Fatores do Paisagismo que afetam a percepção do ambiente
Autor: Camila Innocêncio - Data: 16/03/2018
O Paisagismo é uma ciência multidisciplinar que congrega conhecimentos de áreas diversas, como a Arquitetura, Engenharia, Agronomia, e que impacta diretamente na percepção dos usuários à respeito da qualidade dos espaços públicos urbanos.
Seu papel nas cidades é fundamental à medida em que pode funcionar como instrumento de gestão ambiental, amenizando os impactos oriundos do intenso processo de urbanização, além claro, de agregar valor estético e auxiliar na resposta das demandas crescentes por espaços públicos.
Sabe-se que a arborização é um elemento fundamental em um projeto de paisagismo, mas que sozinho não é suficiente para tornar os ambientes mais agradáveis e estimular a apropriação de tais espaços urbanos. Além da escolha adequada de espécies, é necessário entender que nem sempre um lugar com uma vegetação muito densa será mais atrativo do que um outro espaço público com paisagismo mais rarefeito. Isso ocorre, pois a percepção dos usuários em relação a este fator varia, inclusive de acordo com as porções ocidentais e orientais do planeta.
Por exemplo, em países tropicais existe a tendência em se utilizar uma vegetação mais densa, com espécies de grande porte pois estas promovem conforto térmico e ambiental à medida em que proporcionam sombras e se tornam praticamente um oásis em meio à um contexto urbano agressivo. E a análise e percepção dos usuários nestas regiões tende a considerar um espaço público com essas características como sendo de melhor qualidade do que aqueles que não as possuem.
Paisagismo com vegetação densa, tipicamente tropical. Instituto Inhotim. Foto: AuE Software
Porém, em outros lugares a visão a este respeito pode ser diferente, uma vez que a vegetação não necessariamente precisa ter um papel central na elaboração de projetos de paisagismo. Ao contrário, a presença da mesma em grande quantidade pode se tornar um elemento negativo quanto à percepção e avaliação do espaço público. Isso ocorre por alguns motivos: o primeiro deles é que uma vegetação muito densa, pode tornar o local escuro e frio criando um ambiente desconfortável e inseguro.
Paisagismo com vegetação menos densa. Placa Reial Barcelona. Fonte: https://pixabay.com/pt/barcelona-pra%C3%A7a-espanha-urbanas-2371946/
Porém existem alguns critérios que se presentes nos projetos paisagísticos e urbanísticos, geram percepções positivas e são premissas de qualidade para qualquer espaço público.
O primeiro deles é a proteção contra o trânsito de veículos. É fundamental que praças e parques, forneçam segurança aos pedestres, definindo bem os limites dos quais os veículos não podem ultrapassar. Quando essa definição não está clara ou há uma sobreposição entre os tipos de fluxos, gera-se no usuário a sensação de insegurança e consequentemente limitam seu desejo de permanência no local.
Proteção contra o trânsito de veículos. Nottingham Council House. Fonte: https://pixabay.com/pt/nottingham-c%C3%A2mara-municipal-mercado-2856858/
O segundo é a possibilidade de uso noturno. Um espaço público urbano deve permitir que as pessoas possam utilizá-lo à noite de forma segura. Alguns elementos são essenciais para contribuir neste processo, como por exemplo o uso de iluminações ao nível do pedestre e não somente com foco para iluminação de vias.
Possibilidade de uso noturno. Rathaus, Áustria Fonte: https://pixabay.com/pt/c%C3%A2mara-municipal-viena-1332069/
Outro fator importante é a criação de espaços de permanência, com mobiliários urbanos adequados, voltados para visadas atrativas e com pontos de proteção contra intempéries. É necessário fornecer ao usuário a possibilidade de parar, descansar e experenciar o ambiente e isso só será possível se existirem elementos propícios.
Criação de espaços de permanência. Santiago, Chile. Fonte: https://pixabay.com/pt/pra%C3%A7a-santiago-chile-baixa-cidade-2413005/
É fundamental que o projeto contemple áreas para caminhadas, longas e tranquilas. Neste caso, é necessário garantir superfícies regulares, sem obstáculos, com um percurso que permita a visualização de elementos interessantes da paisagem e que seja acessível à pessoas com mobilidade reduzida.
Áreas para caminhadas. Moscou, Rússia. Fonte: https://pixabay.com/pt/moscovo-kremlin-r%C3%BAssia-arquitetura-2742627/
Por último temos a necessidade de elementos que forneçam uma experiência sensorial interessante. Vegetação (com espécies compatíveis em porte e adequadas ao clima do local), fontes, cursos ou espelhos d" àgua, presença de fauna e níveis de ruídos menores, são experiências extremamente agradáveis aos usuários à medida em que proporcionam sensações que normalmente não são possíveis no ambiente hostil e caótico dos centros urbanos.
Experiências sensoriais interessantes. Irving, Texas. Fonte: https://pixabay.com/pt/mustangs-escultura-fonte-bronze-750738/
Veja também
Treepedia, a possibilidade de encontrar a cidade mais verde do mundo
As torres Jean Nouvel em Sydney têm jardins verticais e um grande refletor de luz solar
O belíssimo paisagismo do centro comunitário de Toronto
Conheça o Kenroku-en Garden, um jardim que possui muita história para contar
Antiga rodovia se torna em parque público com 24 mil plantas em Seul
Anterior Próximo