O Fogo nos Cerrados
Autor: Eng. Agr. José César Utida da Fonseca - Data: 12/07/2019
O Fogo nos Cerrados
O inicio do inverno, na região Centro Oeste, vem associado a ausência quase que total de chuvas, o que faz com que os incêndios florestais se tornem comuns e as vezes incontroláveis.
E em todos os anos se repetem as imagens, as entrevistas, as selfies, enfim é quase uma noticia com data marcada, mas raramente se ouvem especialistas no assunto, pesquisadores que realmente podem fundamentar uma nova forma de lidar com os incêndios florestais, além do usual, que consiste em esperar os focos de incêndio aparecerem, mobilizar bombeiros e brigadistas, aeronaves improvisadas ao combate de incêndios, além de dezenas de veículos a custos altíssimos, com resultados quase sempre pífios, uma vez que tais incêndios, quando atingem grandes proporções, na pratica , somente são debelados pelas chuvas.
Diversos estudos mostram que há um ciclo natural de queimadas nos cerrados, variando com intervalos mais ou menos regulares entre 5 a 7 anos, pesquisas indicam que esses intervalos podem estar associados aos ciclos das chuvas, e que a ocorrência e o volume destas também podem ter relação com os ciclos solares.
Observando os dados de focos de incêndios do ICMBIO/PREVIFOGO, na Estação Ecológica de Aguas Emendadas, no DF, observa se claramente esses intervalos, no caso com picos nos anos de 2010 e 2016
No mesmo Período, conforme dados do INMET/BRASILIA, as chuvas oscilaram em sentido inverso, variando de de 1.399mm , no ano de 201/2011 a 1.133,5mm no ano de 2016, coincidindo assim com os maiores focos de incêndios no período, observa se também que no ano de 2012, quando a área queimada foi de 30ha., tivemos o ano de maior precipitação no intervalo, com 1.705,1mm, ou seja está claro que a ocorrência dos incêndios está ligada ao volume de chuvas do ano.
Esses dados vão de encontro a pesquisas realizadas pela Dra. Giselda Durigan..queimadas ajudam preservar diversidade de especies no cerrado, que confirma a existência dos ciclos de 5 a 7 anos e relacionam a ausência do fogo a perda de biodiversidade...O único jeito de preservar a diversidade de espécies do cerrado, um dos biomas mais ricos e ameaçados do Brasil, é queimá-lo de vez em quando...., sendo que a perda da biodiversidade está ligada a um aumento do acumulo de carbono, de gramíneas, em detrimento a outras espécies.
A esses dados se somam as observações da atividade Solar(NASA) no período, que segundo alguns estudos tem interferência no clima do Distrito Federal.... Os ciclos solares e sua influência no regime de chuvas 2013 , e que também coincidem com as máximas precipitações, nos anos de grande atividade e a as mínimas precipitações nos anos de baixa atividade (2009/2010 - 2015/2016).
Buscas em sites de noticias,folha uol com br , remetem a outros grandes incêndios, no ano de 1988, quando tivemos uma das menores precipitações no Distrito Federal, com 1.134,6mm, que também coincidiu com uma baixa atividade solar, no mesmo ano.
Ou seja, todos esses dados indicam haver fatores, talvez em escala espacial, além das ações antropogênicas e ainda desconhecidos e ou pouco estudados na dinâmica do clima dos cerrados da região do Distrito Federal, o que recomenda uma abordagem mais ampla, baseada em técnicas de manejo do fogo, como já recomendam alguns pesquisadores, ao invés de somente se focar na proteção total das áreas florestais ou então na extinção dos grandes incêndios quando já em andamento, com a mobilização midiática de bombeiros, equipamentos e voluntários a um grande custo econômico e que na pratica se revelam inviáveis , tendo se quase sempre ao final das operações a informação que o fogo foi debelado, graças a uma providencial chuva ocorrida no inicio da primavera, além disso tudo há , como sempre, a inútil e improdutiva busca pelos culpados de sempre.
O manejo do fogo, não pode ser improvisado conforme as ocorrências, ao contrário, deve ser planejado levando se conta os dados pluviométricos anuais e passa obrigatoriamente pelo parcelamento das áreas e a realização de incêndios anuais, em torno de 15% a 20% da área total, controlados, com a supervisão de equipes treinadas para esse tipo de ação, ao invés de se usar "voluntários" que nunca tiveram contato com incêndios florestais e na maioria das vezes buscam simplesmente aventuras e os "selfies".
Enfim, já existem dados, estudos científicos, que podem subsidiar e ajudar a prever os anos de grande probabilidade de ocorrência de incêndios florestais de grande proporção, e a se considerar a regularidade das ocorrências, se nada for feito de novo, provavelmente isso ocorrerá ao final de 2021...preparem as câmeras !!
Nosso colaborador, Eng. Agrônomo José César Utida da Fonseca, é Professor na Escola de Paisagismo de Brasília.
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