Do Jardim para a Mesa: A Revolução Culinária das PANC
Autor: Matheus Augusto P. Leôncio - Data: 05/12/2023
V ivendo em uma realidade onde alimentos derivados de trigo, milho e arroz compõe metade dos alimentos consumidos no mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO), a inclusão das Plantas Alimentícias Não Convencionas (PANC) na nossa dieta surge como uma alternativa nutritiva e bastante promissora.
As Panc, como são designadas, são plantas pouco conhecidas pela maioria das pessoas principalmente de centros urbanos, que podem ser consumidas na culinária. Essa designação é pouco comum no dia a dia, causando estranhamento nas pessoas por não serem encontradas com facilidade em mercados, feiras e outros espaços de comercialização. O termo “não convencional “ quer dizer que essas plantas não são produzidas e comercializadas em grandes escalas. Há muitos anos que essas plantas vêm sendo utilizadas na cultura e alimentação local, principalmente de cidades do interior, ou encontradas em quintais, roças, ou terrenos baldios. Com o avanço da industrialização e dos alimentos processados, ficou mais difícil ver essas plantas presentes na alimentação, devido ao desaparecimento do conhecimento de como utilizá-las e também desaparecimento de muitas espécies.
Atualmente, um pequeno número de plantas exerce um controle significativo sobre a maioria do mercado de vegetais, resultando em uma dieta carente de nutrientes essenciais e compostos bioativos essenciais para o metabolismo. Muitas das vezes essa lacuna é preenchida pelo uso de suplementos. Embora o Brasil possua um registro de aproximadamente 10 mil vegetais com potencial alimentício, a dieta da maioria dos brasileiros é restrita a apenas 20, sendo que quatro alimentos (arroz, trigo, milho e batata) compõem 70% do total consumido.
Uma alimentação variada é essencial para o melhor funcionamento do nosso corpo. A inclusão de nutrientes nas refeições como vitaminas, minerais, fibras, cálcio, proteínas e carboidratos é necessária para uma melhor qualidade de vida, tendo em vista vários benefícios como a prevenção de doenças, redução de dores, melhora de humor, melhora no metabolismo entre outros.
As Panc contêm concentrações mais elevadas de vitaminas e minerais em comparação com os alimentos tradicionais. Nestas plantas, raízes e grãos são abundantemente ricos em compostos bioativos com poder antioxidante significativo, desempenhando um papel crucial na redução do estresse oxidativo das células do corpo e, consequentemente, reduzindo o risco de doenças crônicas. Além do mais, por serem de origem vegetal, contribuem para a sensação de saciedade devido à sua alta quantidade de fibras.
Existem uma série de pesquisas científicas por trás das PANC, visando não só a segurança alimentar, mas também suas propriedades nutricionais e compostos bioativos presentes. A identificação da espécie deve ser correta, assim como qual parte da planta é comestível e a forma certa de preparo, considerando que algumas podem apresentar substâncias tóxicas para nosso organismo.
Em geral, essas plantas ainda são cultivadas por agricultores e comunidades fiéis as suas raízes, que resistiram a essa padronização das variedades cultivadas, então o consumo das PANC interfere diretamente na renda desses agricultores, tendo grande importância para a agricultura familiar. Por conta da sua rusticidade e baixa manutenção, essas plantas possuem facilidade de plantio podendo ser disseminadas com facilidade. A baixa necessidade de irrigação e resistência a pouca adubação atribuem a essas plantas caráteres fitoquímicos, diminuindo o risco de diabetes e doenças crônicas.
Se engana quem acha que esse grupo de plantas encontram limitações quanto a sua utilização. Existem várias maneiras e diferentes tipos de preparo na culinária. Saladas, recheios, sucos, refogadas, fritas, usadas na fabricação de geleias e doces, são algumas das várias formas conhecidas de preparo e utilização desses vegetais.
Receitas como “ Peixinho-da-horta empanado “ e “ Caldo de tucupi com jambu “ são exemplos de receitas presentes em algumas regiões do Brasil e que fazem bastante sucesso na culinária, outras estão presentes em várias regiões sendo bastante difundidas no país, como é o caso da Taioba refogada, excelente acompanhamento para pratos salgados.
Como cita Cristina Callegari, nutricionista especialista multiprofissional em Saúde da Família modalidade residência, “Saber identificar, cultivar e consumir as PANC contribui com a valorização das culturas alimentares nas quais essas plantas estão presentes e evita que elas desapareçam do nosso cotidiano. Contribui também com a valorização da biodiversidade, a promoção da segurança alimentar e nutricional, a soberania alimentar e a garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável”.
REFERÊNCIAS:
Plantas Alimentícias Não Convencionais & Saúde – Volume 1 / Valéria Paschoal, Flávio Luiz Schieck, Valente, Érica Lobato, Nuno Madeira -- São Paulo:
Valéria Paschoal Editora Ltda., 2020. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/224204/1/Panc-para-nossa-Sau769de.pdf
Queiroz, Christina . “Panc Na Dieta Dos Brasileiros.” Revistapesquisa.fapesp.br, 5 Oct. 2022, revistapesquisa.fapesp.br/panc-na-dieta-dos-brasileiros/. Accessed 5 Dec. 2023.
Ramos Callegari, Cristina . “PANCs: O Que São E Quais Seus Benefícios? – Nutri Jr.” Nutri Jr, 29 Oct. 2020, nutrijr.ufsc.br/pancs-o-que-sao-e-quais-seus-beneficios/. Accessed 5 Dec. 2023.
Nascimento, Diogo Claudio. “POTENCIAL NUTRITIVO de PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS (PANCS) – ISSN 1678-0817 Qualis B2.” Revista Ft, 8 Nov. 2022, revistaft.com.br/potencial-nutritivo-de-plantas-alimenticias-nao-convencionais-pancs/.
Santos, Natália . “Pancs: Exóticas E Nutritivas.” Www.folhape.com.br, 22 Apr. 2018, www.folhape.com.br/sabores/pancs-exoticas-e-nutritivas/65887/. Accessed 5 Dec. 2023.
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