O lado Paisagismo das Olimpíadas
Autor: Luiz Pedro de Melo Cesar - Data: 12/08/2016
CESAR, Luiz Pedro de Melo Cesar
Arquiteto, Doutor em Desenvolvimento Sustentável, Professor Adjunto da FAU/
Colaborador da EPB - Escola de Paisagismo de Brasília
O artigo "O lado Paisagismo das Olimpíadas: Caso do Parque Olímpico, Campo de Golfe, Parque Radical e Parque Madureira" abarca as estratégias e paradigmas adotados para algumas instalações esportivas construídas paras os Jogos Rio 2016 que evidenciam preocupações com a recuperação de áreas degradadas e reconstituição de ecossistemas nativos de mata atlântica.
Desde o início, a questão da sustentabilidade esteve relacionada ao processo de planejamento dos Jogos Rio 2016.
A estratégia de sustentabilidade abarca vários objetivos consolidando projetos e ações em várias áreas. Apesar da expectativa criada (e frustrada) em alguns casos, como o da Baía de Guanabara, vários progressos foram viabilizados. Entende-se que já há impactos positivos sociais e ambientais.
Talvez uma das atuações mais bem sucedidas tenha sido a implantação de um paisagismo mais ecológico priorizando espécies nativas e recuperando ecossistemas degradados, entendido como um legado tangível, que ficará na estrutura urbana da cidade do Rio de Janeiro, distribuídos nos bairros da Barra da Tijuca, Deodoro e Madureira.
Como exemplo emblemático da adoção de novos paradigmas paisagísticos, a recuperação da faixa marginal de proteção da Lagoa de Jacarepaguá (no trecho do Parque Olímpico da Barra) adotou o modelo proposto por Fernando Chacel no Parque Gleba E.
Os mesmos princípios foram adotados na área que se encontrava degradada e ocupada. A área tem cerca de 73.000 m² e o processo utiliza vegetação nativa de acordo com as fitofisionomias originais. Cerca de 30.000 m² foram reflorestados por espécies de manguezal, ficando o restante destinado à vegetação de restinga típica das áreas de transição entre o solo úmido e o mais seco
A recuperação é considerada a maior obra de restauração ambiental já empreendida junto às orlas das lagoas da Cidade. Sua complexidade engloba a reconformação da topografia e a compatibilização com os níveis de maré.
Com o ecossistema recuperado a área servirá de suporte ecológico para espécies da fauna local composta principalmente por mamíferos, répteis e avifauna que utilizam estes espaços para nidação, assim retomando a funcionalidade ecológica.
Fig. 1 - Ilustração do esquema deplantio na recuperação das margens do Parque Olímpico da Barra.
O Campo Olímpico na Barra da Tijuca é outro caso. Apesar das manifestações e de processos judiciais para impedir sua construção, o campo foi construído.
O campo está principalmente sobre uma área degradada de extração de areia, outra parte está dentro de uma unidade de conservação, razão pela qual gerou muita polêmica. No entanto, o projeto assumiu princípios paisagísticos voltados a recuperação ambiental dos ecossistemas de restinga e manutenção dos manguezais pré existentes (Fig. 2).
| O projeto de paisagismo ecológico ganhou o prêmio Green Star Award 2016, um reconhecimento aos campos que se destacam em termos de proteção ambiental. | | |
O prêmio foi devido "o campo ter sido construído seguindo rígidos parâmetros ambientais que contribuíram para o crescimento da biodiversidade na área.
" A obra aumentou em 167% a presença de vegetação nativa e mais do que dobrou a fauna local desde junho de 2013, atraindo corujas-buraqueiras, jacarés de papo amarelo, capivaras entre outras espécies de aves, mamíferos, répteis e anfíbios. Adicionalmente a fertilização do solo é orgânica, sendo proibida a utilização de produtos químicos."
Essa é a primeira vez que o prêmio anual vai para fora dos Estados Unidos.
Fig. 2 - Vista aérea do Campo Olímpico de Golfe da Barra.
A região de Deodoro consiste em outra Zona Olímpica com forte apelo ambiental, ao mesmo tempo que é vulnerável à expansão urbana e a especulação imobiliária, impedida até o momento pela área militar.
A área dos Jogos Rio 2016 possui 306,5 ha e comporá no futuro o Parque Radical voltado ao lazer da região. A estratégia de construção do parque foi voltada a mitigar os impactos ambientais das construções dos equipamentos que ficarão como estruturas de lazer para a população, já tendo sido utilizada no início do ano de 2016 (Fig. 3).
Adicionalmente o parque está sendo projetado com bosques de vegetação nativa dos ecossistemas locais. O Parque Radical de Deodoro será o segundo maior parque urbano da cidade, perdendo apenas para o Parque do Aterro do Flamengo.
Fig. 3 - Lago da Arena de Canoagem Slalom utilizada pela população durante o verão de 2016.
O Parque Madureira é outro exemplo de paisagismo vinculado aos Jogos. O parque foi criado para a celebração dos Jogos e já é uma opção de lazer para a zona norte da cidade.
O Parque possui 93.553,79 m² com cerca de 60 m de largura por 1.350 m de extensão, resultante da compactação de linhas de transmissão de energia (concessionária Light).
Atualmente já é o terceiro maior parque urbano da cidade e foi o primeiro parque público do Brasil a ter conteúdo e projeto certificados pelo selo AQUA de construção sustentável
(Fig. 4).
O paisagismo implementado segue parâmetros internacionais, assumindo a qualidade dos espaços e dos materiais utilizados como parãmetros a serem seguidos no futuro.
Espécies nativas e exóticas estão distribuídas por 6 zonas voltadas ao lazer ativo e passivo da população. Neste contexto, se destaca a área de interação com a água, local que assumiu o
papel de "praia da zona norte carioca."
Fig. 4 - Vista do Parque Madureira.
Finalizando, é possível concluir que por um lado o paisagismo foi assumido no planejamento dos Jogos como um elemento estruturante, inclusive com um comprometimento com questões ambientais e sociais. Por outro lado estabelece novo padrão a ser seguido pelas autoridades na construção e qualificação do espaço urbano.
Palavras-Chaves:
Arquiteto, Doutor em Desenvolvimento Sustentável, Professor Adjunto da FAU/
Colaborador da EPB - Escola de Paisagismo de Brasília
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