Mauricio Fogel fala sobre seu projeto no Pólo Petroquímico de Camaçari

Autor: Anita Cid - Data: 04/08/2008

AuE Soluções: Como você se tornou paisagista?

Fogel: Sempre gostei de andar em trilhas nas matas. A vegetação sempre me fascinou. Esse gosto aliado à arquitetura me levou ao paisagismo, integrando ambos.

AuE Soluções: Quais as ferramentas que você utiliza na realização de seus projetos e como elas te auxiliam?

Fogel: Na fase conceitual uso material tradicional como lápis de grafite, lápis de cor, canetas design e aquarela. Para dimensionamento, especificação, detalhamento e emissão do projeto uso ferramentas de CAD e o AutoLANDSCAPE.

AuE Soluções: Uma das suas especialidades é o paisagismo para as grandes áreas. Quais são as peculiaridades e os cuidados necessários para este tipo de projeto.

Fogel: Diferente do conceito tradicional as grandes áreas devem ser auto-sustentáveis e estarem plenamente integradas ao meio ambiente. Muitas vezes é necessário que tenhamos a visão de reconstruir ou reflorestar, enfatizando a vizinhança. Outro fator a se considerar é que grandes áreas, muitas vezes, são complexas pela diversidade de usos e temos que nos preocupar com todos impactos relacionados.

AuE Soluções: Como o paisagismo agrega valor às grandes construções?

Fogel: Inicialmente o paisagismo cria equilíbrio entre as formas estéreis da geometria pura, criando referência visual. O paisagismo agrega valor no conforto térmico, cria barreiras ou filtros de particulados sólidos agressivos, como excesso de poeira levado pelos ventos. Além disso, a vegetação serve para estabilização de taludes, propiciando plena integração da arquitetura com a natureza.

AuE Soluções: Como o paisagista pode fazer um projeto que inclua harmonia e sofisticação dentro da paisagem urbana?

Fogel: Utilizando o paisagismo como ponto de equilíbrio em áreas de convívio como praças e parques onde as espécies vegetais específicas tornam o principal foco ambiental, propiciando perfumes, sombras e sensações de bem estar, quebrando a rigidez do traçado urbano.

O paisagismo cria equilíbrio entre as formas estéreis da geometria pura, criando referência visual.


AuE Soluções: Como o paisagismo pode contribuir para a qualidade de vida das pessoas, especialmente nos grandes centros?

Fogel: O paisagismo pode recriar a sensação de liberdade da natureza, melhorando a qualidade do ar, minimizando a poluição atmosférica e visual.

AuE Soluções: Recentemente você realizou um projeto que visava a recuperação das nascentes de água. Conte-nos um pouco sobre este projeto e as dificuldades que você encontrou ao realizá-lo?

Fogel: Fizemos o Projeto de Paisagismo da Rótula do Ponto de Encontro 4, no Pólo Petroquímico de Camaçari, Bahia. O projeto de recuperação com a nascente é um trabalho de uma equipe. É situado numa área agrícola. Inicialmente deparamos com a falta de literatura técnica específica e com poucos estudos causais. Usamos conceitos de drenagem da engenharia, análises topográficas, pesquisas sobre o uso do solo naquela região ao longo dos anos e sobre a vegetação nativa. A identificação das nascentes foi feita pela identificação da vegetação diferenciada. Na visita inicial percebemos que o solo estava extremamente encharcado e com grandes alagamentos sem escoamento. A vegetação era mata de capoeira agressiva ao local. Era necessário drenar o terreno e reconstruir o córrego que remotamente havia no local (identificado pela topografia e pela vegetação) para destinar a água excedente. Com o curso de água reconstituído vemos a nova vegetação crescendo delimitando as margens do córrego, onde implementaremos um projeto paisagismo de proteção e uso, inclusive com a construção de um lago.

AuE Soluções: Dentre os projetos que você já realizou, qual você destacaria?

Fogel: Rótula do ponto de encontro 04 que encontra-se na via perimetral no Pólo Petroquímico de Camaçari (BA), onde permite acesso Via Axial, Camaçari, Dias D`Ávila, BA-093 e Via Parafuso, sendo as duas últimas acesso para Salvador. A Rótula contempla um ponto de encontro para evasão em caso de emergência, que possa ocorrer no Pólo Petroquímico. A área do projeto é de 100.000 m² (cem mil metros quadrados), englobando a rótula, canteiros e entorno.
Por ser uma área grande e com alto fluxo de veículos é necessária a preservação da área, onde a cobertura vegetal esta degradada, e com grande parte tomada por capim e ervas daninhas, que deixam o ambiente degradado. Após estudo da área e do entorno da rótula do ponto de encontro número 4, foi constatado a existência de uma linha de transmissão passando sobre a mesma sendo necessário a adição de uma zona de proteção, manutenção e segurança, sendo denominada de área de servidão. A partir da necessidade da área de servidão que divide a área, foi adotado o partido urbanístico de utilizá-la como uma alameda bordeada de palmeiras imperiais, dando imponência e integrando a área ao projeto propiciando grande valor paisagístico. A área de servidão será pavimentada com brita para proteção do terreno local.
A rótula fica abaixo do nível da rua, propiciando uma visão panorâmica por parte dos ocupantes dos veículos que trafegam nas vias às quais a rótula pertence. Tendo com partido paisagístico um grande campo de visualização rápida devido a velocidade de tráfego, foi adotado o programa de área temática, usando como base a alameda da área de servidão como elemento separador. Esta definição criou uma dinâmica de visualização, a qual ficou definida em cinco grandes espaços de vegetação contidos na rótula.
Como a área é de dimensões generosas foi adotado o uso de vegetação nativa da Mata Atlântica. As árvores possuem grande potencial paisagístico e foi adotado o conceito de reflorestamento nativo de mata secundária, sendo as espécies endêmicas da região. No lado norte e o lado sul da rótula será criado um micro sistema de floresta secundária de Mata Atlântica, composta de árvores nobres de madeira de lei, tomou-se o cuidado de não adotar árvores cujos frutos são comestíveis humanos para evitar a depredação que facilmente provocaria sua deterioração. Após o plantio das mudas das árvores o piso deverá receber uma vegetação de forração para compor e proteger o piso. Após o crescimento das mudas esta forração tenderá a perecer propiciando o plantio de vegetação arbustiva endêmica e fitófilas. A sombra das árvores em crescimento propiciará o plantio de flores arbustivas endêmicas como bromélias, orquídeas e outras nativas.
A parte sul da área de servidão será dividida em três grandes zonas de vegetação, uma de palmeiras nativas, uma de jardins gramados e no extremo micro Mata Atlântica supracitada. Gerando assim uma área total de 100.000 m2, beneficiando assim o ecossistema local, benefício este focado pela JPNOR Engenharia não só no projeto da Rótula do Ponto de encontro 4, mas como critério de projeto voltado para a nova realidade sócio-ambiental que vem se desenvolvendo a nível de consciência empresarial e humana.

AuE Soluções: Você está realizando algum projeto no momento? Qual?

Fogel: No momento estou envolvido em vários projetos de arquitetura, e o projeto onde estamos recuperamos a nascente esta em progresso. A próxima etapa será o paisagismo do lago e do córrego criando um grande jardim.

Mauricio Fogel não consegui autorização para publicar o projeto do Pólo Petroquimíco de Camaçari.


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eBook: Planta baixa técnica x Planta humanizada em paisagismo

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1 - Autor: Adelia Lima - Data: 03/08/2008

Gostei muito do artigo e principalmente de saber que trabalhos assim estão em andamento.




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