Carros Elétricos - Movidos a Carvão
Autor: Eng. Agr. José César Utida da Fonseca - Data: 05/12/2019
Durante as aulas, ouço muitas comparações entre o Brasil e a Europa, onde quase sempre somos o "o lado mau da força”, são as mais variadas possíveis, com predominância, claro, os assuntos ligados ao paisagismo e meio ambiente, que atualmente se misturam e ou se complementam, entre as mais populares estão as comparações entre os parques (jardins) públicos de lá ( Europa em geral) e de cá (Brasil) e também quanto as diferenças nas práticas de proteção ao Meio Ambiente.
A internet e seus mecanismos de buscas, que replicam simplesmente os assuntos mais comentados, ignorando as fontes sérias e confiáveis de pesquisa tornam as comparações rasas e apressadas e levam consequentemente a conclusões erradas.
Toda a comparação, principalmente quando se trata de paisagismo e meio ambiente, deve ser contextualizada.
Uma pequena amostra disso...
No caso dos jardins... Não podemos comparar, sem contextualizar, as diferenças e os desafios de manutenção de espaços públicos, pois, além da longa tradição Europeia no cuidado com essas áreas, devemos considerar os desafios climáticos, principalmente no Centro Oeste, com longos períodos secos, que implicam em caras estruturas de irrigação, cujo uso foi limitado recentemente pela restrição de uso de água... some se a isso as infestações de pragas e doenças, pouco comuns em climas mais frios e... para complicar mais ainda, temos o uso de projetos inadequados, normalmente encomendados por gestores públicos deslumbrados e preocupados somente em "marcarem" suas gestões, projetos esses que as vezes são réplicas importadas, de algum parque ou jardim Europeu, visitado pelo "gestor" na última viagem de "ferias...
No caso do meio ambiente a comparação rasa é ainda pior, pois se desconsideram dados, fatos, fotos, etc.. se baseiam, quase sempre, somente em manchetes de jornais.
Um caso, em destaque na mídia atualmente, entre tantos outros, chama a atenção, o uso de carros elétricos, com longas discussões e trabalhos de marketing, onde são mostradas as inúmeras vantagens de tais modelos (elétricos), pois bem...Eles são mesmo "limpinhos"?...
A resposta, neste caso, depende de onde serão usados, se forem na Alemanha, a resposta é mais ou menos "limpinhos", pois não podemos analisar somente os poluentes finais emitidos pelos motores, devemos considerar a cadeia de abastecimento, assim um carro elétrico, abastecido na Alemanha, usa na verdade energia elétrica produzida a partir de fontes não renováveis, no caso Alemão 25%(dados de 2016), ou seja, apesar do grande apelo de marketing, a matriz energética é " meio suja", sendo o carro movido, na verdade, a 1/4 do que consome de energia, pela queima de carvão, que é altamente poluente...numa comparação alegórica, de cada 4 carros elétricos alemães, 1(um) é (guardadas as devidas proporções) uma velha locomotiva do século 19, só que com air bag, controle de tração e tela multimídia... Matriz Energética Alemã .
O mesmo carro, usado no Brasil, seria considerado quase "limpinho", uma vez que nossa matriz energética, diferentemente da Alemã utiliza somente 5,7% de Carvão e se considerarmos a produção de energia elétrica, o percentual de "limpeza" na tomada que abasteceria um carro elétrico no Brasil seria próxima a 100%... Matriz Energética do Brasil.
Indo um pouco mais a fundo, o Brasil, quando comparado ao mundo ( na média) graças a grande disponibilidade hídrica e de biomassa, tem em sua matriz energética a o uso de 43,5% de energias renováveis, contra somente 14% na média mundial, ou seja, pode parecer estranho e contrariar todas campanhas de marketing, manchetes de jornais e portais de internet, mas, somos mais "limpinhos" que o resto do mundo, ao menos na produção de energia!!!
Uma análise ainda mais criteriosa desse caso, com base na fonte da energia elétrica utilizada para o seu abastecimento, quando comparamos um carro elétrico a um carro Flex abastecido com etanol, concluímos que é muito mais vantajoso o segundo, no entanto, pesadas campanhas de marketing tentam nos mostrar o contrario, ignorando completamente a cadeia de
suprimento de energia, focando somente nas emissões finais de poluentes e claro nos tentando vender um produto novo, caro, importado, embalado numa mensagem distorcida dos dados científicos disponíveis... Emissão de Poluentes.
O equivalente no paisagismo seria algo como projetar um maravilhoso e exuberante jardim tropical, visando o conforto térmico no período seco, em Brasília e “esquecer” de avisar o cliente que precisa irrigar, com mais ou menos 5l de água/m2/por dia, de maio a novembro...
Enfim... Comparações, sem a devida contextualização e análise de dados são ilusórias...
Podemos comparar os Jardins do Palácio de Versalhes, em Paris, aos Parques de Campo de Santana e Quinta da Boa Vista, do Rio de Janeiro?
Eng. Agrônomo José César Utida da Fonseca
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