Mudança de nomes botânicos e a história do nome de Agapanthus africanus
Autor: Marines Eiterer - Data: 07/04/2015

Quem trabalha com plantas reclama muito da mudança de nomes científicos. Mas na verdade isso sempre aconteceu, com plantas, animais e muitos outros organismos. Estamos numa busca por uma classificação o mais natural possível. Entretanto, algumas mudanças são na verdade correções de um erro que ocorreu no passado, como foi o caso do Agapanthus africanus. Não houve uma mudança no nome, mas uma correção no seu uso. O nome Agapanthus africanus é um nome válido e é usado, mas nós não cultivamos em nossos jardins essa espécie.
Agapanthus é um gênero de plantas originárias da África do Sul, isto é, só ocorrem naturalmente lá e em nenhum outro lugar. Elas ocorrem geralmente em áreas onde chove mais que 500mm por ano e em altitudes até 2.000 m. O nome Agapathus é formado por duas palavras gregas ágape e anthos que significam amor e flor, respectivamente, o que poderia ser interpretado como flor do amor, mas há outras interpretações possíveis.
O gênero Agapanthus foi descrito pelo botânico francês Charles Louis L Héritier de Brutelle (1746 -1800) também conhecido por L Héritier, em 1788. Primeiro, Agapanthus foi incluído nas família dos lírios (Liliaceae) depois na família dos narcisos (Amaryllidaceae), a seguir na família das cebolas (Alliaceae), voltou para Amaryllidadeceae, foi colocado em Agapanthaceae, uma família exclusiva dos Agapanthus e por fim voltou para Amaryllidaceae.
O botânico Frances M. Leighton revisou o gênero, em 1965 e reconheceu dez espécies de Agapanthus: A. africanus (L.) Hoffmanns, A. campanulatus Leighton, A. caulescens Sprenger, A. coddii Leighton, A. comptonii Leight, A. dyeri Leight, A. inapertus Beauv., A. nutans Leight, A. praecox Willd, A. walshii L. Bolus. Contudo, utilizando o conteúdo do DNA, a vitalidade e a cor do pólen como critério para investigar todos os gêneros de Agapanthus, Ben J. M. Zonneveld e Graham D. Duncan, em 2003, reconheceram apenas 6 espécies: A. campanulatus Leighton, A. caulescens Sprenger, A. coddii Leighton, A. praecox Willd., A. inapertus Beauv. and A. africanus (L.) Hoffmanns.
Algumas espécies de Agapanthus são cultivadas nos jardins de todo o mundo, por causa de suas inflorescências globosas compostas de pequenas flores azuis ou brancas. As espécies de Agapathus são muito variáveis nas suas características e distribuição, mas muitos similares quanto ao seu aspecto, por isso, são difíceis de identificar. Leigos e viveiristas identificam dois Agapanthus comuns nos jardins como Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis. Agapanthus africanus é uma planta difícil de cultivar. Qualquer Agapanthus designado africanus no comércio de plantas é quase certamente Agapanthus praecox.

Agapanthus africanus foi a primeira espécie de Agapanthus coletada na África do Sul e descrita em 1679 pelo nome de Jacinto africanus por Carolus Linnaeus (1707-1778). As plantas foram cultivadas e floresceram na Europa no final do século XVII. Talvez esteja aí o início da confusão. Além disso, todo Agapanthus é africano, mas nem todo Agapanthus que vem da África é Agapanthus africanus. Por fim, plantas identificadas como Agapanthus orientallis são na verdade Agapanthus praecox, o nome Agapanthus orientalis tornou-se uma sinonímia, depois da revisão de Ben J. M. Zonneveld e Graham D. Duncan, em 2003. Livros e sites que mostram Agapanthus africanus e Agapanthus orientalis, como plantas cultivadas em jardins estão, na verdade, desatualizados.
M. Eiterer
Fonte:
LEIGHTON, F.M. 1965. The genus Agapanthus LHeritier. Journal of South African Botany, suppl. vol. no. 4. National Botanic Gardens, Cape Town.
ZONNEVELD, B. J. M. & DUNCAN, G. D. 2003. Taxonomic implications of genome size and pollen colour and vitality for species of Agapanthus L Héritier. Plant Syst. Evol. 241:115-123 (2003).
Veja também:
- O nome de uma planta
- O nome de uma planta II: cultivar
- Conheça a norma para nomes científicos - O código botânico
- Duas ou três coisas sobre as coníferas
- As plantas e o aquecimento global
- Jardinagem Orgânica
- Os segredos do florescimento
- Beleza que não se vê
- Os cultivares e o banco de dados de plantas da Aue Soluções
- A revolução das plantas secas

Anterior Próximo