Elena Soboleff, paisagista na Argentina, fala sobre seu trabalho

Autor: Regina Motta - Data: 08/02/2014

Antes de tudo, agradeço a oportunidade de trocar ideias através deste portal dedicado à nossa profissão. Já fiz de tudo um pouco e acabei trabalhando horas e horas e mais horas em um escritório, atrás do computador, do telefone, do fax, das pastas suspensas e da bandeja de entrada e saída. Já não gostava mais dessa rotina. Arquitetura sempre foi algo que me atraiu, mas que nunca cheguei a estudar. Como sempre gostei de artesanato, de design, da natureza, vi no paisagismo a oportunidade de ter uma profissão que além das horas-escritório tivesse também horas ao ar livre. Não sei se as dificuldades hoje são outras. Acredito que são muito pessoais, dependem muito da formação (formal ou informal) e das características pessoais de cada profissional.


Aue Paisagismo: Você viveu no Brasil por vários anos e depois foi para a Argentina. Qual a diferença que percebe entre os dois países do ponto de vista do exercício da profissão? Existem diferenças na valorização do Paisagismo?

Elena Soboleff: No Brasil tudo é mega, grande, hiper. Os supermercados, os shoppings, as grandes redes de farmácias... E a mídia em torno dos paisagistas que executam grandes obras. Lembro, por exemplo, de pelo menos quatro publicações periódicas sobre paisagismo e jardinagem no Brasil. Aqui há apenas uma e custa mais chegar ao mesmo tipo de informação, o que não significa que por aqui a atividade seja menos importante. No paisagismo argentino também há nomes que se repetem constantemente.

Assim como no Brasil, quem dispõe dos meios para fazer um jardim nem sempre sabe que pode recorrer a um profissional para isso e se esquece de reservar parte do orçamento para suas áreas verdes. Logo, como já gastou tudo na construção e decoração da casa, deixa o jardim para outro momento, geralmente fazendo o indispensável por conta própria.



Aue Paisagismo:Em sua página no Facebook Elena Soboleff paisajismo você publicou uma matéria muito interessante sobre o Parque Micaela Bastidas, em Puerto Madero. O que nos diz sobre os projetos urbanísticos de Buenos Aires?

Elena Soboleff: As praças e parques de Buenos Aires são, em sua maioria, de estilo muito clássico e conservador. O paisagismo urbano começou com características de jardins europeus, franceses principalmente. São poucos os novos espaços públicos que surgem numa cidade que já está instalada e me parece bastante natural que tentem manter os já existentes conforme seu desenho original, por respeito à sua história e significado (além da falta de verba para fazer maiores reformas).
Espaços públicos novos representam uma oportunidade de renovar o modo de encarar seus desenhos. Esse é o caso do bairro Puerto Madero. E das controversas obras na Av. 9 de Julho. Como os espaços públicos estão sempre ligados ao partido político da vez, as inovações sofrem muitas críticas que nem sempre são resultados de uma avaliação imparcial. Há coisas interessantes acontecendo, como alguns casos de projetos participativos, com aporte direto da população interessada.

Aue Paisagismo: Como é a regulamentação da profissão de paisagista na Argentina?

Elena Soboleff: Inexistente. E o debate sobre o tema não tem ainda a força que adquiriu no Brasil. Há alguns cursos superiores reconhecidos e muitos cursos técnicos de bom nível sem qualquer registro.

Aue Paisagismo:Além de exercer a profissão de paisagista, você também se dedica à criação de peças em cerâmica. Como surgiu este outro caminho? Qual deles lhe dá mais prazer?

Elena Soboleff:Como comentei, sempre gostei do artesanato e de atividades manuais e criativas. A cerâmica era algo que tinha pendente há muito tempo e que por fim pude realizar. No fim, mais uma forma de usar a terra. Uma forma muito gratificante e de amplos horizontes, como o paisagismo. Escolher uma? Difícil...

Aue Paisagismo: A preocupação com o meio ambiente, utilizando a reciclagem é também uma de suas atividades, elenasemh. Poderia nos falar um pouco sobre isso?

Elena Soboleff:Estudei num colégio alemão em São Paulo e desde cedo tive contado com a reciclagem, a começar pelo reutilizar e pelo reduzir. Primeiro para fabricar coisas artesanais, logo recuperando brinquedos para doação. Quando uma rede de supermercados começou a coletar resíduos recicláveis, enchíamos o carro com eles para diminuir nosso lixo. Isso já faz parte, não dá para não reciclar.
E isso é válido para a vida profissional tanto quanto a pessoal. Quando trabalho num projeto, procuro reutilizar todas as plantas, vasos, móveis. Ou de dar a elas a oportunidade de serem utilizadas por outros.



Aue Paisagismo: Qual a área do Paisagismo que lhe dá maior gratificação? Entre obras públicas e privadas, onde melhor se realiza?

Elena Soboleff:Ainda não tive a oportunidade de fazer uma obra pública, mas tenho um projeto de revalorização de um bulevar que não saiu do papel e que gostei muito de fazer. Aprendi muito com a pesquisa. Era um trabalho de um curso que gerou comentários muito positivos. Espero a oportunidade de fazer um projeto urbanístico de caráter público, será gratificante.

Aue Paisagismo:Existe alguma dificuldade com fornecimento das espécies escolhidas para o projeto? Pensando em facilitar o trabalho dos paisagistas, a Aue Soluções disponibiliza opaisagismodigital.com e o paisajismoyjardin que engloba fornecedores de plantas, insumos e mobiliário. Basta um clique para encontrá-los.

Elena Soboleff:Comprar aqui em Buenos Aires é bastante diferente de comprar em São Paulo ou outras cidades que possuem mercado central. O CEAGESP é muito cômodo porque tratamos direto com o produtor e podemos conseguir espécies que não são tão comuns. Aqui os viveiros são bastante menores e geralmente não são produtores (esses não possuem ponto de venda ao público). O mercado de flores também vende algumas plantas envasadas, mas não se compara.
Minha maior dificuldade aqui é conseguir plantas nativas da região. Gosto muito de incluir essas espécies em meus trabalhos, mas são poucos os viveiros que a isso se dedicam e, em sua maioria, são pequenos e caseiros, mantidos por pessoas interessadas no tema. Isso significa que é complicado conseguir plantas com o porte desejado e o mesmo acontece com as quantidades. Por sorte até hoje meus clientes se interessaram pelo assunto e tiveram a paciência necessária para esperar o crescimento das plantas ou até mesmo que elas sejam incorporadas à medida que há disponibilidade. Seria muito útil ter um cadastro desses fornecedores disponível online.



Aue Paisagismo:Como a tecnologia tem ajudado na hora de desenhar e apresentar os seus projetos?

Elena Soboleff:Sou muito detalhista. Quando trabalhava na prancheta, tomava a precaução de fazer uma planta base e trabalhar sobre cópias, mantendo o original e assim ganhando muito tempo. Com o AutoCad e o AutoLANDSCAPE isso ficou muito mais fácil e o trabalho final com uma apresentação mais limpa - por melhor que seja a cópia, um original é sempre mais apresentável. Fazer modificações ficou muito mais fácil.
Ainda assim, um belo desenho colorido à mão ainda me parece mais cálido. Ele transmite melhor as sensações aos clientes, principalmente para aqueles com menos familiaridade com plantas e desenhos técnicos. Nada como ter a possibilidade de unir ambos métodos.

Aue Paisagismo:Você já era usuária do AutoLANDSCAPE e agora está usando nosso novo produto o CalcLANDSCAPE. Pode nos dizer de sua experiência com esta nova ferramenta?

Elena Soboleff:Só o fato do software contar as quantidades de cada espécie e montar uma tabela já significa uma boa economia de tempo e diminui muito a margem de erro ao fazer o orçamento. Há pouco tempo instalei a versão 2012 do AutoLANDSCAPE e estou adorando sua cara nova bem como os testes que tenho feito com o CalcLANDSCAPE. Como trabalha sobre a lista de espécies do projeto, tenho certeza de que estarei cotando todos os itens necessários, sem o receio de esquecer algum, principalmente quando há modificações. Fazer orçamentos finalmente ficou mais simples.

AuE Paisagismo:O que você diria aos jovens que estão se decidindo pela escolha da profissão de Paisagismo?

Elena Soboleff:Há muito para fazer e sempre haverá. O paisagismo está cada vez mais próximo ao usuário, mais acessível e interativo. Como nas demais áreas, manter-se atualizado e informado é essencial para ser um bom profissional. Surgem produtos novos a cada dia, possibilitando que nossos projetos sejam também renovados.


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1 - Autor: Elena Soboleff - Data: 03/04/2014 09:46:59

Oi Claudia Obrigada pelo comentário. Vá em frente, há vários cursos interessantes no mercado. Um mais apaixonante que o outro. Vira e mexe divulgo algum no meu face, se quiser acompanhar: www.facebook.com/ES.Paisajismo (paisaJismo com J mesmo, em espanhol). Avise se for passear por Buenos Aires e combinamos para conhecer algo juntas. Abraço, Elena



2 - Autor: Claudia Martins - Data: 24/03/2014 04:08:31

Amei a entrevista, sou paisagismo de coração sem nem uma instrução rsrsrs, mas procurando maneiras de aos 40 anos conseguir uma formação nesta area, comecei procurando cursos e depois desta entrevista mais ainda confirmou o que quero de profissão, parabéns.




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