História e Evolução do Hibridismo Vegetal: A Rosa como Protagonista
Autor: Matheus Augusto P. Leôncio - Data: 03/09/2024
Os estudos sobre fertilização, polinização e criação de híbridos vegetais datam de 1760, sendo o botânico alemão Joseph Gottlieb Kölreuter um dos principais nomes nessa área. Kölreuter conduziu milhares de experimentos com plantas, revelando o potencial para a formação de híbridos através do cruzamento de espécies geneticamente próximas. Seu primeiro híbrido foi uma variante do tabaco, resultado do cruzamento entre Nicotiana rustica e Nicotiana paniculata. Este novo vegetal, que ele apelidou de "mula estéril", foi o primeiro híbrido criado em laboratório, incapaz de se reproduzir por não possuir flores nem sementes. Tentativas subsequentes de cruzamento levaram Kölreuter a obter a primeira geração de híbridos verdadeiros F1 (Híbrido simples), através do cruzamento das espécies Dianthus barbatus e Dianthus caryophyllus. Esses híbridos F1 foram posteriormente cruzados, gerando novas gerações, como F2 (cruzamento entre híbridos simples F1), e assim por diante, até chegar à quinta geração, F5 (geração subsequente obtido pelos cruzamentos anteriores).
Rosa x alba L. :
É um antigo híbrido dos jardins europeus que tem sua origem pouco certa ainda. Em 1873, a planta foi descrita como mistura de rosa-brava Rosa dumetorum ( corymbifera ) e Rosa gallica, mas tempo depois sugeriram que a R. alba era Rosa gallica, Rosa arvensis e algum membro de flor branca do grupo Canina, como a Rosa canina, por exemplo.
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Diferentemente dos animais, na natureza, é comum encontrar híbridos naturais entre plantas. As plantas superiores, como gimnospermas e angiospermas, possuem mais de dois cromossomos homólogos, permitindo uma maior variedade de combinações entre espécies com diferentes números de cromossomos pares.
Um exemplo notável é o híbrido natural fértil encontrado nas orquídeas da Mata Atlântica, resultante do cruzamento entre Epidendrum fulgens (24 cromossomos) e Epidendrum puniceolutem (52 cromossomos). As diferenças entre as plantas parentais são sutis externamente, com flores vermelhas ou amarelas, enquanto as híbridas podem apresentar uma coloração alaranjada com pontos vermelhos.
Quando falamos em flores, a rosa é uma das primeiras que nos vêm à mente. Desde sempre, as roseiras se destacam entre as plantas ornamentais, sendo hoje a espécie florífera mais apreciada no mundo. Seu cultivo é registrado há milhares de anos, atravessando épocas e civilizações. Atualmente, as rosas são amplamente utilizadas em ocasiões especiais, como o Dia dos Namorados, formaturas e aniversários. O Brasil é um dos maiores produtores de rosas para corte, atendendo tanto o mercado interno quanto o externo, com grande potencial para expansão. No Rio Grande do Sul, a rosa é a principal flor de corte, cultivada em 160 unidades de produção, das quais 51% em estufas plásticas e 49% a céu aberto. Anualmente, são comercializadas cerca de 5 milhões de dúzias de rosas na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP).
Rosa X alba var. carnea hort.:
Variedade da R. alba de flores rosa claro e branco.
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O gênero Rosa é conhecido por sua complexidade evolutiva, em parte devido à hibridização. O hibridismo de rosas é uma prática aperfeiçoada ao longo dos séculos, refletindo a busca contínua por novas variedades que combinam beleza, resistência e inovação. Desde a antiguidade, com egípcios e romanos cultivando variedades distintas, até o século XIX, quando o hibridismo moderno começou a se desenvolver, jardineiros e botânicos têm cruzado espécies e variedades para criar rosas com características únicas. Esses cruzamentos resultaram em uma impressionante diversidade de cores, formas e fragrâncias, evidenciando a engenhosidade humana e a capacidade de adaptar e melhorar a natureza.
Atualmente, existem aproximadamente 4.266 espécies de rosas descritas, o que destaca a complexidade do gênero. Sabe-se que as rosas foram introduzidas no Brasil pelos jesuítas entre 1560 e 1570, mas foi em 1829 que elas foram plantadas pela primeira vez em jardins públicos. As rosas que conhecemos hoje são o resultado de séculos de mutações espontâneas e hibridizações. A família Rosaceae, que inclui o gênero Rosa, possui 95 gêneros, muitos dos quais têm grande importância econômica, como Malus (maçã), Prunus (pêssego, nectarina, ameixa e damasco), Fragaria (morango) e Rubus (amora e framboesa). Além de sua função ornamental, algumas dessas plantas possuem propriedades fitoterápicas e são utilizadas na alimentação, o que aumenta seu valor e interesse.
Rosa X andersonii:
Híbrido descrito pela primeira vez em 1840, seu parentesco é incerto mas acredita-se que é uma variedade da R. arvensis.
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A hibridação controlada, ou cruzamento fecundo de indivíduos de espécies diferentes, visa à recombinação alélica (troca e mistura de genes), permitindo a transferência de características desejáveis de um genótipo para outro e a indução de novas características inexistentes nos genitores. O gene é o principal responsável pelo armazenamento e reprodução dos dados genéticos de um indivíduo.
Os cruzamentos podem ser classificados de acordo com a diversidade genética dos genitores:
Cruzamento convergente: há moderada ou baixa variação genética entre os genitores.
Cruzamento divergente: ocorre quando os genitores possuem diferenças genéticas significativas. Em programas de melhoramento, a seleção dos genitores e o tipo de cruzamento são decisões cruciais.
Os principais tipos de cruzamento incluem:
Cruzamento simples: cruzamento de dois genitores (A/B)
Cruzamento duplo: cruzamento de dois híbridos simples ((A/B)/(C/D)).
Cruzamento triplo: cruzamento de um genitor com um híbrido simples (A/B//C).
Cruzamento complexo: envolve o cruzamento de quatro ou mais genitores.
Retrocruzamento: cruzamento de um híbrido simples com um de seus genitores (A/B/B ou A/B//A).
Embora a cultura de misturar espécies seja difundida, não basta apenas criá-las; é necessário registrá-las e patenteá-las (no caso de cultivares) para garantir que o consumidor tenha acesso a informações precisas sobre a planta. Sites científicos, como o RHS e o HelpMeFind , são fontes ideais para validar a nomenclatura e as informações sobre cultivares de rosas. Ao cadastrar uma variedade cultivada nova no banco de dados, a AuE Software tem como padrão conferir se a nomenclatura da planta esta de acordo com seu registro, protegendo assim as informações do cultivar.
É evidente que o hibridismo desempenha um papel fundamental na evolução e diversificação das plantas, permitindo não apenas a criação de novas variedades ornamentais, como as rosas, mas também a introdução de características desejáveis que contribuam para a adaptação e sobrevivência das espécies. A contínua pesquisa e desenvolvimento de técnicas de cruzamento controlado refletem a busca incessante por inovação no mundo botânico, garantindo que novas gerações de plantas possam não só encantar por sua beleza, mas também desempenhar papéis importantes em diversas áreas, como a alimentação, medicina e economia. Assim, o hibridismo não é apenas um testemunho da engenhosidade humana, mas também um processo vital para o futuro da biodiversidade vegetal.
Referências:
Quando os híbridos são férteis
Plantas híbridas
A hibridação no melhoramento genético do arroz
irrigado em Santa Catarina
ORIGEM, EVOLUÇÃO E HISTÓRIA DAS ROSAS CULTIVADAS
Rosas são as flores de maior popularidade e comercialização
Veja Também:
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