Contrabando de Plantas: Uma Ameaça à Biodiversidade
Autor: Matheus Augusto P. Leôncio - Data: 06/08/2024
A busca por espécies raras para jardins e canteiros tem se tornado uma tendência crescente entre os entusiastas da flora. A popularização das plantas exóticas transformou muitas espécies e cultivares em verdadeiras febres, tanto em espaços privados quanto públicos. No Brasil, a cadeia produtiva da floricultura tem mostrado um crescimento significativo. Entre 2020 e 2021, o mercado de flores cresceu 15%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR), com a cadeia produtiva faturando R$ 10,9 bilhões em 2021, comparado a R$ 9,6 bilhões no ano anterior. Os segmentos de decoração, autosserviço e paisagismo foram os principais responsáveis por esses números, respectivamente faturando R$ 3,2 bilhões, R$ 2,2 bilhões e R$ 2,1 bilhões. Novas variedades e híbridos são constantemente criados e disseminados por fornecedores em todo o mundo.
A demanda por espécies naturais é alta, seja pela dificuldade de reprodução dos híbridos, que muitas vezes não produzem descendentes, seja pela raridade dessas plantas em jardins comuns. Embora a retirada ou comercialização dessas espécies da natureza sem autorização do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) seja crime, fornecedores licenciados podem reproduzi-las e vendê-las, atendendo ao desejo dos admiradores dessas plantas.
Um relatório recente revelou a intensificação do comércio internacional legal de plantas e animais nas nações amazônicas, movimentando uma indústria de US$ 128 milhões e exportando cerca de 14 milhões de plantas e animais anualmente. Os pesquisadores indicam que, se conduzido de maneira adequada, esse comércio pode beneficiar a economia e a vida selvagem, fornecendo dados vitais para a ciência sobre as populações naturais. O relatório enfatiza a importância do monitoramento, regulamentação e cumprimento sustentável das coletas para preservar a biodiversidade.
No entanto, o mercado negro de plantas também está em ascensão, com espécies brasileiras sendo frequentemente vítimas do tráfico. Retiradas de seus habitats naturais e vendidas ilegalmente, essas plantas enfrentam sérios riscos. A retirada, venda ou compra de plantas sem autorização do IBAMA é crime ambiental, com penas de 6 meses a 1 ano de prisão e multa. O contrabando pode ocorrer em qualquer lugar, desde feiras clandestinas até calçadas nas ruas.
A fiscalização dessas atividades é responsabilidade dos órgãos locais de meio ambiente, embora a Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo afirme que ações dependem de investigações e denúncias, e que isso foge da alçada da corporação. De acordo com a BBC, devido à intensa extração e contrabando, algumas espécies brasileiras são mais facilmente vistas nas redes sociais do que em seus habitats naturais.
Embora seja crime retirar ou comercializar espécies vegetais ameaçadas sem autorização, não é ilegal tê-las em coleções privadas ou recebê-las de presente. Alguns colecionadores argumentam que desempenham um papel similar ao de jardins botânicos, ajudando na preservação das espécies. Contudo, especialistas alertam que a ostentação dessas plantas na internet pode incentivar a comercialização ilegal. Para evitar a deterioração das espécies pelo comércio, existe o tratado CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção), que conta com a adesão de 182 países e a União Europeia. O tratado busca garantir que o comércio não ultrapasse os limites aceitáveis para cada espécie, com todas as exportações sendo divulgadas nacionalmente.
Philodendron spiritus:
Uma herbácea hemiepífita da família Araceae, endêmica da Mata Atlântica do Espírito Santo. Está na lista vermelha do CNCFlora como “em perigo”, indicando um risco muito elevado de extinção na natureza. Sua folhagem ornamental a torna alvo de contrabandistas.
Arquivos de Gustavo Magnago (2023) & Alexandre Magno (2024)
Melocactus glaucescens:
Conhecido como cabeça-de-frade-de-coroa-branca, este cacto é endêmico da Chapada Diamantina, na Bahia. Está listado no CITES devido ao contrabando e sua população reprodutiva é estimada em cerca de 250 indivíduos. Classificado como “em perigo” pelo CNCFlora.
Arquivos de Alexandre S. Michelotto (2022) & Vitordematos (2023)
Cattleya jongheana:
A orquídea Lélia é uma espécie de orquídea endêmica de Minas Gerais, mais especificamente da Serra da Caraça. É uma espécie epífita, extremamente ornamental e por conta disso foi vítima de um intensivo extrativismo para fins de comercialização. Além disso, a C. jongheana ocorre em regiões que foram severamente desmatadas pelo ser humano. Classificada como " em perigo " pelo CNCFlora.
Arquivos do RHS & Marni Turkel
Diante da crescente demanda e dos riscos associados ao comércio ilegal de plantas, surge a importância do paisagismo ecológico. O paisagismo ecológico não só visa criar espaços verdes esteticamente agradáveis, mas também promover o enriquecimento ambiental e a restauração dos ecossistemas locais. Utilizar espécies exóticas pode resultar em baixa interação com o ecossistema circundante, enquanto plantas nativas, coevoluídas com a fauna local, são mais benéficas. Ao planejar um jardim ou espaço verde, o ideal seria utilizar plantas nativas que interajam harmoniosamente com o ambiente circundante. Essas plantas regionais ou com características similares, como os mesmos polinizadores, garantem um ecossistema equilibrado e sustentável.
Na hora da compra de mudas de plantas naturais, deve-se verificar a procedência e confiabilidade do viveiro ou fornecedor, optando apenas por aqueles licenciados e alinhados ao CNAE 4789-0/02 (Comércio varejista de plantas e flores naturais).
A AuE Software é uma empresa que desenvolve software especializado para paisagismo, jardinagem e irrigação. Seus produtos, como o AutoLANDSCAPE, são ferramentas essenciais para profissionais da área, oferecendo recursos avançados para o planejamento e execução de projetos paisagísticos. A empresa incentiva as boas práticas no paisagismo, promovendo a integração entre ecologia e arquitetura, e fornecendo soluções que facilitam a criação de espaços verdes sustentáveis e esteticamente agradáveis.
Referências:
As plantas brasileiras quase extintas que movem mercado milionário no Instagram
Philodendron spiritus-sancti
Melocactus glaucescens
Cattleya jongheana
Plantas nativas e exóticas no paisagismo
Câmera escondida flagra venda e tráfico internacional de orquídeas nativas em SP
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