O engenheiro português Bernardo Fleming define as etapas de um bom projeto de rega
Autor: Camila Fonseca - Data: 07/05/2011
Ele é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real (Portugal), pós-graduado em Greenkeeper-Campos de golfe, pela Universidade do Algarve e hoje trabalha na empresa AQUAMATIC, SA (Sistemas de Rega). Especialista nesse segmento, Bernardo Fleming também é Fundador e Vice-presidente da Associação Portuguesa de Espaços Verdes. Nesta entrevista, ele divide sua experiência profissional e explica como funciona o mercado de rega (irrigação) em Portugal, sem deixar de orientar sobre o processo àqueles que residem em outros países.
Qual é o principal objetivo do projeto de rega? Em que ele pode beneficiar o produto final?
Bernardo Fleming: O principal objetivo de um projeto de rega é garantir que o sistema de rega seja corretamente dimensionado. Isto é, utiliza os equipamentos mais adequados às espécies e tipologias vegetais, que os emissores trabalham com os valores ideais de pressão e caudal, que estão devidamente implementados para garantir a melhor distribuição e uniformidade possível. Além de permitir que a velocidade da água no interior das tubagens não ultrapasse os valores máximos admitidos.
Com um projeto de rega devidamente realizado e dimensionado, conseguimos otimizar ao máximo a quantidade de água nele aplicado, fornecendo às plantas a quantidade de água estritamente necessária o que garante o investimento efetuado nas plantas e em toda a concepção do espaço verde, obtendo um jardim bem regado e saudável.
Como funciona o mercado de rega português? Qual é a formação do profissional que trabalha neste segmento em seu país?
Bernardo Fleming: Com o clima de Portugal, durante a Primavera e o Verão, é fundamental a rega para manter e garantir as necessidades hídricas das plantas nos jardins. Assim sendo, a procura dos sistemas de rega automáticos em espaços públicos e residenciais teve, desde a sua origem, interesse e procura no mercado português, estando hoje em dia disponível no nosso mercado os produtos e soluções mais avançados e de última geração.
Atualmente o cliente está sensibilizado para o fato de que na construção do jardim é fundamental a instalação de um sistema de rega automático para permitir a manutenção das plantas. No entanto, com o aumento do preço da água e com alguma escassez em determinadas épocas e zonas do país, surgem duas vertentes na conceção dos espaços: por um lado a criação de jardins sem zonas relvadas, utilizando apenas plantas xerófitas e/ou plantas com baixas necessidades hídricas evitando ao máximo o consumo de água e a necessidade de instalação de sistemas de rega; a outra vertente não limita a conceção dos espaços em função de espécies com baixas necessidades hídricas. No entanto, contempla o projeto e instalação de sistemas de rega altamente eficientes munidos de equipamentos e acessórios capazes de reduzir, em muito, a quantidade de água aplicada nos jardins.
Comparativamente com o conhecimento que tenho do mercado europeu e mundial, o nível dos profissionais Portugueses responsáveis pela conceção, instalação e manutenção de sistemas de rega de um modo geral é bastante bom, principalmente se considerarmos os últimos 10 anos. Claro que ainda há muito a melhorar neste setor, principalmente na formação e no acompanhamento de pessoal menos qualificado e com menos experiência.
| Com um projeto de rega devidamente realizado e dimensionado, conseguimos otimizar ao máximo a quantidade de água nele aplicado | | |
Quais são as maiores dificuldades em realizar o projeto?
Bernardo Fleming: Para mim, as maiores dificuldades que encontro na realização de um projeto de rega é a obtenção da parte do cliente de um plano que caracterize o melhor possível as zonas a regar, que inclua informação pormenorizada e detalhada do local, como por exemplo: as zonas a regar e zonas a não regar, o tipo de coberto vegetal e suas espécies, localização e características do ponto de água, orientação solar, plano de cotas de nível e outros fatores que influenciem o funcionamento do sistema.
As pessoas têm tido a preocupação de contratar o serviço para manter seu jardim bem cuidado?
Bernardo Fleming: Sim. Cada vez mais o cliente residencial e mesmo o Municipal procura entregar a manutenção dos jardins a pessoal especializado na área, surgindo nos últimos anos um aumento muito significativo de empresas que prestem este tipo de serviço.
É também notório que o setor de espaços verdes, tanto na venda de produtos como de serviços, teve, até 2009, um crescimento considerável abrandado nos dois últimos anos, influenciado pela crise econômica que afecta neste momento o nosso Pais.
No Brasil, uma pesquisa avaliou que o método mais utilizado para rega é a aspersão. E em Portugal, funciona da mesma maneira? As necessidades do país são diferentes?
Bernardo Fleming: Sem dúvida que a rega por aspersão em jardins, principalmente nas zonas relvadas, é o sistema de rega mais utilizado em Portugal. No entanto, a instalação de sistemas de rega localizada (ou vulgarmente conhecido por gota-a-gota) tem tido nos últimos anos um grande crescimento para regar plantas anuais, arbustivas, arbóreas e mesmo em pequenos relvados, sob a forma de rega subterrânea, com o objetivo de otimizar ao máximo o consumo de água.
Quais são suas sugestões para desenvolver um bom projeto?
Bernardo Fleming: Primeiro é fundamental que o projetista tenha as noções básicas de hidráulica e a consciência que um sistema de rega deve seguir orientações fundamentais, como, por exemplo, assegurar as necessidades hídricas das plantas para não perdermos o investimento realizado na sua aquisição. Deve ter a preocupação de criar um sistema com o máximo de uniformidade possível, minimizando o consumo de água e o recurso a mão-de-obra. Isso, para que o sistema funcione eficientemente com uma manutenção mínima, consistindo numa solução fiável e duradoura. No decorrer do projeto deve seguir de forma cronológica as seguintes etapas:
1) Conhecer bem o espaço a regar, obtendo todos os dados de partida necessários;
2) Determinar as necessidades de água;
3) Determinar as fontes de água e de eletricidade disponíveis;
4) Selecionar os emissores e promover a sua implementação no terreno;
5) Calcular as pluviometrias;
6) Setorizar o sistema;
7) Calcular os tempos de rega por setor e os tempos totais;
8) Traçar as tubagens principais e secundárias;
9) Dimensionar tubagens, acessórios e eletroválvulas;
10) Calcular a pressão requerida no sistema;
11) Escolher o sistema de programação mais indicado e respetivo dimensionamento do cabo elétrico;
12) Finalizar o plano de rega, representando-o num plano claro, utilizando simbologia apropriada e devidamente legendada, com recurso a desenhos de pormenor de instalação, acompanhado de um mapa de quantidades e dos cálculos hidráulicos respectivos.
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