Farmacognosia: Uma Interdisciplinaridade no Estudo dos Princípios Ativos Naturais
Autor: Matheus Augusto P. Leôncio - Data: 05/11/2024
A Farmacognosia é um ramo interdisciplinar das Ciências Farmacêuticas que abrange diferentes áreas de estudo com o objetivo de investigar os princípios ativos de origem vegetal ou animal. Integrando campos como a botânica, antropologia, farmacologia e agronomia, essa disciplina busca compreender as propriedades terapêuticas de substâncias naturais, explorando seus potenciais para desenvolver novos medicamentos e tratamentos.
Derivado do grego pharmakon (fármaco) e gnosis (conhecimento), o termo “Farmacognosia” foi introduzido em 1811 pelo médico austríaco Schmidt. Ele define uma ciência multidisciplinar voltada para o estudo das propriedades biológicas, bioquímicas, físicas e químicas dos fármacos naturais, com o intuito de identificar compostos com potencial terapêutico e contribuir para o desenvolvimento de medicamentos eficazes e seguros.
Drogas Vegetais:
As partes secas e estabilizadas de plantas medicinais, conhecidas como drogas vegetais, contêm substâncias químicas com ação terapêutica e são preparadas em diferentes formas, como pó, folhas inteiras ou rasuradas. Um exemplo é o Guaco (Mikania glomerata), cujas folhas pulverizadas são amplamente utilizadas devido aos seus benefícios medicinais. Após etapas de preparação, essas drogas vegetais podem ser usadas em diversas formas na indústria farmacêutica para promover a saúde.
Figura 1 : Droga vegetal extraída da Guaco.
Arquivos de Fiocruz
Exemplos de Plantas Medicinais:
Figura 2: O Guaco (Mikania glomerata) é uma trepadeira que pertence a família Asteraceae, ela é valorizada na indústria farmacêutica pela presença de Cumarina em suas folhas. Esse marcador químico possui propriedades antibióticas, anti-inflamatórias e broncodilatadoras, sendo usado como anticoagulante. Comumente, as folhas de Guaco são preparadas em forma de extrato, xarope ou infusão para tratar asma, bronquite e tosse. Contudo, seu uso é contraindicado para crianças menores de um ano e gestantes devido ao efeito anticoagulante.
Figura 3 : Estrutura química da Cumarina.
Arquivos de Funez
Figura 4: A Ginkgo biloba é nativa da China e pertencente à família Ginkgoaceae, a árvore conhecida como “Árvore-dos-tempos” contém quercetina, um flavonoide com atividades antioxidante, anti-inflamatória, antitumoral e antiviral. A quercetina ajuda na prevenção de doenças crônicas, neurodegenerativas e distúrbios metabólicos e também está presente em alimentos como maçã, trigo sarraceno, acerola e pimentão.
Figura 5: Estrutura química da quercetina.
Arquivos de Samuele Papeschi
Outras Fontes Naturais:
Embora as plantas sejam o foco principal, a farmacognosia também estuda outros organismos, como fungos, bactérias e seres marinhos. A disciplina tem a responsabilidade de identificar e isolar compostos bioativos presentes em diferentes fontes naturais. Muitos dos medicamentos modernos têm sua origem em produtos naturais, e pesquisas contínuas frequentemente descobrem novas moléculas com potencial terapêutico, trazendo benefícios significativos para a medicina.
Fitoterápicos e Controle de Qualidade:
Os medicamentos derivados de plantas medicinais, conhecidos como fitoterápicos, dependem fortemente da farmacognosia, que auxilia na escolha das matérias-primas, determinação das doses eficazes, comprovação da eficácia terapêutica e segurança dos produtos. A análise rigorosa das matérias-primas vegetais garante qualidade, autenticidade e pureza dos fitoterápicos e suplementos naturais, contribuindo para uma prescrição segura e responsável, além de aumentar a confiança dos pacientes nos benefícios dessas substâncias.
A Farmacognosia no Brasil:
No Brasil, a rica biodiversidade vegetal tem incentivado instituições e centros de pesquisa a se concentrarem na avaliação de plantas medicinais ou de potencial medicinal. Esse enfoque faz da Farmacognosia uma área de grande relevância nacional, permitindo que o país aproveite ao máximo sua flora única e diversificada. Muitos pesquisadores exploram fontes animais e marinhas e investigam métodos biotecnológicos para transformar biomassa em produtos industriais e farmacêuticos. Essas inovações também incluem esforços para desenvolver práticas sustentáveis que preservem o meio ambiente.
De acordo com a Revista Brasileira de Farmacognosia, estudar uma planta “ é definir sua identidade, é descrever sua morfologia como também sua anatomia, é conhecer sua origem e seu modo de produção, é analisar sua composição química e os fatores que podem fazê-la variar, é apreciar sua qualidade e os métodos de controle, é conhecer a estrutura e propriedades dos princípios ativos como também a sua atividade farmacológica: indicações, contra-indicações, efeitos secundários e interações medicamentosas ”.
Quando uma espécie possui propriedades medicinais, como a Ginkgo biloba, essa característica é destacada no Catálogo da AuE Software, que descreve a utilidade medicinal das plantas além do paisagismo, reforçando a importância da Farmacognosia no uso consciente e eficaz dos recursos naturais.
Figura 6: AuE LandCatalog.
A Farmacognosia, ao integrar conhecimentos de diversas áreas, desempenha um papel fundamental na descoberta e desenvolvimento de medicamentos baseados em produtos naturais. Esse campo, especialmente relevante em países com alta biodiversidade como o Brasil, contribui não apenas para a farmacologia moderna, mas também para a preservação e valorização do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais. Com seu foco em garantir a eficácia, segurança e qualidade dos fitoterápicos, a Farmacognosia continua a ser essencial para avanços terapêuticos e para o uso sustentável dos recursos naturais em benefício da saúde humana.
Referências:
Quais as evidências científicas para o uso do Guaco na Atenção Primária à Saúde?
Entenda o que é Farmacognosia, e sua aplicação no ramo da Farmácia!
O que é Farmacognosia?
Planta medicinal e droga vegetal
Mudanças e crescimento
Veja Também:
História e Evolução do Hibridismo Vegetal: A Rosa como Protagonista
As mudanças climáticas e seus impactos na vegetação
Plantas Medicinais de Minas Gerais: Riscos e Boas Práticas na Bacia do Rio Pandeiros
Contrabando de Plantas: Uma Ameaça à Biodiversidade
Anterior Próximo