Jardins Históricos de Juiz de Fora
Autor: Regina Motta - Data: 05/12/2015
Publicamos aqui, na edição de outubro, uma matéria sobre os jardins históricos brasileiros, pesquisa desenvolvida para a tese de doutoramento da historiadora Cristiane Maria Magalhães, defendida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Jardins Históricos Brasileiros, ricos mas desconhecidos. A matéria atraiu a atenção de nossos leitores que nos solicitaram notícia sobre os representantes de Juiz de Fora catalogados nesta pesquisa:
Sem pretender alcançar o nível intelectual e científico, a Doutora Cristiane Maria Magalhães deixou aqui uma pesquisa superficial atendendo aos nossos leitores interessados.
Conjunto Arquitetônico e paisagístico Usina de Marmelos
Primeira Usina hidrelétrica da América do Sul inaugurada em 1889, foi construída por iniciativa de Bernardo Mascarenhas que desejava utilizar energia hidrelétrica em sua fábrica (Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas) e na iluminação da cidade. Em 22 de agosto de 1889, foi realizada a primeira experiência com a eletricidade e, no dia 5 de setembro de 1889 ocorreu sua inauguração oficial.
Edificação singela está implantada em nível abaixo da Estrada União e Industria. Suas paredes foram edificadas com alvenaria de tijolos maciços aparentes, sobre embasamento de pedra, sendo vazadas por vãos com vergas em arcos abatidos em sequência ritmada. A cobertura de duas águas é recoberta por telhas francesas e tem os beirais ornamentados por lambrequim. Uma pequena torre de seção quadrada e telhado de quatro águas marca a construção.
No local funciona atualmente o Museu Usina de Marmelos Zero que possui em seu acervo a mesa particular de Bernardo Mascarenhas, livros de ata e contabilidade dos primeiros acionistas da CME, contas de luz, rascunho da planta da Usina, máquina de escrever e de calcular, teodolito, tripés de madeira, painel de controle de energia e uma réplica de um gerador utilizado na época cuja fabricação era da Westinghouse além de várias fotografias que mostram a construção da Usina, assim como fotos de Bernardo e sua família e painéis com pequenos textos informativos. Os bens e o acervo são cuidados pela Universidade Federal de Juiz de Fora através de convênio assinado entre esta instituição e a CEMIG, que incorporou a Usina em 1980.
O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico, bem como o Acervo do Espaço Cultural da Usina de Marmelos Zero são tombados pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Localização: Estrada União Indústria Km 182 - Retiro.
Foto: http://www.iepha.mg.gov.br/component/content/article/1/681-iephamg-apresenta-usina
Foto: jornalismoantenado.blogspot.com
Parque Halfeld
Histórico
Com o nome de Largo Municipal, foi o primeiro logradouro público da então Vila de Santo Antônio do Paraibuna. A área foi adquirida pela Câmara Municipal, em 1854, do engenheiro Henrique Guilherme Fernando Halfeld e nessa época o parque não contava com calçamento, o capim crescia depressa e havia sempre atoleiros. Mesmo assim, era ali que se instalavam as companhias de " circo de cavalinhos, touradas e cavalhadas" (Álbum de Juiz de Fora, Albino Esteves).
Em 1880, foi elaborado um projeto seguindo modelo de jardim inglês, objetivando tornar o espaço mais agradável, ficando seu desenvolvimento sob a responsabilidade do arquiteto Miguel Antônio Lallemond que nele propôs a criação de jardins, passeios, fontes e o plantio de árvores.
www.mariadoresguardo.com.br
A segunda intervenção urbanística aconteceu em 1901, quando o Largo Municipal foi completamente remodelado pela Cia. Pantaleone Arcuri e Spinelli com o financiamento de Francisco Mariano Halfeld, filho do engenheiro Henrique Halfeld.
Fizeram " levantamento de canteiros, abertura de ruas, fechamento de outras, um pavilhão central, uma casa para o guarda do jardim, repuxos, lagos, pontes e casas rústicas, reforma do gradil e demais embelezamento do referido logradouro" (História de Juiz de Fora, Paulino de Oliveira), resultando num belo jardim romântico onde caminhos sinuosos acompanhavam o declive do terreno margeando os lagos e os canteiros de diversificada vegetação arbórea, ligando as ruas que o circundavam. Passa a denominar-se então Praça Coronel Halfeld.
Poder-se-ia dizer que o parque contemplava traços semelhantes ao do Passeio Público, no Rio de Janeiro, depois da reforma no século XIX conduzida pelo paisagista francês Augusto Francisco Maria Glaziou que criou "...lagos, rios e pequenas pontes com estrutura, à imitação de bambus..."(Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil - Augusto Silva Telles, pag. 162). O pavilhão, mencionado anteriormente, construído em estilo eclético, foi mais tarde sede da Biblioteca Municipal.
1946 Foto: www.mariadoresguardo.com.br
Novas reformas paisagísticas aconteceram durante as décadas de 50 e 60 tendo a última ocorrido em 1981, quando o Parque Halfeld, como é atualmente conhecido, teve diversas árvores derrubadas e sua área de terra e areia substituídas por novos passeios de pedra portuguesa. Os únicos elementos remanescentes do projeto de 1901 são a ponte e o quiosque com estrutura imitando bambu e o lago.
O Parque Halfeld foi tombado pela Prefeitura em 29 de dezembro de 1989.
Rachel Jardim descreve com poesia o Parque Halfeld:
"O parque, já era outra atmosfera, uma espécie de mundo da fantasia. Soube que cortaram quase todas as árvores, porque estavam "doentes". Eram lindas, antigas, copadas. Existiam pontes e tocas de peixes. Ao meio-dia, parecia tudo parado como um retrato. Os caramanchões emergiam da folhagem. Havia caminhos de cascalho, e as samambaias margeavam o riozinho claro. O velho chafariz onde minhas tias tiravam retratos quando mocinhas, durou pouco. Puseram abaixo para construir um prédio de cimento, onde instalaram a rádio oficial."
Fonte: http://pjf.mg.gov.br/administracao_indireta/funalfa/patrimonio/historico/parque_halfeld.php
Foto Alessandro Andrade
Há tanta beleza e história a ser contada, que deixarei o Parque do Museu Mariano Procópio para a próxima edição da Revista. Aguardem...
Veja também:
* Jardins históricos brasileiros, ricos mas desconhecidos
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