Paisagista Bel Harris e os jardins com plantas nativas
Autor: Regina Motta - Data: 01/12/2014
Bel Harris, www.jardinsnativos.com.br, bióloga paisagista dedicada à conservação do meio ambiente através do desenvolvimento de projetos paisagísticos com espécies vegetais nativas, nos conta um pouco mais de seu trabalho que, a nosso ver, é mais que trabalho, é uma missão!
AuE Paisagismo: Conte-nos sobre você, a sua escolha desta profissão de paisagista? Quais as dificuldades que encontra e quais a maiores alegrias?
Bel Harris: O que me motivou a ingressar na área de paisagismo foi vislumbrar a possibilidade de, através de meu trabalho, atuar como agente multiplicador de idéias conservacionistas, mostrando às pessoas a importância de se valorizar cada pedacinho de chão como uma jóia. Uma jóia a ser cultivada. Uma jóia que se expande e fica mais valorosa à medida que induzimos o seu contato com o mundo exterior através das interações entre as plantas e os animais que visitam os jardins.
Nossa civilização tem se desenvolvido tecnologicamente de uma forma fabulosa. Temos recursos inimagináveis há 30 anos. A tecnologia com certeza nos trouxe muitos benefícios. Porém, nossa forma de vida tem nos afastado da nossa essência. Somos parte da natureza e gosto de trabalhar esta interação. Sinto prazer em criar espaços que propiciem um encontro entre pessoas, plantas e animais.
AuE Paisagismo: Por que escolheu a opção de usar as plantas nativas? Os clientes aceitam bem?
Bel Harris: Amo a nossa flora. Nossos biomas são lindos e o planeta Terra, majestoso! Me dói ver tudo isso se acabando. Temos sido muito irresponsáveis em se tratando de manejo do meio ambiente. O planeta levou milênios para se desenvolver na forma que tem hoje e nós estamos sendo capazes de destruir tudo em algumas dezenas de anos.
Não temos como brecar a antropização, mas podemos suavizar os seus danos. O uso de espécies nativas regionais cria condições ambientais favoráveis, abriga e alimenta a fauna que por sua vez, pode dispersar as sementes destas plantas para outras áreas, ampliando nosso campo de ação. Nós, na verdade, conhecemos muito pouco da natureza. Existem interações entre plantas, pássaros, morcegos, insetos, etc., que ainda não desvendamos. É um mundo que ainda não conhecemos e que precisaria ser respeitado para nosso próprio bem. Por isto defendo o uso de plantas nativas. É uma tentativa de preservar um pouco disto tudo.
Se os clientes aceitam? Hum ... na verdade, tenho que mostrar o que isto significa. A maioria das pessoas não tem noção da importância e do potencial de um jardim. Alguns se apaixonam pela idéia. Outros, nem tanto. Ficam hipnotizados com as espécies que vêem nas floras e querem jardins iguais aos dos seus vizinhos, que geralmente têm 100% de espécies exóticas. Alguns, em sua total desconexão com a natureza, temem a aproximação de animais como insetos, pássaros e morcegos, preferindo plantas que não frutifiquem.
AuE Paisagismo: Quais as nativas que você mais usa? Tem facilidade em conseguir as mudas? Sabe que o Sistema Aue Soluções mantém o www.paisagismodigital.com que tem como objetivo disponibilizar produtos e serviços de jardim para os consumidores. É fácil conseguir o que precisa, basta pesquisar e falar diretamente com o fornecedor, em todo o Brasil.
Bel Harris: As nossas plantas têm sido esquecidas. Acredito que por desconhecimento de sua importância, os paisagistas têm priorizado as espécies da moda. Isto faz com que caia a procura pelas nativas o que leva os produtores a cultivar as exóticas. É um ciclo duro de romper. Não é fácil encontrar nativas. Principalmente palmeiras, arbustos e herbáceas.
Faço uso das que encontro no mercado como Syagrus romanzoffiana, Euterpe edulis, Evolvulus pusillus, E. glomeratus, Lycianthes asafifolia, Ipomoea, Philodendron, Stifftia chrysantha, Calliandra, Salvia splendens, Peperomia, Brunfelsia uniflora, entre outras. Gostaria muito de ter mais opções.
AuE Paisagismo: Você leva em consideração a frequência de manutenção no processo de escolha?
Bel Harris: Sim, claro. Procuro conceber um jardim com espécies adaptadas ao microclima local e orientar os clientes a um manejo que enriqueça o solo com o passar dos anos, permitindo que ali se desenvolva todo um ecossistema passível de se manter sem muita interferência humana.
AuE Paisagismo: Você faz a implantação e manutenção de seus projetos? Existe alguma área em que tenha se especializado?
Bel Harris: Desenvolvo projetos e oriento a implantação, podendo me responsabilizar pela mesma, caso seja de interesse do cliente.
AuE Paisagismo: Como o paisagismo pode contribuir na qualidade de vida da população? Paisagismo e Meio ambiente podem ser considerados parceiros?
Bel Harris: Fundamental pensar não só em conservação como em restauração do meio ambiente quando se pensa em implantar um jardim. Cada jardim projetado de forma a ser o mais sustentável possível é uma colaboração à sociedade. Através da captação de água da chuva para irrigação, descompactação do solo para infiltração da água da chuva, compostagem, cultivo orgânico do jardim, além do uso de espécies nativas regionais, podemos sim dar a nossa contribuição.
AuE Paisagismo: A questão da água, hoje, é um problema muito sério. Como tem feito para resolver isto em seus jardins?
Bel Harris: Difícil dispensar a água em um jardim. A captação da água de chuva e o uso de plantas mais resistentes à estiagem ajuda bastante. Acho fundamental que continuemos a cuidar dos nossos jardins. Precisamos deles.
AuE Paisagismo: Você é usuária do PhotoLANDSCAPE e do AutoLANDSCAPE, pode nos dizer como estas ferramentas ajudaram em seu trabalho?
Bel Harris: Utilizo ambos. O PhotoLANDSCAPE me ajuda no processo de criação. É prático e a imagem facilita muito a compreensão do cliente. Já o AutoLANDSCAPE é uma ferramenta que agiliza o trabalho de desenho técnico, propiciando inclusões e alterações com muita praticidade. Faço tanto o layout como os desenhos executivos com ele.
AuE Paisagismo: Dentre os projetos que você realizou, qual deles você destacaria? Conte-nos um pouco sobre este projeto.
Bel Harris: Gostei muito de trabalhar no desenvolvimento do Calçadão Josué de Castro no Instituto de Química da Unicamp. Este projeto foi desenvolvido em parceria com a arquiteta Ana Lúcia Nogueira de Camargo Harris.
A liberdade de criação e a extensão da área me permitiram incluir diversos maciços de espécies nativas. Além disto, os jardins estarão sempre expostos à visitação por ser uma área bastante movimentada pelo trânsito de alunos, funcionários e professores. Com este trabalho, espero ter contribuído com a conservação ambiental e com o bem estar da comunidade.
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