Entrevista: Helton Josué Teodoro Muniz, maior colecionador de frutíferas do Brasil
Autor: Regina Motta - Data: 09/04/2015
Maior coleção de plantas frutíferas do Brasil, certificada pelo RankBrasil, em 2015, pertence a Helton Josué Teodoro Muniz. No sítio Frutas Raras, localizado em Campina do Monte Alegre (SP), ele cultiva 1.311 espécies agrupadas em quase 100 famílias botânicas.
A notícia, divulgada em várias mídias, chamou a nossa atenção e, atendendo ao nosso convite, ele se dispôs a nos contar um pouco mais sobre este trabalho magnífico que já está sendo reconhecido a nível internacional, sendo entrevistado pela BBC de Londres.
Aue Paisagismo: Nossos leitores vão gostar muito de conhecê-lo! Fale-nos sobre você. Como surgiu esta missão de cultivar plantas frutíferas? Há quanto tempo vem se dedicando a ela?
Helton: Um pouco sobre mim e como comecei essa atividade:
Meu nome é Helton Josué Teodoro Muniz, eu nasci em Piracicaba-SP em 30 de junho de 1980, depois vivi até grande parte da adolescência na Cidade de Angatuba-SP, onde estudei o primeiro grau completo. Quando mudei para a Fazenda de meus avós em Campina do Monte Alegre-SP, na idade de 15 anos, é que comecei a me interessar mais seriamente pela natureza, especialmente pelas plantas.
Foi por causa de um nome estranho (na época para mim) que despertou minha curiosidade para o infinito mundo das Frutas Nativas Brasileiras. Quando ouvi o nome SAPUTÁ por meio de pescadores que usavam o fruto para se alimentar e para pescar pacu no rio Paranapanema, perguntei como era tal fruto, me explicaram tratar de um cipó que crescia na beira do rio, e produzia frutos amarelos e adocicados do tamanho de um limão galego.
Fonte: BBC: Life as a rare fruit collector
De modo que, nesta época, despertou em mim a curiosidade, daí consultei um dicionário e vi que o nome era válido e realmente existia. Então comecei a folhear o dicionário e li um monte de nomes de frutas que eu nem conhecia, com isso em mente passei a me empenhar na busca dessas frutas silvestres desconhecidas.
Hoje, após 18 anos, fico até mesmo encantado de ter alcançado o record de + de 1.300 espécies de Frutas cultivadas em um só lugar. Atribuo a sabedoria que adquiri como sendo um "dom dado por Deus" que também me abençoou muito e continua me ajudando a resgatar, ajuntar e preservar as frutas que são maravilhosas obras criativas DELE.
Aue Paisagismo: Como aprendeu a técnica de cultivo?
Helton: Eu mesmo desenvolvo as técnicas de cultivo, pois quase não existem livros ou informações sobre as frutas nativas ou raras. Meu trabalho é pioneiro e divulgo em primeira mão no sitecolecionandofrutas.org e tenho mudas da maioria das espécies.
Aue Paisagismo: A falta de chuvas tem afetado o seu cultivo? Você usa algum sistema de irrigação? Sobre irrigação, convido-o a conhecer nosso Software, HydroLANDSCAPE, pode ser de seu interesse.
Helton: Não tenho problema sério com falta de água, pois há 10 anos já iniciei a recuperação de nascentes. Tenho nessa época + de 4 polegadas de água corrente e pura. No Pomar tenho amendoim forrageiro, este mantem o solo úmido com temperatura ideal (de 19 a 24 graus) para as raízes, toda água do solo é infiltrada e não existe erosão, além dele produzir nitrogênio e matéria orgânica com as roçadas.
Aue Paisagismo: Você cultiva espécies exóticas, vindas de outros países, como conseguiu adquirí-las? Quais as dificuldades encontradas?
Helton: Tenho apenas 30% de exóticas. A maioria consegui de produtores ou colecionadores que já têm essas plantas no Brasil. Algumas consegui por meio de troca de sementes. As exóticas são mais fáceis de conseguir porque os outros países cultivam e valorizam suas riquezas. No Brasil, a maioria só pensa em exóticas e esquece das nossas preciosas plantas e frutas que não existem em nenhuma outra parte do mundo.
Aue Paisagismo: Falando em espécies exóticas, quais as fruteiras foram mais difíceis de conseguir?
Helton: Como já falei, as exóticas podem ser encontradas aos montes na internet, mas as frutas nativas do Brasil não têm divulgação, dificilmente se consegue sementes e raramente se acha muda, e quem procura encontra sempre a minha pagina e quase todo tipo de mudas.
Aue Paisagismo: Faz também exportação de mudas ou sementes?
Helton: Não trabalho neste mercado. O Brasil tem uma burocracia que incrimina quem faz isso. E esse atraso é lamentável.
Aue Paisagismo: Sabemos que o seu trabalho vai muito além de plantar, pois disponibiliza informações muito úteis em seu site colecionandofrutas.org e também já lançou um livro sobre o assunto. Pode nos falar um pouco mais sobre isso?
Helton: Meu trabalho é de um desbravador e de novidades e descobertas. Não vivo da procura, vivo da oferta, e não tenho a ganancia de ganhar dinheiro por querer ganhar o mercado do que é mais procurado. Meu mercado é sempre a inovação.
| E as pessoas precisam aprender a cultivar novidades e se desamarrar do comum, convencional, e exótico. As nossas frutas são as mais exóticas e os gringos são loucos por elas. | | |
Aue Paisagismo: Existem outros colecionadores como você aqui no Brasil? E no exterior? Tem contato com eles?
Helton: Existem centenas de colecionadores no Brasil, e este campo está crescendo e precisa crescer mais. Pois são os colecionadores que estão criando e mantendo bancos genéticos que vão fornecer a base para inúmeros estudos e lançamentos de novos cultivares. Fora do Brasil tem muito mais colecionadores, e eu tenho contato com vários.
Aue Paisagismo: Qual a sua mensagem para os brasileiros, nesse momento de preocupação ambiental?
Helton: Minha mensagem é a Frase que Criei: Conhecer para preservar e Preservar para conhecer pois todos precisam entender que não é só o dinheiro que tem valor; mas existem coisas, principalmente nossas frutas e plantas PANCS alimentares (mais de 10 mil só no Brasil) que se valorizadas podem gerar saúde, qualidade de vida, água (se forem plantadas florestas em todas as nascentes) e riquezas, coisas essas em si que o dinheiro não pode comprar.
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