Beleza que não se vê
Autor: Marinês Eiterer - Bióloga - Data: 03/08/2006
O que habitualmente admiramos em uma planta, é apenas a ponta de um grande iceberg. As plantas não têm apenas uma raiz, mas sim um intrincado sistema de raízes.
De um modo geral, o raio ocupado pelas raízes de uma planta é de quatro a sete vezes maior que o raio ocupado pela sua parte aérea. Se pudéssemos enxergar através do solo, o que veríamos seria uma gigantesca teia de raízes sob nossos pés, abastecendo de água e nutrientes a parte do corpo da planta que admiramos na superfície.
As raízes exercem funções de absorção, condução de água e sais minerais, reserva e fixação da planta. A primeira raiz, ou raiz primária, de uma planta tem origem ainda na fase embrionária.
A raiz primária pode continuar crescendo e se ramificar, formando um sistema radicular pivotante, profundo(1) ou superficial. Contudo, em algumas plantas, como nas gramíneas, a raiz primária tem vida curta e logo é substituída por inúmeras raízes adventícias. As raízes deste último tipo têm origem no caule e formam um sistema radicular fasciculado(2), um emaranhado de raízes que ficam na superfície do solo.
Esses são os sistemas radiculares mais comuns entre as plantas (excluindo samambaias e espécies relacionadas). Algumas raízes, ou parte delas, tornam-se altamente especializadas em determinada função como armazenamento (cenoura), escoramento (Pandanus), fixação (filodendros) etc.
As raízes crescem em extensão a partir do ápice, pois é lá que estão concentradas as células-tronco(3) da raiz. É por isso que devemos ter tanto cuidado para não quebrar a ponta das raizes. Para proteger essa região delicada, ao mesmo tempo em que a raiz penetrando no solo, o ápice das raizes é coberta por um envoltório(4), que também controla a direção do crescimento (descendente ou em sentido contrário ao da luz).
Nas árvores, além do crescimento em extensão, as raízes também crescem em diâmetro(5).
Alguns dos fatores que influenciam o crescimento das raízes, tanto em extensão como em profundidade, são a umidade, a temperatura e a composição do solo. As raízes podem ser danificadas pelo frio, seca, parasitas, patogênos, entre outros. Danos na parte aérea podem afetar as raízes e vice-versa. Quando se arranca uma planta, grande parte dos pêlos absorventes das raizes, responsáveis pela absorção de água e sais minerais, são perdidos.
No planejamento de um jardim, devemos tentar prever o crescimento das raízes, evitando assim problemas futuros com áreas edificadas, como piscinas e muros, além de estruturas subterrâneas, como a rede de água, luz e esgoto. O local escolhido para o plantio deve ter espaço suficiente para que a água e os nutrientes retornem ao solo constantemente e em quantidade suficiente para a manutenção da saúde da planta. É por isso que devemos evitar a impermeabilização do entorno de árvores, uma prática, infelizmente, ainda comum nas calçadas de muitas cidades.
Lembre-se: as plantas não são responsáveis pelos estragos causados em calçadas, muros e outras edificações humanas, mas sim quem plantou mudas sem oferecer a elas as condições mínimas de desenvolvimento.
(1) A maior raiz que se tem registro media 53 metros de profundidade.
(2) Fasciculado (do latim fasciculatus): que surgem de um mesmo local.
(3) Células com capacidade indefinida de divisão celular. Em botânica é mais comum o uso do termo células iniciais.
(4) O nome técnico para designar esse envoltório é coifa.
(5) Tecidos especiais, chamados de meristemas laterais, são os responsáveis pelo crescimento secundário das raízes.