alternativa e ecológica do paisagismo, reforçando a característica sustentável do nosso trabalho.
AuE Paisagismo: Como o paisagismo pode contribuir na qualidade de vida da população?
De diversas formas! Melhora o microclima de um local/região, embeleza e trás paz de espírito, favorecendo a contemplação; pode ter um aspecto lúdico e que estimule os sentidos de forma positiva, incentiva a vida ao ar livre, o que proporciona contatos interpessoais e aumento da sensação de segurança graças ao maior numero de pessoas circulando; melhoria das condições de saúde e da autoestima das pessoas; favorece o contato com a natureza servindo como uma via educativa em relação ao respeito ao meio ambiente em todos os seus aspectos, estimulando atitudes sustentáveis.
AuE Paisagismo: Qual o papel do paisagismo em um empreendimento imobiliário?
O paisagismo embeleza e humaniza um projeto. Cria frescor, dá sensação de calma, amortece sons, diminuindo os efeitos da poluição sonora, atrai pássaros e borboletas que acabam se tornando parte integrante do projeto; quebram a frieza do concreto e favorecem o convívio entre as pessoas. Além, é claro, de valorizar o imóvel em 10 a 30%, segundo pesquisas. No caso de um empreendimento comercial, pode favorecer o aumento da produtividade, quando oferece áreas de descanso tranquilas para intervalos entre etapas de trabalhos estressantes.
AuE Paisagismo: Como você utiliza o AutoLANDSCAPE e PhotoLANDSCAPE em seu dia-a-dia profissional? Quais as vantagens de usar os programas?
Ainda sou caloura na utilização desses dois programas. Tenho utilizado mais o PhotoLANDSCAPE. Ele é um programa que facilita imensamente o trabalho do paisagista. As espécies estão ali, prontas para uso e os recursos para melhoria da qualidade da imagem contribuem para que o projeto fique muito próximo ao produto final. Essa fotomontagem é, muitas vezes, o fator que determina o fechamento de um projeto pelo encantamento que causa no cliente.
| Outro fato que faço questão de destacar é a qualidade e disponibilidade do pessoal do suporte técnico, sempre prontos a sanar todas as dúvidas surgidas (e elas não são poucas...), o que nos dá muita segurança no momento de utilizarmos os programas. | | |
AuE Paisagismo: Qual seria a sua recomendação para os jovens que se decidem pela profissão de Paisagista?
Para ser um paisagista é necessário, em primeiro lugar, que se ame a natureza, que tenha senso estético e prático bem desenvolvido, que estude muito as matérias relacionadas à profissão e que leia bastante sobre o assunto; que goste do cheiro da terra e que tenha consciência que muitas vezes terá de colocar a "mão na massa" e que isso será fonte de muito prazer!
AuE Paisagismo: Dentre os projetos que você realizou, qual deles vocês destacaria? Conte-nos um pouco sobre este projeto.
Este projeto foi muito estimulante e gratificante. Na primeira visita a esta casa em uma chácara na cidade de Ibiúna, ela estava na fase final de construção. Foi construída num terreno bem íngreme e por isso foi feito um talude com área muito grande e bastante inclinado que cercava dois lados da construção. A preocupação dos proprietários era que o início do período de chuvas criasse problemas na estrutura, com o desmoronamento da terra usada no talude. Assim, pensamos em utilizar espécies que se adaptassem bem rápido e que oferecessem proteção ao solo no momento em que o período das chuvas de primavera iniciasse.
O projeto demorou a ser aprovado e, nesse caso específico, por sorte as chuvas demoram a acontecer, de modo que tivemos tempo suficiente para implantar e as plantas, para enraizar satisfatoriamente, garantindo assim a estabilidade do talude. Outro problema que tivemos é que quando projetamos o jardim, como a casa não estava finalizada, não nos demos conta de que apesar da parte mais alta do telhado contar com uma calha embutida, o mesmo não se dava na parte mais baixa, e não foi colocada nenhuma posteriormente, como imaginamos.
Assim, quando as chuvas começaram, a água caia do telhado com muito volume e força, de forma que começou a destruir a vegetação abaixo e a criar voçorocas. Solucionamos o problema construindo um caminho de seixos na linha do telhado. Ficou original, bonito e resolveu o problema.
Veja também:
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