O Segredo do Figo: Desvendando o Ciclo da Figueira
Autor: Lara Victória do Nascimento Neves - Data: 06/11/2025
Poucas plantas do nosso jardim guardam um segredo tão curioso quanto o figo. Por fora, ele parece apenas um fruto suculento e saboroso, mas, na verdade, o que chamamos de “figo” não é um fruto verdadeiro, mas sim o que podemos chamar de infrutescência. O figo é uma estrutura complexa chamada sicônio: uma espécie de “bolsa” invertida que abriga dezenas de pequenas flores em seu interior e é dentro dessa estrutura que acontece um dos ciclos mais extraordinários do mundo vegetal.
O verdadeiro fruto das figueiras são chamados de aquênios — formados a partir do desenvolvimento dos ovários de cada flor presente no sicônio. Segundo Antônio Roberto Marchese de Medeiros, Eng. Agr., Dr., Pesquisador da Embrapa Clima Temperado, “a parte suculenta do figo consiste principalmente em tecido parenquimatoso dos órgãos florais, cujas células se tornam maiores e armazenam substâncias de reserva”.
Mas se as flores estão escondidas, como são polinizadas?
Entra em cena a vespa-do-figo, um inseto minúsculo e essencial para que a planta se reproduza. Essa relação é um caso clássico de mutualismo, em que ambos os seres dependem um do outro.
O ciclo funciona assim:
Uma vespa fêmea, carregada de pólen, entra no interior de um figo jovem por um pequeno orifício apical chamado ostíolo;Lá dentro, ela deposita seus ovos em algumas flores e, ao mesmo tempo, poliniza outras;As larvas crescem protegidas dentro do sicônio, enquanto as flores polinizadas desenvolvem os aquênios;Os machos são os primeiros a nascer, sem asas e sem antenas, e fecundam as fêmeas enquanto elas ainda se desenvolvem;Após a fecundação, os machos cavam túneis para que as fêmeas consigam sair mais tarde e morrem;Quando as novas vespas adultas emergem, saem pelos túneis cavados levando consigo o pólen das flores e prontas para começar o ciclo em outro figo.
Tudo acontece dentro daquele pequeno “fruto” que comemos sem imaginar o drama natural que se desenrola ali.
Nem todo figo precisa da vespa
Vale destacar que nem todas as variedades de figueira precisam da vespa para frutificar. No paisagismo e na produção comercial, são usados figos partenocárpicos (aqueles que formam o fruto sem fecundação). Assim, o figo cresce doce e cheio, mesmo sem o inseto.
Uma planta com história e mistério
Originária da região do Mediterrâneo e da Ásia Ocidental, a figueira (Ficus carica L.) é uma das plantas cultivadas há mais tempo pelo ser humano. No paisagismo, é valorizada por sua copa ampla e aspecto escultural, além de oferecer sombra e frutos ao longo do verão.
Compreender o ciclo do figo é mergulhar em um exemplo de engenharia natural: uma relação antiga e delicada entre planta e inseto que, há milhões de anos, garante a continuidade de uma das frutas mais simbólicas da história; conhecer é conservar!
Da natureza ao planejamento: o figo no paisagismo digital
Assim como o ciclo do figo revela a harmonia entre planta e inseto, o paisagismo moderno também depende da integração entre conhecimento botânico e tecnologia.
Os softwares da AuE Software tornam possível aplicar essa compreensão da natureza no planejamento real de jardins e áreas verdes. Com eles, é viável visualizar o crescimento das plantas, escolher espécies adequadas a cada ambiente e simular o desenvolvimento das figueiras e de tantas outras espécies ao longo das estações.
A tecnologia, quando aliada à botânica, amplia nosso olhar: ajuda o profissional a planejar com precisão, respeitar os ciclos naturais e transformar o espaço em um reflexo vivo da própria natureza.
Referências:
Figueira (Ficus carica l.) do Plantio ao Processamento Caseiro
Understanding the Fig Life Cycle: A Complete Guide
Figo não é fruta e "come" vespa; entenda
Figueiras e vespas: uma parceria de vida e morte
Figo - IBF
As flores do figo ficam lá dentro – e os polinizadores morrem em seu interior
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