Entrevista: Paisagista Alexandre Drefahl fala sobre o paisagismo atual
Autor: Regina Motta - Data: 09/04/2015
Em 2007, tivemos o prazer de publicar a Entrevista Com o Eng. Florestal Alexandre Drefahl que nos contou sobre seu trabalho e o início de sua atividade como paisagista.
Na ocasião ele disse de sua relação com o AutoLANDSCAPE: " Não é coincidência nossa empresa ter começado a trabalhar com projetos no ano de 1998 (ano de lançamento do primeiro AutoLANDSCAPE) pois quando encontramos a ferramenta começamos a investir nesta área. Antes fazíamos jardins apenas dando uma idéia para o cliente em uma conversa informal, essa fase passou pois hoje não se consegue mais vender jardins sem um bom projeto."
Vamos conhecer agora as suas realizações durante estes anos:
Aue Paisagismo: A Drefahl apresenta um portfolio extenso de serviços, como é gerir uma empresa assim? Como funcionam as várias vertentes como Projetos, implantação e viveiro?
Alexandre Drefahl: De fato é um trabalho intenso pois todas as atividades requerem tempo e dedicação para que sejam bem executadas, porém as responsabilidades estão bem divididas. A parte de projetos, onde atuo mais diretamente, é um mercado cada ver mais crescente em nossa região. Há algum tempo atrás os clientes particulares e até mesmo construtoras não estavam habituados com a ideia do projeto de paisagismo. Hoje é uma realidade e por isso a demanda tem crescido tanto. A vertente de implantação é gerida diretamente pelo Sr. Roberto (meu pai) que foi quem iniciou a empresa nos anos 70. Ele faz toda a coordenação de pessoal, materiais e cronograma. O segmento de viveiro é coordenado pelo Fernando (meu irmão) onde a empresa atua não só produzindo plantas para consumo nos próprios projetos como também fornecendo para o Brasil todo.
Aue Paisagismo: O problema hídrico que aflige o país tem trazido consequências para a empresa?
Alexandre Drefahl: Aqui na região Sul não estamos sentindo diretamente o impacto desta escassez (ainda). Especialmente em Joinville-SC onde estamos, nosso relevo e clima são favoráveis a um nível bastante elevado de chuvas.
No entanto o problema que a região Sudeste enfrenta já está mobilizando os governantes de que algumas políticas devem ser alteradas para que não venhamos a enfrentar isso no futuro. Indiretamente, o maior impacto que sentimos é na redução das vendas pois o principal mercado consumidor para nossas plantas de viveiro é a região Sudeste, mais especificamente o estado de São Paulo. E com a crise hídrica a reação vem em cadeia.
Aue Paisagismo: Quais as espécies de plantas você utiliza mais em seus projetos? Existe a preocupação de privilegiar as espécies nativas?
Alexandre Drefahl: Utilizamos muitas plantas tropicais. Somos produtores tradicionais de palmeiras e por isso elas sempre estão em nossos projetos. Confesso que atualmente as espécies nativas têm ganho uma importância menor do que mereciam em projetos de paisagismo, principalmente na região. Elas poderiam ser mais bem exploradas.
Nossa flora é tão rica que certamente é possível criar belíssimos projetos com ela, além de vantagens técnicas como adaptação ao clima, solo, entre outras. Mas o uso destas espécies vem crescendo em nossos projetos.
Aue Paisagismo: Como você vê a profissão de paisagista hoje? Sente uma valorização maior? E as dificuldades, quais são?
Alexandre Drefahl: Sem dúvida é uma profissão que vem ganhando espaço no mercado. Existe uma maior valorização no sentido de que, esse despertar para uma consciência de um crescimento mais sustentável, tem incorporado uma participação mais significativa das áreas livres.
O paisagismo tem uma participação cada vez maior na valorização imobiliária. Deixou o segundo plano para ganhar a cena. A principal dificuldade é o orçamento do cliente que, no momento da implantação do projeto, já está bem comprometido e por vezes acaba fazendo com que as ideias originais tenham que ser revistas.
Aue Paisagismo: Hoje você é usuário também do PhotoLANDSCAPE, além do AutoLANDSCAPE. O que nos diz sobre estas ferramentas? Qual a sua expectativa em relação às novas versões dos programas que iremos lançar?
Alexandre Drefahl: O PhotoLANDSCAPE de fato é uma ferramenta extremamente útil, pois o cliente, principalmente o particular, não tem uma visão do que pode vir a ser seu espaço, apenas olhando um projeto. Existe uma dificuldade, por parte do cliente, em olhar o projeto, olhar a foto da planta e fazer uma imagem mental de como seu jardim irá ficar.
Com o PhotoLANDSCAPE essa barreira é transposta pois podemos comunicar de forma bem clara nossas intenções de projeto. Em termos de uso da ferramenta estamos bem satisfeitos, pois é intuitiva e fácil de usar.
Aue Paisagismo: Como o paisagismo pode melhorar a qualidade de vida da população?
Alexandre Drefahl: Aqui a resposta pode ser bem ampla. Posso citar aspectos psicológicos, como o jardim sendo um lugar de refúgio. Em cidades cada vez mais agitadas, com um ritmo de vida cada vez mais intenso, o jardim ganha o papel de um espaço onde as pessoas podem resgatar aquela serenidade que a natureza comunica.
| Podemos pegar o "gancho" da restrição hídrica, onde os jardins são espaços de permeabilidade no solo que permitem a infiltração da água para recarga dos lençóis. | | |
A permeabilidade do solo é importantíssima pois atua nos dois sentidos, o de recarga, e a amenização de enchentes. Poderíamos abordar aqui inúmeras vantagens que o paisagismo pode trazer para a vida das cidades.
Aue paisagismo: Você percebe, hoje, uma preocupação maior com o meio ambiente e uma valorização das áreas verdes pelas construtoras e clientes?
Alexandre Drefahl: Sem dúvida as áreas livres estão ganhando uma importância cada vez maior. Hoje a preocupação com o espaço livre é muito grande. Talvez pela consciência de preservação que também cresce nas pessoas. O fato é que o paisagismo tem sido usado como principal ferramenta de "apelo" de marketing pelas construtoras. As imobiliárias confirmam que o paisagismo aumenta as chances de venda de um imóvel.
Aue paisagismo: Qual a sua mensagem aos jovens que se interessam pela profissão de paisagista?
Alexandre Drefahl: Que é uma profissão que ainda tem muito campo para ser explorado. Que sejam dedicados a entender as relações entre o homem e a natureza pois nelas moram a chave do sucesso profissional. As questões técnicas são importantes como conhecimento das espécies vegetais, clima, solo entre outras que não estão dissociadas do projeto.
Leciono também a disciplina de paisagismo no curso de arquitetura da Universidade Católica de Santa Catarina e o que digo para meus alunos é que o nosso "material de construção" nos projetos de paisagismo são seres vivos que necessitam de algumas condições para sobreviver, e elas não podem estar separadas da estética. Ampliem a visão para tratar tudo como um conjunto, que realmente é.
Veja também:
Entrevista com o Eng. Florestal Alexandre Drefahl
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