Recuperação de áreas degradadas: especialistas falam sobre a importância do paisagismo no segmento
Autor: Camila Fonseca - Data: 07/05/2011
Como se tivesse sido esquecido em meio a multidão, o meio ambiente tem sofrido as graves consequências do abandono humano. No entanto, este é um caso que todos já conhecem bem, porém poucos têm ciência do que, de fato, é preciso fazer para lidar com o problema. Afinal, o que não é cuidado, não consegue ser mantido. Mas, então, você pensa: Do que exatamente estamos falando? Essa resposta pode vir carregada de conotações, mas o que se pretende retratar é apenas uma coisa: a recuperação de áreas degradadas no nosso planeta.
Esse tem sido um tema bastante discutido nas últimas décadas e gerado polêmica. Isso, porque grande parte dos atuais empreendimentos demandam construções e reformas, o que leva a alterações conflituosas no ambiente. Dessa maneira, o professor do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Curso de Pós-Graduação em Análise Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Homero Soares, explica que qualquer negócio que seja potencialmente poluidor necessita, anteriormente, realizar algum tipo de estudo de impacto. "Dependendo do porte do empreendimento, as medidas mitigadoras a serem implementadas são mais profundas e consomem mais dinheiro. A remoção de solo gera impactos ambientais importantes. A Política Nacional de Meio Ambiente, lei 6932/1980 prevê este tipo de mitigação", esclarece.
Imagem: Projeto realizado pelo ambientalista Kefren Vianna, contempla a reabilitação da mata ciliar do Rio Paraibuna.
Em contrapartida, ele declara que não são apenas as empresas as grandes impulsoras desse declínio. O homem, em seu cotidiano, também tem sua considerável parcela de culpa. Segundo Homero Soares, viver promove impacto ambiental. "Consumimos água, geramos efluentes domésticos, a produção de bens de consumo gera efluentes industriais, consumimos bens e geramos lixo. A agricultura usa fertilizantes e herbicidas, químicos poluem as águas, o solo, o ar. Todos esses lixos têm que ser dispostos em algum lugar. Queimamos combustíveis fósseis e degradamos a qualidade do ar. A questão é o ritmo com que vimos degradando o meio ambiente em função da pós-modernidade querer vender aos consumidores até a própria mãe", opina.
Para ele, quaisquer ações que visem o consumo individual sustentável, são benéficas para reduzir tal choque. A importância é estarmos, além de cientes, sensíveis a estas questões para deixar de lado a ideia de que nossos recursos são infinitos. Homero Soares entende que o paisagismo, nestes casos, pode, sim, auxiliar na recuperação das áreas degradadas. Mas deixa claro que a iniciativa preservacionista é sempre preferível ao gasto com mitigação ou recuperação. "Precisamos preservar e não degradar para depois consertar. Esse é o objetivo", completa.
Na visão do ambientalista Kefren Klein Lopes Vianna, o Brasil possui uma das mais modernas legislações de proteção ambiental. "Porém aplicar, fiscalizar e executar é o grande desafio da nossa geração", pontua. Em seus estudos, ele avalia que projetos urbanísticos e as demais atividades modificadoras do meio ambiente necessitam passar por análises ambientais, definidas por lei, que são submetidos aos órgãos competentes e, assim, as ações que deverão ser adotadas pelo empreendedor como medida compensatória são demarcadas.
De acordo com Kefren Vianna, nos casos em que a recomposição ou regeneração da área é impossibilitada, a medida adotada é a reposição florestal com espécies nativas em área equivalente à desmatada. "Pode ser doada ao Poder Público no interior de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, sempre na mesma bacia hidrográfica. O órgão ambiental pode determinar mais de uma forma de compensação ambiental", relata.
Imagem: Projeto realizado pelo ambientalista Kefren Vianna, contempla a reabilitação da mata ciliar do Rio Paraibuna.
Quando, obrigatoriamente, cabe ao empreendimento a recuperação ambiental, é aplicada uma elaboração de Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) que contemplam diretrizes para cumprir a legislação ambiental e estabelecer exigências mínimas relativos à reparação de danos ambientais. Nesses projetos serão propostos, por exemplo, a definição do número de espécies vegetais nativas e do número de indivíduos por hectare a ser utilizado na recuperação das áreas alteradas. O ambientalista aclara que esta ação é realizada para que se obtenha maior compatibilidade com a fitofisionomia local. "Neste caso, o projeto de paisagismo se torna uma importante ferramenta na obtenção da coerência nas soluções e obediência às características ambientais e paisagísticas regionais", expõe. Em seu ponto de vista, a atuação do paisagista é fundamental para reabilitar espaços prejudicados e, atualmente, alguns projetos não funcionam apenas por conta de burocracia. "É necessário enviar os planos para leitura do Ibama e nem sempre são aprovados com presteza. ", informa.
Recuperar áreas degradas é um trabalho que exige dedicação e eficiência de diversos profissionais. Nesse sentido, o posicionamento de um biólogo também deve ser levado em consideração. É o caso da bióloga e paisagista Mônica Prado, que avalia o caso em sua forma de atuação. Ela esclarece que cabe a um responsável técnico desempenhar o papel de recomposição de um local de acordo com as necessidades paisagísticas. "No caso de um biólogo, este iria utilizar ferramentas de estudos e conhecimentos em botânica, pedologia (estudo de solos), identificação da área (se esta é, por exemplo, uma mata ciliar), ecologia, entre outros, além de um levantamento preliminar de todas as características físicas, químicas e biológicas existentes na área que foi degradada", ressalva. Assim, o profissional deverá prever e provocar o aparecimento de espécies tanto da flora, quanto da fauna.
É importante estar atendo às diferenças quando se trata de criar um projeto paisagístico e recuperar uma área paisagísticamente. "Dependendo do ponto de vista de cada profissional, criar uma área paisagística seria a elaboração de um projeto numa determinada área, considerando suas características físicas e naturais do ambiente, como por exemplo, elaborar um projeto para ser implantado numa área de praça publica. Já o processo de recuperar uma área paisagísticamente, deve relevar os aspectos dos tipos físicos, químicos, biológicos e naturais do ambiente, considerando que as espécies a serem implantadas não prejudiquem as espécies já existentes", alerta Mônica Prado.
Mais do que se preocupar, deve partir de cada um a iniciativa de inserir hábitos sustentáveis no cotidiano. Cuidar é deixar viver!
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