Experiência, Tecnologia e Identidade no Universo Paisagístico com Alexandre Galhego
Autor: Giulia Wogel - Data: 30/01/2024
Alexandre Galhego é um profissional de extenso repertório acadêmico e empresarial. Em 1992, ele formou como Engenheiro Agrônomo na USP, mas não parou por aí na sua busca incessante por conhecimento. Apenas 4 anos depois, em 1996, ele completou seu mestrado na UNESP e, em seguida, fez pós-graduação em ciências biológicas e especialização em botânica. Por mais que Alexandre tenha dedicado bastante tempo à sua qualificação, o interesse pelo paisagismo vem de família. Desde seus 14 anos, Alexandre acompanhava seu pai no trabalho, que além de engenheiro agrônomo e professor, era também dono de uma pequena floricultura. Esse companheirismo entre pai e filho continuou durante e após a faculdade, pois Alexandre fez estágio e trabalhou um tempo no negócio do pai antes de decidir caminhar com os próprios pés e fundar sua empresa em 1996, fazendo projetos paisagísticos não só na região de Campinas, mas em todo o Brasil.
Quase 30 anos de uma recheada carreira se passaram e, para Alexandre, não existe fórmula mágica para o sucesso. De acordo com ele, seu foco e amor pela profissão permitiram que construísse seu caminho de pouquinho em pouquinho, de forma que no final, tudo fosse apenas uma consequência do seu estudo, trabalho constante, perseverança e seriedade na busca por evolução. Seu comportamento de considerar seus clientes e colaboradores como parceiros de longa data permitiu que criasse uma relação de confiança com os mesmos, que o indicam para amigos, parentes, assim como o chamam para fazer mais projetos.
"É uma escada. Eu vejo os jovens hoje em dia com um pouco de pressa de já chegar no destino, e o destino na vida é, quase sempre, bem distante. Você tem que ir passando fase a fase e, fazendo dessa forma, com perseverança ele vai chegar, isso é fato."
Como Encarar as Tendências do Paisagismo
Em função do estilo de paisagismo, Alexandre relata que no começo da carreira, trabalha-se de acordo do que o mercado pede. Contudo, à medida que o profissional vai se desenvolvendo na área, ele pode colocar mais da sua própria linguagem no processo. Com ele não foi diferente, ao passar do tempo Galhego adotou uma identidade em seus projetos, trabalhando plantas nativas, arborização, conexão entre projeto e entorno, antes mesmo dessas características virarem tendências no mercado.
"Quando eu comecei com isso a maioria ainda estava trabalhando de uma maneira mais exótica, com um jardim um pouco mais ritmado. A gente já veio com essa linha de projeto mais solto, de contemplar árvores no projeto, que é uma dinâmica muito forte do nosso escritório. Tentar colocar o máximo possível de vegetação nativa e arbórea no projeto para realmente você conseguir ter uma estabilidade maior no processo, uma dinâmica mais gostosa de vivência..."
Ele continua, dizendo que se deve trabalhar sempre de maneira atemporal, para que o projeto não fique datado e as pessoas se sintam bem dentro dele, complementando sua fala com uma frase do brilhante Burle Marx: "Não existe planta feia, existe planta mal colocada".
A Atuação Como Profissional
Atualmente, o escritório de Alexandre é localizado em Campinas, uma região muito forte em paisagismo devido ao seu crescimento predominantemente horizontal, ou seja, com muitos condomínios, que proporcionam muitas oportunidades. Também, por ser uma região próxima da grande São Paulo, toda a área no entorno da metrópole está entre sua atuação mais potente. Um dos motivos que contribuiu fortemente para esse fator foi a pandemia e o trabalho remoto, que incentivou muitas pessoas a construírem em torno da capital, a fim de fugir um pouco da cidade. Além disso, começaram a aparecer também trabalhos à distância, pois as pessoas passaram a se sentir à vontade para fazer uma videoconferência e entender o projeto sem estar ali fisicamente. Tal fato permitiu que Alexandre atendesse projetos em lugares como Minas Gerais, Brasília, Porto Alegre e Pará. Ainda, ele conseguiu abrir mais seu leque de distribuidores, não se limitando apenas a Campinas. Em suas palavras:
"O mercado tá muito específico. Por exemplo, você tem um especialista mais ou menos em cada tipo de planta ornamental, árvores ornamentais e tipo de palmeira. Então a gente tenta se achar dentro desses melhores produtores, e em função da locação das nossas obras, ou seja, se organizar com relação a tipos de solo, tipo de clima e condições em que essa planta foi formada, para um resultado melhor depois"
Os Projetos
Na conversa, Alexandre conta que executa todos seus projetos, porque é a maneira que ele garante a qualidade total deles. Ele foge do padrão de muitas empresas que tratam o projeto como uma licitação, ou seja, tentando trabalhar da maneira mais barata possível dentro de uma tabela. Na sua experiência, isso não entregaria o resultado que ele costuma para seus clientes, e acabaria atrapalhando tanto na questão visual quanto comercial. O trabalho em equipe também é essencial para alcançar o sucesso. Ao atender seus parceiros arquitetos da melhor maneira possível e "vestir" a obra deles, Alexandre cresce junto. Dessa forma, sendo dono do próprio negócio ele consegue implantar com o seu olhar, cuidados e acompanhar um pouco o desenvolvimento inicial desse paisagismo. Por esse motivo, ele não faz a obra de terceiros e tenta ao máximo executar os projetos que desenvolve, mesmo não sendo obrigatório para o cliente. O software AutoLANDSCAPE acompanha Alexandre em seus projetos há décadas:
"O negócio tinha tudo que a gente precisava, porque juntava as informações, otimizava, e eu apostei nele lá atrás, acho que eu sou um dos clientes mais antigos e desde então o sistema foi melhorando, e a gente foi acompanhando junto com ele"
As Mudanças Tecnológicas Acompanham a Profissão
Nos seus tempos de faculdade, os projetos eram feitos com caneta nanquim e prancheta, e a ideia da computação como ferramenta profissional, não apenas para pesquisa, começava a surgir. Alexandre afirma sempre ter gostado do digital e seu interesse o levou a ser um dos pioneiros a usar computação no paisagismo, já que quando entrou para o mercado em Campinas, poucas pessoas a utilizavam. Pessoalmente, ele ainda gosta de trabalhar parte à mão, para uma criação mais especifica. Entretanto, não é segredo que o digital propicia uma agilidade, funcionalidade e conexão fantástica. Sabendo disso, o engenheiro já estruturou seu negócio pensando nas facilidades tecnológicas e, por isso, sua equipe trabalha inteiramente no modelo de home office (trabalho remoto).
"Eu tenho um pé no desenho porque eu gosto, acho que para alguns raciocínios a coisa flui bem. Mas, de qualquer maneira, para executar um projeto vai cair na mão do computador."
Ele continua, apontando as mudanças com a chegada da tecnologia para o empreendedor no geral. Hoje em dia, o fato de você ter uma página ativa no Instagram, permite quem estiver interessado no seu trabalho a entrar na rede social e entender o seu estilo, gostar ou desgostar. De certa forma, funciona como um currículo que vai ajudar a pessoa a decidir se quer comprar seu serviço ou não. Com isso, Alexandre diz preferir que seu Instagram e site sejam focados na técnica, para reforçar que seu nome esteja associado ao assunto paisagismo, e não à sua figura e hábitos.
"Antigamente era mais complicado para você acessar o portfólio de um profissional, era menos público. Hoje em dia, a pessoa consegue entrar, olhar, sair e você nem sabe. Então eu acho que as redes sociais são muito importantes sim, mas nada substitui a conexão via parceiro, cliente e especificadores."
O Ensino de Paisagismo no Brasil
Os anos como professor de gestão ambiental e paisagismo conectaram Alexandre ao mundo acadêmico multidisciplinar que é o do paisagismo. Para ele, um curso técnico não traz a imersão que acontece no curso superior. Como engenheiro, ele conta que durante sua formação faltaram algumas noções de perspectiva, história da arte e volumetria, que servem de base para um paisagista. Esse conhecimento ele buscou fora da faculdade, por exemplo, sobre obra civil, porque o projeto paisagístico envolve todo o desenvolvimento exterior: piscina, área gourmet, arrimos, terreno, implantações... Tal como para o arquiteto falta muita base em solo, vegetação, desenvolvimento de pragas, e toda uma série de informações que você precisa para fazer um jardim funcionar. Talvez um curso superior de paisagismo possa vir a englobar todas essas áreas, mas para ele, seria uma especificação muito grande entrar numa faculdade somente de paisagismo.
Clima, Cultivo e Dificuldades
"O Brasil é um país muito bom, porque ele tem tempo bom o tempo todo em quase toda a região. Você tem extremos de temperaturas mais quentes ou mais frias, mas nada que impeça movimento, que venha uma neve e acabe com tudo. Por outro lado, você precisa entender um pouco de cada formação vegetal para poder saber fazer um paisagismo sustentável, senão você fica preso em meia dúzia de plantas, e projetar no Rio Grande do Sul é diferente de projetar em Brasília, projetar no Pará ou projetar em São Paulo... Entender essas especificidades é um pouco mais complexo", afirmou Alexandre. Quando comparado com o exterior, o paisagismo brasileiro pode ser considerado de ponta, sem diferença técnica ou visual, perdendo um pouco apenas pela falta de estrutura nas fábricas e poder público.
Adicionalmente a isso, a vegetação arbustiva e forrações tem um pouco mais para avançar. Embora tenha uma produção muito abrangente, que melhorou bastante com o tempo, a especificidade de floras e climas talvez permitiria uma diversidade maior de plantas ornamentais. Nem todas as plantas são encontradas para serem comercializadas, conta ele. Tal problema pode ser solucionado com a ampliação do catálogo de viveiristas, assim como paisagistas fazerem maior uso dessas plantas.
Dica para os Profissionais
Por fim, Alexandre deixa conselhos importantíssimos para os paisagistas. Um iniciante deve:
"Ser observador e curioso ao extremo, além de estudar para poder realmente se desenvolver. A observação é muito importante para entender o que é feio e o que é bonito. Às vezes você pode até não saber explicar, num primeiro momento, por não ter o estudo, mas você já começa a ter uma formação estética na cabeça, e começa a entender a estrutura das coisas. Para isso você precisa ler muito e ver muito também."
Já para quem está na área há mais tempo e quer aprimorar seu trabalho ou impulsionar suas vendas, ele indica:
"Você precisa identificar o nicho que você trabalha, tentar sempre ser o mais inovador dentro do seu nicho, ter ímpeto para resolver problemas e trabalhar toda a cadeia de venda. Para cada nicho que você trabalha, tem uma certa concorrência. Então, você precisa melhorar para poder oferecer algo mais variado, mais técnico. Abraçar a coisa realmente como um negócio, onde você tem venda, implantação, análise pós-venda e acompanhamento. Você tem que se organizar e ter paciência, porque fazendo bem-feito e com seriedade, o resultado vai chegar."
Assista a entrevista completa:
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