Mudança de Nomes Científicos de Plantas por Conta de Termos Racistas
Autor: Victor Campanate - Data: 28/08/2024
O nome científico de mais de 200 espécies de plantas está sendo alterado por conter um termo considerado racista e ofensivo. A decisão foi tomada por um comitê de especialistas durante o Congresso Botânico Internacional (IBC), realizado em Madri, Espanha, no mês de julho. A proposta foi inicialmente apresentada pelos botânicos Gideon F. Smith e Estrela Figueiredo, da Universidade Nelson Mandela, em 2021, e só foi receber a devida atenção agora. Esta é a primeira vez que nomes de espécies são alterados por razões sociais e não científicas. A decisão não foi unânime: dos 556 botânicos votantes, 351 foram a favor e 205 contra.
A partir do encerramento do evento, em 27 de julho, os nomes das plantas que continham a raiz “caffr” – como cafra, caffra, cafrorum e cafrum – foram alterados para “afra”, “afrorum” e “afrum”. Esses termos pejorativos eram usados para identificar espécies originárias da África. Em árabe, a palavra “caffra” é um insulto étnico que significa “infiel” e era usada para se referir a não muçulmanos. Na África, o termo também passou a ser usado para designar escravos negros africanos e é considerado uma calúnia racial extremamente ofensiva, inclusive passível de prisão em algumas regiões.
Ainda existem muitas outras nomenclaturas consideradas pejorativas, mas elas não foram analisadas neste congresso. No entanto, foi designado um comitê especial para revisar novos nomes de espécies a partir de 2026, com o objetivo de evitar que termos depreciativos sejam registrados.
No Brasil, uma pesquisa pioneira resultou em uma extensa lista de nomes científicos botânicos considerados racistas, colonialistas e ofensivos. A base de dados foi criada por Giselle Beiguelman, artista e professora da Faculdade de Arquitetura da USP, para a exposição “Botannica Tirannica”.
A exposição aborda a colonização de corpos, territórios e imaginários, incluindo a botânica. Muitas plantas, anteriormente nomeadas por povos originários, foram renomeadas com termos misóginos, racistas e preconceituosos, perpetuando a violência simbólica contra identidades não normativas.
Giselle Beiguelman, ao receber uma muda de Tradescantia zebrina (conhecida como “judeu errante”), mapeou centenas de plantas com nomes pejorativos e as remixou para criar um jardim decolonial. Este jardim articula reflexões políticas e estéticas sobre preconceito, representação e a relação entre cultura e natureza.
A exposição destaca temas como intolerância, perseguição, resistência e resiliência, centrais na experiência judaica e relevantes no contexto contemporâneo. “Botannica Tirannica” é uma colaboração entre a artista e o Museu Judaico, com curadoria de Ilana Feldman, e visa construir novos mundos e jardins coletivamente.
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