Arquitecta Paisagista Fernanda Rita e o paisagismo de Vilamoura
Autor: Fernanda Maria Rodrigues Rita - Data: 06/02/2013
AuE Paisagismo: Faça uma apresentação pessoal e de sua empresa. Gostaríamos de conhecê-la melhor
Fernanda Rita: Eu sou licenciada em Eng. Agronomica - Ramo Hortofruticola (1997) e em Arquitetura Paisagista pela Universidade do Algarve (2007). Atualmente trabalho na empresa INFRAMOURA em Vilamoura (Algarve - Portugal).
Neste momento a minha atividade profissional cinge-se a projetar o espaço público de Vilamoura (Vilamoura é a primeira grande área residencial e turística totalmente certificada, recebeu uma certificação em Qualidade e Ambiente e é a primeira cidade resort da Europa), a reaqualificar o espaço já existente, e a gerir um viveiro, que fornece as plantas para o espaço por nós gerido.
AuE Paisagismo: Como foi a sua escolha desta profissão de agrônomo paisagista? Quais as dificuldades que encontra e quais a maiores alegrias?
Fernanda Rita: O meu percurso acadêmico começou pela licenciatura em Agronomia, e depois devido à paixão já existente pelo paisagismo, e também pela necessidade de maior conhecimento na área do paisagismo, tirei o curso de Arquitetura Paisagista.
Projeto da 2ªfase da Baixa de Vilamoura - Av. Tivoli (fase final da execução Maio/2012)
As maiores dificuldades da profissão de paisagista prendem-se com a falta de reconhecimento por parte da sociedade, da necessidade de um paisagista. Até há pouco tempo, em Portugal, não era exigido pelas Câmaras Municipais projetos de paisagismo, assinados por Arquitetos Paisagistas (AP), qualquer técnico na área da construção civil e da agronomia podia fazer projetos de paisagismo.
Um dos grandes problemas que Portugal tem, é a falta de Ordenamento do território, problema que podia ser resolvido com uma maior intervenção dos Aps, pois temos uma grande formação nessa área.
As maiores alegrias que tenho como AP é ver o meu projeto ser executado e ver o crescimento das diferentes espécies vegetais darem forma e volume ao espaço, com o passar do tempo.
AuE Paisagismo: Costuma frequentar Congressos e Eventos de Paisagismo?
Fernanda Rita: Sempre que é possível frequento congressos, cursos e outros eventos, pois contribuem para a nossa valorização pessoal/profissional e abrem-nos os horizontes a novas ideias e a novos contatos.
AuE Paisagismo: Como fazer para integrar o gosto do cliente, com a obra arquitetônica e a seleção adequada de espécies botânicas em um projeto paisagístico?
Fernanda Rita: Quando se trabalha para o espaço público é diferente de quando se trabalha para o privado, quando desenho, dado que os meus projectos são para o espaço público, tenho de ter em conta os custos, e a melhor forma de transformar o espaço em algo agradável para o cidadão que usufrui do espaço.
Projecto das Quintinhas - realizado em 2010
Antes de iniciar o trabalho passo várias vezes pelo lugar, onde vai ser implantado o projeto e tento ver-me como uma utente do espaço, ou seja tento ver o outro lado, e imagino o que gostaria de ver, de sentir ao passar por aquele espaço. Depois de sentir o espaço, desenho duas ou mais opções (anteprojeto), até encontrar a solução que vá ao encontro do lugar, por norma a solução encontrada é a que reune consenso de um conjunto de pessoas.
Quando se trabalha para o privado temos todas essas sensações, do que se quer do espaço, são dadas pelo cliente, depois é só integrar na minha concepção do espaço o desejo do cliente. Tal como faço para o espaço público, proponho mais do que uma solução para a zona de intervenção, a diferença é que quem faz a escolha é o cliente.
No que diz respeito à escolha das espécies botânicas,
| no caso público, escolhem-se as plantas que melhor se adequam ao espaço, e as que melhor transmitem as sensações, que pretendo para o local, dou alguma preferência às autóctones. | | |
Nos projectos para privados, tento conjugar o que considero mais adequado para o lugar a intervir, e as preferências do cliente.
Projecto Rua do México (Vilamoura) - Este projeto enquadra-se com a plataforma das bicicletas de uso partilhado de Vilamoura (Vilamoura Public Bikes).
AuE Paisagismo: Como você faz a seleção das espécies botânicas? Você leva em consideração a frequência de manutenção no processo de escolha?
Fernanda Rita: A minha selecção das espécies prende-se com a rusticidade das plantas, a textura, a cor da folha e só depois a flor, pois a maior parte do tempo temos só folha (na maioria das plantas), na necessidade hídrica das mesmas e na forma como poderei integrar inertes, de maneira harmoniosa, sem agredir o conforto visual.
Projeto das Quintinhas - realizado em 2010
Na selecção das espécies arbóreas tento escolher as espécies de acordo com o espaço, ou seja, verifico o espaço que tenho para o desenvolvimento das raízes, a cor da folhagem e o tipo de folhagem, o sombreamento que pretendo e o crescimento. Não sou adepta da utilização de palmeiras, só em situações muito específicas, por exemplo em requalificação, quando já existem alguns elementos.
A escolha das espécies tem de ter sempre em conta a manutenção, pois se temos um grande espaço, não é possível dar a mesma atenção de quando temos um pequeno espaço, como tal temos que ter plantas mais rústicas em grandes espaços e em pequenos espaços temos a hípotese da escolha, depende do cliente.
AuE Paisagismo: Como o paisagismo pode contribuir na qualidade de vida da população?
Fernanda Rita: A qualidade de vida da população depende do espaço que nós paisagistas lhe proporcionamos, ou seja se criarmos espaços agradáveis, iremos fazer com que a população se sinta atraída pelo espaço e o usufrua contribuindo deste modo para o seu bem-estar.
AuE Paisagismo: Qual a sua opinião sobre o papel do paisagismo em um empreendimento imobiliário?
Fernanda Rita: O paisagista contribui para a valorização monetária do empreendimento e para que o impacto produzido no ambiente seja menor.
AuE Paisagismo: Frente às diversas catástrofes naturais que estamos vivenciando, tais como enchentes, vulcões, terremotos, entre outras, as profissões que lidam diretamente com o meio ambiente ganham especial destaque. Qual é o papel do paisagismo neste cenário?
Fernanda Rita: O ordenamento do território é uma das áreas em que o paisagista deveria desempenhar melhor o seu papel,
| pois é-nos dado no nosso percurso universitário ferramentas que contribuem para que nós tenhamos uma visão 360º e, como tal, as nossas decisões sobre uma determinada área geográfica deveriam ser tidas em conta para um melhor ordenamento. | | |
AuE Paisagismo: Dentre os projetos que você realizou, qual deles você destacaria? Conte-nos um pouco sobre este projeto.
Fernanda Rita: Entre os vários projetos que já realizei destaco um, que realizei para uma zona que dá acesso a um colégio. Este trabalho foi importante para mim porque marcou o início dos meus trabalhos em Vilamoura, como paisagista.
O meu estilo, que se revelou na conjuntura de materiais e plantas, e que posteriormente vim a adotar, foi definido aqui. Este projeto prima pelo aproveitamento das espécies arbóreas existentes, todas as formas do projeto adaptaram-se a estas espécies, dando-lhe vida e dignidade.
Projeto:
http://www.inframoura.pt/
http://www.rhynchophorus.net/
contato: f.rpaisagismosapo.pt
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